sexta-feira, 26 de junho de 2015

ISABEL DA NÓBREGA: 90 ANOS



Isabel da Nóbrega completa hoje 90 anos.

Tive o privilégio de conhecer Isabel da Nóbrega, há mais de meio século, por intermédio de um amigo comum, o escultor Lagoa Henriques. E aí começou uma amizade que, até hoje, se manteve inalterável. Ao longo destes anos, pude apreciar as suas qualidades de carácter, o valor da sua amizade, o seu espírito de solidariedade, para além, evidentemente, do elevadíssimo nível intelectual que especialmente a notabiliza.

Escritora, jornalista, também dramaturga (a sua peça O Filho Pródigo foi representada em 1954 no Teatro Nacional D. Maria II), Isabel da Nóbrega não publicou muitos livros, distinguindo-se a sua obra mais pela qualidade do que pela quantidade, ao contrário do que, infelizmente, se verifica nos nossos dias. As crónicas que manteve, durante largos anos, em jornais e na rádio, constituem exemplos de como deveria ser o jornalismo em Portugal. Aliando a formação à informação, trataram de grandes e pequenos problemas, dedicando a uns e a outros o interesse que todos merecem. Sem esquecer os programas que concebeu e apresentou na RTP e as muitas intervenções avulsas produzidas nos mais variados palcos em que foi solicitada.


Carlos Amado, Eu, Isabel da Nóbrega e Lagoa Henriques no jardim do atelier do Mestre, em 25 de Junho de 1989, véspera do 64º aniversário de Isabel

O seu romance Viver com os Outros, que recebeu em 1965 o Prémio Camilo Castelo Branco da então Sociedade Portuguesa de Escritores (equivalente ao actual Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, que sucedeu àquela instituição) constitui, pelo tema e pela forma, um marco na história da literatura portuguesa contemporânea.

Na sua carreira literária, como na sua vida, sempre Isabel da Nóbrega se preocupou com o seu próximo, fosse rico ou pobre, culto ou inculto, sempre "viveu com os outros", partilhando alegrias e tristezas. sempre dedicou a sua atenção a aspectos da vida que tantas vezes nos passam despercebidos. Ainda hoje, a Isabel continua a manter um gosto pela vida e uma energia anímica que provoca o assombro (e até talvez uma ponta de inveja) dos mais novos. Sempre disponível para os grandes eventos como para as modestas tarefas do quotidiano, sempre pronta a ajudar os seus amigos nas horas menos boas. 

Por tudo o que escrevi, e também por tudo o que não escrevi (para parafrasear o saudoso Eduardo Prado Coelho), quero aqui exarar a minha profunda admiração por Isabel da Nóbrega, que é uma verdadeira força da natureza, reiterar-lhe a minha amizade, felicitá-la pelo seu aniversário e formular os mais sinceros votos para que possa, ainda por muitos anos, comemorar esta data.
 

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