sexta-feira, 28 de novembro de 2014

AS PREFERÊNCIAS SEXUAIS DO REI MOHAMED VI




O ex-tenente do exército marroquino Abdelilah Issou, refugiado político a residir em Espanha, publicou há pouco mais de um mês um livro, Mémoires d'un soldat marocain - La Face cachée du royaume enchanté, em que regista não só a sua experiência ao serviço das Forças Armadas Reais mas igualmente outros aspectos da vida em Marrocos e onde procede a algumas revelações consideradas como segredo de Estado mas que, em grande parte, são, e sempre foram, do conhecimento da população e mesmo da opinião pública estrangeira mais familiarizada com aquele país magrebino. Escusado será dizer que a venda do livro se encontra naturalmente proibida em Marrocos e não é fácil encontrá-lo algures, mesmo em França, onde foi editado.

Neste livro, Abdelilah Issou conta a sua história desde o ingresso na Académie Royale Militaire, em 1984, até à sua deserção do exército em 2000, inconformado com a prática política prosseguida no país e disposto a constituir e integrar uma rede de conspiradores para derrubar o regime alauíta. Talvez uma pretensão ingénua, confessemo-lo, já que Hassan II sobreviveu a duas tentativas bem organizadas de golpe de Estado, uma em 1971, no Palácio de Skhirat (Rabat), no dia do seu 42º aniversário, encabeçada pelo general Mohamed Medbouh com a participação de 600 cadetes da École Militaire de Harmoumou, que provocou mais de 100 mortos e 200 feridos entre os convidados do rei, a outra, em 1972, organizada pelo general Oufkir, em colaboração com alguns aviadores das Forces Royales Air que tentaram abater o avião real, quando Hassan II regressava de uma visita  a Paris e se preparava para aterrar em Rabat. Ambos os cabecilhas, além dos principais colaboradores, foram obviamente executados.

O autor, num livro aliás breve (menos de 200 páginas), descreve as missões que lhe foram confiadas ao longo do tempo em que serviu como oficial, por vezes com pormenores técnicos que tornam a leitura algo fastidiosa.

Alguns dos aspectos enfatizados são a corrupção sistémica do regime, desde o Palácio aos mais modestos servidores, o narcotráfico, tolerado e mesmo incentivado com o patrocínio das altas esferas, a questão do Sahara Ocidental, as relações exteriores, nomeadamente com Espanha, o terrorismo islamista e a "primavera árabe".

Portanto, poucas novidades para os estrangeiros (é a eles, sem dúvida, que o livro se destina) que sejam razoáveis conhecedores da realidade marroquina. Todavia, é no aspecto das vidas privadas que o livro suscitou algum ruído na imprensa internacional, ainda que a passagem mais relevante não constitua, também ela, uma revelação sensacional, já que aborda a presumível homossexualidade do rei Mohamed VI. A generalidade dos marroquinos está ao par do facto, ainda que tal seja um assunto tabu no país e sobre o qual só se fala com a maior discrição.

Mohamed VI

Desde os tempos em que o actual monarca era ainda príncipe herdeiro e tratado como Smit Sidi (nome dado ao primogénito do rei) que corriam rumores sobre as suas inclinações sexuais. Neste livro, Abdelilah Issou conta alguns pormenores porventura menos conhecidos: a ligação do então princípe herdeiro com um "amigo especial", Abderrahmane Alaoui, conhecido pelos íntimos como Bihmane, neto de um escravo negro que servira no Palácio, e que fora seu companheiro de infância. Segundo o autor, a homossexualidade de Mohamed VI sempre foi em Marrocos um "segredo de polichinelo". E são bem conhecidas as suas sucessivas deslocações, após a ascensão ao trono, ao Brasil e à República Dominicana, já que, segundo escreve Issou, o monarca nutre especial preferência pelos negros. Diga-se, de passagem, que poderia ter optado por Cabo Verde ou pelo Senegal, países bastante mais próximos, pois não teria ficado pior servido. Refere ainda o autor que a "boa sociedade" marroquina se preocupava sobretudo pelo facto de que, sendo oficialmente o monarca Comandante (ou Príncipe) dos Crentes (Amir al-Mu'minin), isto é o chefe espiritual dos seus súbditos não apenas muçulmanos mas igualmente cristãos e judeus (os crentes das religiões do Livro) e descendente do profeta Maomé, pudesse ter uma orientação gay. Não creio que os marroquinos em geral tenham especial preocupação pelas inclinações sexuais do seu soberano, de tal forma é para eles normal, especialmente entre os jovens, a prática de tal tipo de relações, como aliás acontece na generalidade dos países árabes: os turistas que o digam. E como igualmente se verifica  nos outros países do mundo (p. 94 e 95).

Sabemos todos que as três religiões monoteístas sempre mantiveram uma relação difícil e estranha com a sexualidade, em geral, e com a homossexualidade, em particular. Trata-se de uma obscura disposição da Torah, que a Bíblia e o Corão perfilharam, com intuitos que ainda hoje não são perfeitamente claros. Mas os tempos mudaram e não será por esse pormenor, mas pela sua governação, que Mohamed VI será julgado pelos seus súbditos.

O autor acrescenta, contudo, um detalhe que merece referência: a intimidade entre o príncipe herdeiro e Bihmane tornou-se de tal forma evidente que Hassan II, já próximo do seu fim, terá ordenado ao todo poderoso ministro do Interior, Driss Basri, a eliminação do rapaz, que viria a morrer pouco depois num estranho acidente de viação, entre Rabat e Kenitra. Recorde-se, e o autor não o refere, que um dos primeiros actos da governação de Mohamed VI foi a demissão do dito ministro do Interior, uma personalidade comummente odiada pelos marroquinos, mas para a qual terá também contribuído, a confirmar-se a veracidade dos factos, o referido homicídio (p. 97).

