sexta-feira, 26 de junho de 2015

A GLOBALIZAÇÃO DOS ATENTADOS




Os atentados de hoje, na Tunísia, no Kuwait e em França, confirmam aquilo que há muito sabíamos. Na era da globalização, entusiasticamente incensada e amplamente defendida pelos poderosos interesses de uma minoria dominante, haveria de chegar a hora em que o terrorismo organizado, que já teve os seus dias de glória na Europa (Espanha, Reino Unido, Itália, Alemanha), ainda que defendendo (ou afirmando defender outros interesses) alargaria a sua esfera de acção a todo o mundo.

Actos terroristas sempre houve, mas a sua dimensão, a sua periodicidade, a sua visibilidade eram menores. Os ataques dos últimos anos trazem a marca do islão, mas não acredito nas motivações religiosas dos seus autores. Alguma coisa não bate certo nos atentados dos últimos tempos, o que indiscutivelmente convida à reflexão.

Não é este o local ou sequer o momento para esmiuçar as contradições da onda de terror mais recente, mas conviria perceber, por exemplo, como é que, de um dia para o outro, surgiu em terras da Síria e do Iraque um "estado" cujo território é, segundo somos informados, superior à superfície de Portugal.

O mal-estar no Mundo Árabe não é de hoje nem de ontem, remonta à queda do Império Otomano. A partilha do Médio Oriente, gizada por Sykes e Picot, com o auxílio (quiçá inadvertido do coronel Lawrence), a Declaração Balfour, a instalação da família Saudita na Península Arábica em detrimento da Família Hachemita, a colonização franco-britânica do Norte de África, a criação do Estado de Israel, e por aí fora, alimentaram gerações de ressentimentos, de humilhações, de revoltas.

 No entretanto, tivéramos a guerra civil da Argélia, com um monstruoso cortejo de vítimas, a guerra civil no Líbano e os sucessivos ataques de Israel contra o povo palestiniano, assumindo um carácter genocidário.

A cereja em cima do bolo seria colocada por George Bush e o seu bando, com a invasão do Iraque em 2003, com a descarada colaboração do Reino Unido (sempre a sinistra figura de Blair) e de outros países. Por fim, as "primaveras árabes" (comandadas por quem?), o ataque à Líbia defendido e consumado por Sarkozy, o pretendido ataque à Síria desejado por Hollande.

E também a tragédia imparável dos migrantes oriundos do Levante e do continente africano.

O presente terrorismo islâmico não é religioso, é político. E não será combatível pelos meios tradicionais utilizados pelo Mundo Ocidental, cujos políticos não possuem a estatura nem a idoneidade indispensável para conduzir qualquer acção eficaz e digna, como se comprova amplamente com as presentes negociações com a Grécia.

Temo mesmo que já não saibam aplicar qualquer receita útil. Até porque deixaram passar demasiado tempo. Restar-lhes-á meditar sobre a expressão tantas vezes utilizada na ópera italiana, mormente em Verdi: "È tardì"!


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