Ainda duas notas de Issou, porventura menos conhecidas: uma, que Lalla Latifa Hammou Amahzoune, uma das mulheres de Hassan II, conhecida como a "mãe dos príncipes", seria amante de Hadj Mohamed Médiouri, guarda-costas e chefe da segurança pessoal do rei e demitido pelo filho após o falecimento do monarca. Latifa casou depois com Médiouri com quem vive hoje em Paris (p. 97 e 98).

A outra, que a princesa Lalla Fatima-Zohra, fiha do sultão Abdel Aziz IV e prima direita do rei Mohamed V (o avô de Mohamed VI) era lésbica e toxicodependente (p. 74).

Não se vislumbra assim um  muito particular interesse no livro recém-publicado, que mais parece uma tentativa de justificação do autor relativamente às suas actividades pretéritas ou, eventualmente, das que venha a desenvolver no presente e no futuro.


Sobre a monarquia xerifina, ou mais precisamente sobre os reis Hassan II e Mohamed VI, existem, sim, duas obras de relevante importância: uma, de Gilles Perrault, publicada em 1990 e que provocou uma tempestade nas relações franco-marroquinas: Notre ami le roi. A outra, mais recente, de Catherine Graciet e Éric Laurent, editada em 2012: Le Roi prédateur.


Acerca do livro de Perrault, um severo libelo acusatório do reinado de Hassan II, já se escreveram milhares de páginas. É um dos mais esclarecidos testemunhos sobre o reinado da figura controversa mas indubitavelmente carismática que foi o falecido monarca. Quanto a Le Roi prédateur, o livro debruça-se especialmente sobre a quase monopolização da economia marroquina por Mohamed VI, que quintuplicou a fortuna pessoal desde o seu acesso ao trono, mas a análise desses livros não cabe nos limites deste texto.



Mais recente ainda, publicado o mês passado, Mohammed VI, derrière les masques, de Omar Brouksy, é um balanço demolidor dos quinze anos de reinado de Mohamed VI. No prefácio, o inevitável Gilles Perrault escreve: «Le royaume de Hassan II, c'était le château de Barbe-Bleue. En comparaison, celui de "M6" serait plutôt celui de la Belle au Bois dormant avec au sous-sol la caverne d'Ali Baba».

Para lá de tudo isto, Marrocos é um país encantador.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

DVORAK, PARA SOBREVIVER AO PÂNTANO



Daniel Müller-Schott


A música sempre foi um salutar remédio para a alma. Especialmente em tempos sombrios.

O concerto desta noite na Fundação Gulbenkian pode testemunhá-lo. Foram executadas duas peças: o Concerto para Violoncelo em Si menor, op. 104, de Dvořák e a Serenade nº 1, em Ré maior, op. 11, de Brahms.




 (Mstislav Rostropovich toca o Concerto para Violoncelo no Teatro Real de Madrid, 1983. Orquestra Sinfónica da Radiotelevisão Espanhola sob a direcção de Miguel Ángel Gómez Martínez)



Muito bem, sem dúvida, a Serenade, mas o Concerto de Dvořák, uma peça que não é, infelizmente, muitas vezes tocada entre nós, foi absolutamente excepcional. O violoncelista alemão Daniel Müller-Schott é um intérprete famoso desta obra e o seu desempenho foi superlativo. A Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo inglês Paul McCreesh, reputado maestro, correspondeu ao elevado nível musical que se solicitava.

Aparte a chuva, uma grande noite.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

UM LIVRO INDISPENSÁVEL




Um livro indispensável nestes dias e que deve ser rapidamente adquirido.


domingo, 23 de novembro de 2014

JOSÉ SÓCRATES



 
De entre os incontáveis textos produzidos a propósito da detenção de José Sócrates, transcrevo o artigo de Pedro Marques Lopes, Uma Crise de Regime,  hoje, no "Diário de Notícias":
 
 

«1. Esta crónica já estava escrita, chamava-se “Telegramas do Manicómio”. Era acerca da única e exclusiva responsabilidade de Carlos Costa na solução encontrada para o BES e do facto dum Governo ter prescindido de ter uma palavra num assunto que dizia respeito a cerca de 20% da economia nacional, dum alto responsável da Administração Pública ter aparentemente sido constituído arguido por ter recebido um par de garrafas de vinho e alguém ter dito que se lhe devia dar uns euros, dum vice-primeiro-ministro que mostrou não saber distinguir um partido político duma empresa, dum presidente duma comissão parlamentar que combateu com um secretário de Estado pelo acesso a um microfone e de dois partidos que mudaram de opinião sobre um assunto em 24 horas.

Entre as 23h45, momento em que pus o ponto final na dita crónica, e a meia-noite e pouco, hora em que soube da detenção de José Sócrates, o país mudou. Melhor,  passamos a estar no meio da maior crise de Regime desde a normalização da nossa democracia.

O principal pilar duma democracia liberal é o de ninguém estar acima da lei. Ninguém. Nem quem a faz, nem quem a aplica, nem quem a fiscaliza. Mas, de boa-fé, não se pode pensar que é exatamente a mesma coisa deter um responsável por uma polícia, um ex-primeiro-ministro ou um cidadão que não tem, ou teve, responsabilidades nos destinos da comunidade. [...]

Até por isto se percebe que, sim, a lei é igual para todos mas que não há nada mais injusto do que tratar de igual modo situações diferentes. O que está, sobretudo, em questão na detenção do ex-primeiro-ministro é a possibilidade duma comunidade ter sido representada e conduzida por alguém que não tinha condições pessoais para o fazer, alguém que enganou os cidadãos ou a incapacidade dum sistema judicial fazer cumprir a lei, ou pior, esse sistema criar um caso desta gravidade sem indícios realmente sérios.

Qualquer uma destas situações é duma gravidade sem paralelo conhecido em Portugal.

[...] Bem gostava de em consciência pensar que seria possível ver as instituições a funcionar regularmente, de não assistir à construção de barricadas, de ver toda a gente preocupada em descobrir a verdade e não a sua verdade, mas estou cético, como, estou convencido, muita gente está. É também esse ceticismo generalizado sobre o resultado futuro deste e doutros casos, qualquer que seja o sentido, que mostra o quão estamos doentes como comunidade.

Qualquer que seja o desenlace deste processo as instituições democráticas saem fortemente abaladas. Agora sim, estamos perante uma verdadeira crise, a pior delas: uma crise do Regime. Nada ficará como dantes.

2. O homem mais poderoso do país deixou de ser um político ou um empresário. O homem que manda nisto tudo, o novo DDT, é Carlos Alexandre, o juiz ligado aos casos BPN, Furacão, Monte Branco, Vistos Gold e, agora, Sócrates. O poder político criou o Ticão e deu todo este poder a quem o dirige. É demasiado poder concentrado neste ou em qualquer outro homem
 
 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

UMA RÉCITA DE ANTOLOGIA




Assisti ao longo da minha vida a muitas representações do Rigoletto, de Verdi, em Portugal como no estrangeiro. Inclusive àquela em que participou Alfredo Kraus no Teatro Nacional de São Carlos. E tenho visto muitas outras em videocassettes e dvd's.

Confesso, todavia, que desconhecia uma gravação do espectáculo apresentado no Teatro Regio, de Parma, em 15 de Fevereiro de 1987, editada em dvd há uns anos pela Hardy Classic Video, após laboriosa reconstituição de uma filmagem "doméstica" então efectuada.



A imagem do produto proposto é francamente medíocre, quer técnica, quer artisticamente falando, e certamente não poderia ser  de outra forma.

 Mas, musicalmente, este Rigoletto de Parma é um espectáculo de antologia. Com Leo Nucci, no protagonista, Alfredo Kraus, no Duque de Mântua e Luciana Serra , em Gilda, e o elevado nível dos restantes intérpretes, a produção de Parma figura sem dúvida entre as melhores realizações desta ópera nas últimas décadas.



Notável execução da partitura pela Orchestra Sinfonica dell'Emilia Romagna "Arturo Toscanini", dirigida pelo maestro Angelo Campori e encenação "à época", cenários e figurinos de Pier Luigi Samaritani, que não dispondo dos recursos dos nossos dias evitou um desses abomináveis aggiornamenti gratuitos com que hoje nos brindam "conceituados" encenadores.



As entusiásticas ovações do público recordaram-me outros tempos no Teatro Nacional de São Carlos.



QUE SAUDADES!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

UM GOLO PROVIDENCIAL



O jogo de ontem Portugal/Argentina, em Old Trafford, com Cristiano Ronaldo e Messi ausentes na 2ª parte, saldou-se pela vitória nacional por 1-0, a primeira em 42 anos contra a selecção argentina.

Salvou a honra da casa o jovem Raphaël Guerreiro, de 20 anos, jogador do clube francês Lorient, que, no minuto final, na sua primeira internacionalização, assegurou a vitória portuguesa.


Um rapaz prometedor, filho de pai português e de mãe francesa, que começou a jogar, como junior, aos 12 anos, no Clairefontaine, de Le Blanc-Mesnil (Seine-Saint-Denis), localidade onde nasceu.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

OS VISTOS DOURADOS





O recentíssimo escândalo que envolve a atribuição de "vistos dourados", ou mais precisamente a presumível ocorrência de situações de corrupção na concessão desses vistos, ofusca um problema muito mais delicado e que o ruído da comunicação social impede de analisar convenientemente.

Se, naturalmente, toda a corrupção deve ser castigada, o que importa verdadeiramente discutir, aqui e agora, mais ainda do que as oportunidades que tal procedimento faculta a eventuais lavagens de dinheiro e branqueamento de capitais, é a própria existência dos referidos vistos.

Trata-se de uma questão de princípio, e de princípios, coisa hoje infelizmente tão arredada do espírito dos nossos governantes.

É certo que a concessão destes vistos milionários não é exclusiva de Portugal. Vários outros países europeus criaram este mecanismo expedito de arrecadar fundos, com despiciendos resultados no desenvolvimento das nações mas bastante atractivo para operações de carácter eventualmente menos lícito.

O que realmente se afigura obsceno é a possibilidade de mercadejar a instalação num país, e quiçá mesmo a obtenção de uma nacionalidade, a troco não direi de trinta dinheiros (embora a simbologia permaneça) mas de astronómicas quantias que um cidadão normal jamais auferirá em toda a sua vida.

Sabemos todos que a concessão de vistos "normais" é objecto do mais rigoroso escrutínio e implica a ultrapassagem dos mais inusitados obstáculos e o preenchimento das mais inconcebíveis  formalidades quando os requerentes são de modesta condição e mais não aspiram do que a trabalhar honestamente num país de acolhimento, tantos deles que são fugidos de guerras e guerrilhas para as quais nada contribuíram e pelas quais é grande a responsabilidade do mundo ocidental.

As hordas de imigrantes ilegais que atravessam o Mediterrâneo, com o risco da própria vida, em busca de uma existência melhor e, principalmente, mais segura, são rechaçadas e devolvidas, sempre que identificadas, aos países de origem.

O Velho Continente, apesar da procela que o assola, é considerado ainda por muitos (por aqueles que fogem do Médio Oriente, do Norte de África, da África Sub-Sahariana, da Ásia) o único destino que julgam capaz de os abrigar da miséria, da fome, da violência, da morte.

Há tempos, o Papa Francisco deslocou-se a Lampedusa, porto tradicional de chegada de milhares de clandestinos, pelo menos daqueles que não sucumbem nas águas revoltas do Mare Nostrum, e, num grito de alma, apelou aos líderes ocidentais para providenciarem ao acolhimento de tão infelizes criaturas. Foi, então, politicamente muito aplaudido mas o resultado desta sua inédita diligência foi nenhum.

Argumenta-se que não é possível receber mais imigrantes em período de crise sistémica tão aguda como aquela que atravessamos. Mas devemos olhar não só para o presente mas para o passado e para o futuro.

Registei aqui a declaração de Umberto Eco, em 23 de Janeiro de 1997, num convénio organizado pelo município de Valência sobre as perspectivas do terceiro milénio: «Os fenómenos que a Europa tenta ainda enfrentar como casos de emigração são pelo contrário casos de migração. O Terceiro Mundo está a bater às portas da Europa, e entra mesmo quando a Europa não está de acordo. O problema já não é decidir (como os políticos fingem acreditar) se se admitem em Paris raparigas estudantes com o chador ou quantas mesquitas devem erigir-se em Roma. O problema é que no próximo milénio (e como não sou profeta não posso especificar a data) a Europa será um continente multirracial, ou se preferirem "colorido". Se lhes agradar, será assim; e se não lhes agradar, será assim na mesma.»

Registei também aqui a necessidade evocada pelo Papa de "chorar os mortos" que ninguém chora. Mas para além de chorar os mortos há também que cuidar dos vivos. Toda ou pelo menos muita desta gente poderia ingressar ordeiramente na Europa através de um sistema de vistos racional que permitisse utilizar o seu trabalho no desenvolvimento dos países a que se dirigem. Exactamente o contrário daquilo que se obtêm com os golden visa, que mais não são do que um processo discriminatório e, realmente, no limite, de casos de "imigração ilegal".

A permissão de entrada aos multimilionários, cuja fortuna terá muitas vezes as mais duvidosas origens, e a negação dessa entrada a quem mais não pretende que o direito ao trabalho é um atentado aos princípios éticos sistematicamente proclamados pela União Europeia.

A concessão de vistos dourados é, sem dúvida, um dos sintomas da profunda decadência moral da Europa.


domingo, 16 de novembro de 2014

NANI (28 ANOS)




Como habitualmente, aqui registo o 28º aniversário de Nani, jogador que a vários títulos muito admiro, desejando-lhe as maiores felicidades pessoais e profissionais.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

RETRATO DO PERFEITO CANALHA




O "L'OBS" desta semana (nº 2610 - 13 a 19 Novembro 2014) publica uma entrevista com o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Apesar da náusea que me provoca voltar a falar desta personagem, entendo não poder eximir-me a um breve comentário às declarações agora proferidas por aquele que foi líder do Partido Trabalhista entre 1994 e 2007 e chefiou o governo do Reino Unido entre 1997 e 2007.

Trata-se, de facto, de uma figura abjecta, a quem já me referi diversas vezes neste blogue, e a propósito da qual nele transcrevi também, em 2 de Setembro de 2010, um post publicado no blogue "Portugal dos Pequeninos".


Os efeitos nefastos da sua passagem pelo poder, a nível nacional e internacional, ainda hoje se fazem sentir. Começou por atraiçoar os princípios do Labour, com a famigerada "Terceira Via" para o socialismo, com a finalidade de destruir as conquistas sociais britânicas que haviam já sofrido um rude golpe durante o funesto governo de Margaret Thatcher. Logo após a sua designação como chefe do Governo, aproveitou a morte da Princesa Diana de Gales para, demagogicamente, aumentar a sua popularidade em Inglaterra. Contra a opinião generalizada da população britânica, apoiou e incentivou em 2003 a invasão americana do Iraque (protagonizada pelo criminoso George Bush, com a participação de Aznar e Barroso na tristemente célebre cimeira dos Açores)), que conduziu à instabilidade absoluta que hoje se verifica no Médio Oriente, responsável por mais de 5 (cinco) milhões de mortos e feridos e pela destruição de um país. Por conveniências políticas, converteu-se ao catolicismo em 2007, tendo nesse ano sido designado enviado especial do Quarteto do Médio Oriente (ONU, União Europeia, Rússia e Estados Unidos), com a finalidade de resolver (?!) a questão israelo-palestiniana. Não vale a pena continuar a referir as suas malfeitorias.  E corre agora o mundo a proferir conferências pelas quais é primcipescamente remunerado.

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Nesta lamentável entrevista a "L'OBS", Blair manifesta a sua confiança no projecto europeu (qual deles ? o seu ou algum dos outros que ainda mexe?), apoia as reformas do primeiro-ministro francês Manuel Valls, que se propõe substituir o Partido Socialista Francês por outra coisa qualquer), recusa admitir que a guerra do Iraque tenha alguma coisa a ver com a situação que se vive actualmente naquele país, saúda as chamadas "primaveras árabes" afirmando que a situação actual na Líbia, na Síria e no Iraque é preferível aos regimes de Qaddafi, de Assad ou de Saddam Hussein e propõe (é preciso um inaudito descaramento) um aumento das medidas de liberalização económica na Europa.

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Este homem, que é um autêntico escarro, está totalmente em consonância com Nicolas Sarkozy quando este pretende rever os Acordos de Schengen de 1965 sobre a livre circulação de pessoas na União Europeia. E continua a ser favorável a um crescimento imoderado, menosprezando as posições dos ecologistas.

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Tony Blair é um verdadeiro canalha.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

D. FERNANDO MASCARENHAS




Morreu esta manhã, com 69 anos, D. Fernando José Fernandes Costa Mascarenhas, marquês de Fronteira e de Alorna, conde da Torre, de Assumar e de Coculim, herdeiro e representante de algumas das mais ilustres famílias nobres de Portugal.

Homem dedicado às artes e às letras, desenvolveu intensa actividade cultural e foi responsável pela criação, em 1987, da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, com sede na sua residência histórica, o Palácio Fronteira, em S. Domingos de Benfica.

Homem de grande sensibilidade e generosidade, D. Fernando Mascarenhas, que, no passado, chegou a reunir em sua casa grupos de oposição ao anterior regime, era uma figura respeitada em todos os quadrantes da sociedade portuguesa.


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

OS ECONOMISTAS SÃO UNS IMPOSTORES?





A revista "L'Obs", que durante anos se chamou "Le Nouvel Observateur" e que agora mudou de nome porque, como escreveu Lampedusa «é preciso mudar tudo para que tudo continue na mesma», ou não (o "Nouvel" das vezes que mudou a sua paginação, durante as últimas décadas, ainda que conservando o antigo nome, em minha opinião ficou sempre pior), inseriu no primeiro número da nova fórmula, o nº 2607, de 23 a 29 de Outubro 2014, um debate, com o título "Les économistes sont-ils des imposteurs?", entre o filósofo e historiador Marcel Gauchet, director de estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales e o economista Daniel Cohen, professor na École Normale Supérieure e professor na Universidade de Paris I (Sorbonne). Uma conversa conduzida pela jornalista Aude Lancelin.

Considerando que a "Economia" invadiu o nosso quotidiano, quase se podendo dizer que já não há mais vida para além da Economia, dispenso-me de outros comentários, transcrevendo, com a devida vénia, as intervenções dos notáveis mestres.

Les économistes sont-ils des imposteurs?

 

Ils influencent les politiques et ont remplacé philosophes, sociologues et historiens pour expliquer le monde. Daniel Cohen et Marcel Gauchet s'interrogent sur leurs pouvoirs, leurs mérites et leurs limites.


Hier encore on demandait à Claude Lévi-Strauss ou à Jean Baudrillard de déchiffrer l'avenir de notre civilisation, aujourd'hui on demande à Daniel Cohen ou à Jean Tirole, nouveau prix Nobel d'économie, de nous expliquer la panne de croissance. A quel moment a eu lieu la bascule ? Dans les cabinets ministériels, difficile d'entendre parler d'autre chose que de courbes et de chiffres. Chez les éditorialistes, on parle réduction de la dette et réforme du marché du travail avec la gravité intimidante de qui prétend remplacer l'argumentation par les équations.

Le ton BFM et l'esprit «Capital» - l'hebdo du business, pas celui de Marx - semblent avoir tout annexé. A l'économie, et quasi à elle seule désormais, on accorde le sérieux, le concret des choses, les clés du lendemain. Partout elle s'est peu à peu substituée à la délibération politique et aux visions non utilitaristes du monde.

Chez les jeunes économistes eux-mêmes, la révolte gronde d'ailleurs contre les prétentions écrasantes à la scientificité de leurs aînés néoclassiques. Un collectif d'étudiants français, le Peps (Pour un Enseignement pluraliste dans le Supérieur en Economie), réclame ainsi une refonte de l'enseignement de la matière, plus ouverte aux autres sciences humaines, tandis qu'un économiste australien, Steve Keen, fait paraître ces jours-ci «l'Imposture économique» aux Editions de l'Atelier, violente charge contre la prétention de sa discipline à prendre le contrôle des politiques sociales à travers le monde.

Dans les extraits publiés par «le Monde diplomatique» d'un livre à paraître le 30 octobre (1), Régis Debray s'inquiète lui aussi : S'il y a une crise économique, l'économie est si peu en crise que son ombre portée gouverne aussi bien notre intimité que l'ensemble de notre vie publique et intellectuelle.
Et de regretter que nos mots eux-mêmes soient en train d'y laisser des plumes. «Chacun s'exprime à l'économie: il gère ses enfants, investit un lieu, affronte un challenge, souffre d'un déficit d'image, mais jouit d'un capital de relations.» Aujourd'hui «l'Obs» lance le débat en choisissant d'interroger radicalement ce phénomène si peu questionné: l'expansion de la vision économique du monde.

Aude Lancelin 


L'Obs Comment l'économie a-t-elle pu prendre une telle importance dans notre appréhension du monde? Comment les économistes ont-ils pu acquérir un tel statut de penseurs, de quasi-gourous, de prophètes?

Daniel Cohen L'économie a totalement changé de nature au cours des trente dernières années. Elle est beaucoup plus envahissante qu'auparavant. L'économisme triomphe, au sens où les gens sont désormais constamment ramenés à ce qu'ils gagnent. Si l'économie prend tant de place aujourd'hui, c'est par contraste avec la situation antérieure, dans les années 1950 et 1960, lorsqu'elle était encore mêlée à d'autres valeurs.

Il existait dans ces années-là un compromis bâtard entre le marché, fonctionnant à la compétition, et les organisations, entreprises et familles de toutes sortes, fonctionnant selon des normes issues d'une société hiérarchique, verticale, elle-même héritière des sociétés prémodernes.

Les années 1970, et 1980 surtout, ont vu émerger un «nouvel esprit du capitalisme» qui a balayé les compromis antérieurs, où les collectifs ont volé en éclats, où chacun n'a plus été mesuré qu'à proportion de sa productivité individuelle.

Marcel Gauchet Nous nous rejoignons sur le fond, même si je crois qu'il faut distinguer le discours économique comme discours de légitimation politique et la place des faits économiques dans la société. Nous étions dans un monde où le social et le politique englobaient l'économie et la structuraient dans une large mesure. Nous sommes passés dans une situation où l'économie est supposée faire société. Et, du même mouvement, le discours économique est devenu le discours autour duquel s'organise la discussion publique dans son entier: elle se ramène invariablement à l'invocation des paramètres économiques.

Mais le phénomène dépasse largement l'obsession des grandeurs financières. On va faire par exemple une analyse économique du système scolaire, afin de juger de son efficacité sur ses résultats, même si cela ne se mesure pas à proprement parler en termes monétaires. Le critère du jugement par les résultats est devenu dominant dans notre vie sociale tout entière. Il exerce une pression continue, il pénètre de plus en plus la vie de nos sociétés - c'est là le véritable «économisme», devenu le phénomène central de notre époque.
Marcel Gauchet, vous semblez observer cette évolution avec une grande inquiétude. Vous affirmiez récemment: «L'enfermement dans l'économie est un des pièges les plus dangereux du moment.»

M. Gauchet Cette évolution est en effet la source d'un malaise social immense. Parce qu'elle laisse de côté, ou renvoie dans l'invisible, des dimensions qui continuent d'être vitales du point de vue des individus et de l'existence collective, et qui n'ont plus droit de cité ou qui sont carrément déclarées obsolètes.

Au fond, nos sociétés politiques se divisent en deux, c'est même d'une certaine manière l'axe du vrai partage politique aujourd'hui, qui n'a plus rien à voir avec la droite et la gauche. D'un côté il y a ceux qui ne croient qu'en l'économie, qui sont donc adeptes conscients, ou inconscients, de cet économisme dont nous parlions. De l'autre, ceux pour lesquels l'existence collective continue de se passer en dehors de ces repères.

On le voit à l'intensité des débats sur tous les points que cet économisme laisse de côté. L'exemple type, pour prendre l'actualité immédiate, c'est la famille. Ou encore la nation. L'économie ne nous dit rien sur ces affaires. Elle n'explique ni d'où on vient, ni où on va, ni pourquoi on y va. Elle n'a à nous proposer qu'un avenir plus performant, parce que l'innovation permet une productivité supérieure, des rendements meilleurs, une richesse collective plus grande. Mais est-ce que c'est ça le but du parcours de l'humanité ?

Les liens sociaux en général répondent à d'autres normes que celle de l'efficacité économique. Vous ne vivez pas, dans les rapports avec les gens auxquels vous tenez, sur un mode économique. Une dichotomie se creuse entre le vécu spontané des peuples et la manière dont sont régies nos sociétés, de plus en plus gouvernées en fonction de cet économisme qui s'impose dans tous les secteurs de la vie sociale. Il en résulte un grand désarroi, un sentiment d'incompréhensibilité de ce qui se passe et un repli du plus grand nombre sur l'existence privée. C'est le coeur du malaise politique dans lequel nous nous trouvons.

 L'économie ne nous dit rien des fins dernières, or elle tend à supplanter toutes les autres grilles de lecture... En tant qu'économiste, Daniel Cohen, est-ce un état de fait qui vous inquiète aussi ?

D. Cohen Oui bien sûr. Le rêve des sociétés industrielles d'hier était d'intégrer les différents étages de la société: l'ouvrier, l'ingénieur, le contremaître, le patron qui appartenaient au même collectif. Tout cela faisait une société hiérarchique, étouffante et qui a fini par éclater, mais qui du point de vue de la répartition du revenu et de la production était intégrée et de fait solidaire.

On est passé depuis à une société débitée en tranches où chacun vit séparé des autres. La fin de l'homo hierarchicus n'a pas donné lieu à un homo aequalis, au sens de Louis Dumont, mais à une société étanche, où l'égalité se décline entre pairs, de manière totalement endogame. Il n'y a plus aucune communication entre les différents étages de la société. On reste entre soi. Dans l'entreprise, on externalise les tâches aux quatre coins de la planète, et le patron lui-même vit dans un autre ciel, celui de la finance. On a créé des mondes qui s'ignorent, et à l'intérieur desquels la rivalité est exacerbée.

Toutes les organisations, les institutions, l'école, l'université sont soumises à cette loi nouvelle. Tous les mois, j'ai un bonhomme qui m'envoie mon classement de 1 à 10.000 sur l'échelle des économistes mondiaux ! Je ne lui ai rien demandé. On est mis en tension, en compétition permanente. Les forces de coopération sont détruites. Et ce n'est même pas un système efficace, car il y a des réserves de productivité et d'efficacité considérables qui sont ainsi perdues, qui ne s'obtiendraient qu'à la confiance et à la réciprocité. C'est là où l'on voit que l'économisme de la société produit de manière autoréalisatrice un monde cohérent avec lui-même, où les rapports monétaires chassent les autres aspirations.

L'économie a-t-elle en quelque sorte détruit les autres modes de représentation du monde ou a-t-elle simplement servi à remplir un vide, celui laissé par la disparition de ce qu'on a appelé les «grands récits»?

M. Gauchet Il faut mesurer le changement de philosophie collective qui s'est opéré. Repartons des années 1960, sommet de l'univers sorti de la deuxième révolution industrielle. Pour la droite gaulliste, l'économie était avant tout l'instrument de la grandeur du pays - il faut être riche pour être puissant, pour avoir les moyens d'un rayonnement à l'échelle du monde. Pour la gauche, le problème était de redéfinir l'organisation économique en fonction de la forme de société qu'on souhaitait instituer.

A partir de là, le tournant des années 1970-1980 nous a fait changer de culture. Le but est devenu d'accroître de façon maximale la richesse collective afin que chacun y trouve son compte à sa façon. Il ne s'est plus agi de mettre l'économie au service du collectif, d'une manière ou d'une autre, mais d'offrir à chaque individu les moyens de choix personnels les plus grands possibles à l'intérieur d'une richesse collective qu'il fallait accroître par tous les moyens.

A cet égard, on peut vraiment parler d'un suicide inconscient du socialisme démocratique dans son rapport à l'économie. Cette conversion explique la liquidation pure et simple de la gauche européenne qui est en cours. Elle a vendu son âme au diable, mais le diable n'avait rien à lui donner, c'était un très mauvais calcul !

Ce n'est pas que l'économie a pris le pouvoir, c'est que le politique a disparu. Il s'est creusé un vide, dont la disparition du politique est un pôle et dont la disparition du sens de l'histoire est l'autre, en particulier pour le mouvement socialiste et pour la gauche en général. Aujourd'hui, notre monde est sans direction. Nous n'avons plus ni politique ni histoire. Il nous reste l'économie qui tient lieu de tout.

D. Cohen C'est vraiment le coeur de la question. De l'idée du progrès qui s'annonçait au XVIIIe siècle, il semble ne rester que celle du progrès matériel. C'est un paradoxe quand on sait que Keynes par exemple annonçait dans les années 1930 qu'en 1980 nous ne travaillerions plus - phrase célébrissime - que deux à trois heures par jour, que la question économique serait réglée comme l'avait été au siècle passé la question alimentaire, que la prospérité serait telle qu'on «pourra enfin s'occuper des choses qui comptent, l'art, la culture, la métaphysique».

Que s'est-il donc passé pour que cet idéal ne se soit pas réalisé ? En économie, on appelle ça le «paradoxe d'Easterlin», qui dit que l'appétit de richesse est insatiable, quel que soit le niveau de revenu déjà atteint. La France est aujourd'hui deux fois plus riche qu'en 1970. Cela ne se traduit pas par une hausse du niveau du bien-être ressenti par ses habitants.

L'homo economicus, comme disait Alfred Sauvy, est un marcheur qui n'atteint jamais l'horizon. Malgré la richesse sans précédent des sociétés occidentales, la demande économique n'a jamais été aussi forte parce que l'économie elle-même n'a jamais été aussi décevante. La croissance se tarit On est en train de tout rogner, nos dépenses de santé, d'éducation, de protection sociale, pour maintenir la flamme d'une croissance du pouvoir d'achat dont les effets ne seront qu'éphémères. Jusqu'où sommes-nous prêts à aller pour sacrifier le progrès social du siècle passé au nom d'un progrès matériel devenu évanescent ? Telle est la question éminemment politique du moment.
Comment expliquez-vous toutefois la promotion spectaculaire du discours économique dans l'espace public ? Au moins autant que les intellectuels, on pourrait dire en effet que les économistes n'ont cessé de se tromper...

M. Gauchet Ni la philosophie, ni la sociologie, ni l'histoire n'ont aujourd'hui la même vitalité et le même rayonnement intellectuel qu'il y a trente ou quarante ans. C'est flagrant. Il ne serait donc pas juste de se plaindre que de grandes oeuvres de sciences humaines sont reléguées dans la clandestinité par un discours économique hégémonique !

La vérité est qu'il y en a peu au rendez-vous. Pourquoi ? Que s'est-il passé intellectuellement dans nos sociétés ? La montée de l'économisme correspond, du point de vue des sensibilités, à un changement très profond de la demande sociale d'intelligence. Le désir d'intelligibilité a été supplanté par le souci d'efficacité d'un système conçu comme le seul possible. La question n'est plus de comprendre ce que sont l'homme, la société, l'histoire... La question est juste de savoir comment ça marche et comment faire en sorte que ça marche mieux.

C'est en ce sens que l'expert a pris la relève de l'intellectuel. Le mot est atroce mais parlant: on assiste à une désintellectualisation de nos sociétés. Elle va de pair avec une lecture de l'existence collective réduite au droit, à l'économie et à la technique.

D. Cohen Je partage ce constat. Sur la question des erreurs des économistes, je vais toutefois me permettre de faire un peu de corporatisme. Les économistes ont dénoncé l'«exubérance irrationnelle» des marchés financiers dans les années 1990 et bien vu aussi la bulle immobilière de la décennie suivante. Ils ont mal ou pas du tout perçu la déflagration des subprimes, de 2007, en partie parce que la finance l'avait cachée aux régulateurs eux-mêmes.

Mais quand la bulle financière a éclaté, après Lehman, la «profession», à part quelques exceptions, a parfaitement fait le diagnostic du risque d'une répétition de la crise des années 1930. Bernanke, le président de la banque centrale américaine, prend ses décisions en ayant le livre des années 1930 sur les genoux.

Alors qu'est-ce qui aujourd'hui ne fonctionne pas en Europe ? C'est notre construction institutionnelle. On a interdit à la Banque centrale d'intervenir, on oblige les pays à mener des politiques d'austérité qu'aucun économiste ne soutient vraiment, hormis peut-être quelques économistes allemands. On est en réalité dans un problème politique: c'est la construction européenne et ses contradictions qui sont au coeur de la question.

Par ailleurs, il faut savoir qu'à l'heure où la société s'«économicise», la profession d'économiste vit, depuis une vingtaine d'années, une véritable transformation intellectuelle, une mutation de l'ordre de celle que le keynésianisme a pu produire sur la conception de l'équilibre macroéconomique. Les économistes discutent avec les psychologues pour comprendre pourquoi les schémas cognitifs divergent de leurs propres postulats de rationalité. Ils font de plus en plus d'histoire. Le lien avec les juristes et les sociologues est également très important.

La profession n'est pas dupe de son extraordinaire difficulté à comprendre la mondialisation et les crises financières, et de la nécessité qui est la sienne de s'enrichir, ici au bon sens du terme, au contact des autres disciplines.
On note en effet depuis quelques années l'expansion d'une nouvelle économie «comportementale» qui utilise certains travaux de sciences sociales, et s'éloigne donc des théories néoclassiques. Mais ce qui ne change pas avec cette nouvelle tendance, c'est l'effet de scientificité recherché, et donc d'autorité incontestable... Il y a encore ici l'idée d'une position de surplomb du discours de l'expert par rapport aux politiques démocratiques. N'est-ce pas là le vrai secret de la fascination actuelle exercée par l'économie, en même temps que son danger?

D. Cohen Il y a un bon et un mauvais usage de l'économie, comme d'ailleurs des autres disciplines. L'erreur serait de croire qu'il y a un discours unifié des économistes. Ils divergent sur un grand nombre de points, et ce ne sont pas des vérités révélées qu'il faut attendre de leur part, mais des raisonnements, des données, qui doivent être débattus dans la cité.

L'autre erreur, c'est de surestimer le degré d'influence des économistes. Le plus souvent les politiques se contentent d'utiliser tel ou tel économiste pour légitimer leurs discours. Il faut je crois relativiser fortement le discours selon lequel les économistes «guident le monde». C'est plutôt le contraire.

Propos recueillis par François Armanet et Aude Lancelin


Na sequência deste diálogo entre Marcel Gauchet e Daniel Cohen, "L'Obs" registou também os depoimentos do filósofo Jean-Pierre Dupuy, professor na Universidade Stanford, na Califórnia e ex-professor na École Polytechnique, do filósofo Michaël Foessel, professor na École Polytechnique e do colectivo "L'Assaut".

"L'économie, cette immense duperie": les anti-économistes prennent la parole


L'art de se duper soi-même, par Jean-Pierre Dupuy


Les économistes sont-ils des imposteurs ? Un imposteur ment et sait qu'il ment. Il trompe son monde et sait qu'il trompe. Les économistes, eux, se trompent car ils se mentent à eux-mêmes, c'est tout différent. Ou, plutôt, ils se font sans le savoir les complices d'une immense duperie de soi collective qui s'appelle l'économie.

Cette affirmation a été posée pour la première fois par un philosophe et moraliste écossais qui allait devenir, selon l'histoire officielle, le premier des économistes: Adam Smith. Son message ? Si nous courons après la richesse sans jamais en être rassasiés, c'est bien que ce que nous cherchons à travers elle n'est pas la satisfaction de besoins matériels.

L'économie est mue par le désir - et plus spécialement le désir d'être reconnu par les autres, d'être admiré par eux, cette admiration fût-elle teintée d'envie. Et de cela, on n'a jamais assez. Les besoins sont limités, pas le désir.

Cependant, le système ne fonctionne que parce que les agents sont dans l'opacité sur leurs propres motivations et sur celles des autres. Ils croient que la richesse suffit par elle-même à faire leur bonheur. Le véritable effet de la richesse est d'attirer sur celui qui la possède la convoitise des autres. Peu importe que les autres convoitent ce qui ne mérite pas d'être convoité, ce qui compte, c'est le regard de convoitise lui-même.

C'est de ce regard que sans le savoir chacun est avide. Les agents se trompent en attribuant à la richesse des vertus qu'elle n'a pas ; mais cette erreur nourrit une convoitise qui, finalement, apporte des satisfactions: ainsi, l'erreur de départ devient à la fin une vérité.

L'économie, c'est finalement un jeu de dupes, un théâtre dans lequel chacun est à la fois dupe et complice de la duperie. La théorie économique participe pleinement de cette duperie généralisée.
La place que joue l'économie dans nos vies individuelles comme dans le fonctionnement de nos sociétés est exorbitante et nous trouvons cela banal. L'économie tend à envahir le monde et nos pensées. Ce n'est donc pas elle qui nous donnera le sens de ce phénomène massif et extraordinaire, puisqu'elle est à la fois juge et partie.

La religion put combler pendant longtemps la soif d'infini qui est en nous, puis ce fut la croissance qui en fournit un ersatz. Si l'homme est ce ver de terre amoureux d'une étoile dont a parlé notre plus grand poète, l'économie s'adresse en principe au ver de terre, à sa finitude, à ses besoins limités. Mais avec la croissance, l'économie est devenue l'étoile, qui n'est notre guide que parce qu'elle recule à mesure que nous avançons. En vérité, la croissance a tous les traits d'une panique.

Aujourd'hui, l'étoile s'est éteinte. L'étymologie nous aide à décrire l'état qui en résulte : c'est un dés-astre. On ne prive pas un drogué de sa drogue du jour au lendemain. On ne renonce pas à sa foi sans souffrance. Sans sacré ni croissance, qui ou quoi pourra satisfaire le désir d'étoile qui est en nous?

Une institution imaginaire, par Michaël Foessel


Les mathématiques au XVIIe siècle, la physique au XVIIIe, l'histoire au XIXe et la biologie au XXe: chaque siècle de l'ère moderne se caractérise par une science reine censée révéler une fois pour toutes les secrets du monde. A l'exception de l'histoire, et peut-être de la physique, ces sciences sont toujours dominantes. La mathématisation de l'économie, en particulier, marque notre présent de son empreinte. Elle a ouvert la voie à la financiarisation du monde dont la crise de 2008 aura, sans rien y changer, manifesté l'impasse.

Science reine de notre temps, l'économie en dessine aussi l'horizon pratique. Comme toute science, elle utilise des abstractions qui ont cette particularité de se retrouver telles quelles dans le discours public. «Compétitivité» plutôt que concurrence, «emploi» plutôt que travail, «croissance» plutôt que progrès: ces concepts ont envahi le champ politique.

C'est qu'ils ont tous l'avantage d'être quantifiables et d'assurer ainsi la conversion de la parole publique en expertise. Après les désillusions du XXe siècle, les évidences économiques apportent au discours politique un regain inespéré de certitudes. Elles fixent des objectifs que l'on ne prend plus la peine d'interroger: accroître la compétitivité, créer de l'emploi, retrouver la croissance.

Si l'on ne peut en vouloir à une science d'utiliser des abstractions, on peut reprocher à ceux qui s'en inspirent de les admettre sans critique. Compétitivité, emploi et croissance peuvent, tout au plus, être des moyens en vue d'une fin (par exemple la justice sociale, la liberté individuelle ou l'égalité démocratique) qu'aucune science ne pourra jamais définir.

L'économie escamote la question des fins pour se concentrer sur les calculs, supposément rationnels, qui commandent les conduites humaines. Elle postule que l'homme agit en vue de son propre intérêt, mais se désintéresse de la définition de cet intérêt pour mieux se consacrer aux moyens les plus efficaces de l'atteindre.

Comme l'a montré Cornelius Castoriadis, les fins qu'une société se fixe ne relèvent pas de la science, mais d'une «institution imaginaire», d'une manière collective de voir le monde. La science économique relève d'un imaginaire précis, celui où toutes les choses deviennent commensurables, monnayables, échangeables. Elle se demande pourquoi dix mesures de blé sont égales à tant de paires de chaussures mais ne s'interroge jamais sur cette équivalence généralisée entre les choses.

En deçà de nos calculs, il existe une fiction selon laquelle tout est calculable: cette croyance relève d'un imaginaire social que l'on a tort de considérer comme évident.

Les économistes peuvent tout expliquer, sauf le capitalisme. Pour rouvrir la question des fins et ne plus considérer la compétitivité, l'emploi et la croissance comme des fétiches, il faut donc se confronter à l'imaginaire qui les sous-tend. Et cela, aucune science n'en est capable: une telle confrontation relève exclusivement de la politique.

La langue des maîtres, par "l'Assaut"


Bien avant la fin de la Seconde Guerre mondiale, les philosophes de l'école de Francfort Adorno et Horkheimer avaient pressenti que l'avenir de l'oppression aurait davantage besoin de mots et de concepts que de fusils.

Après la Libération, les députés, les ministres, les journalistes furent heureux de conquérir et d'occuper des places politiques pour accompagner, résignés, la dépossession du peuple de son destin. Les industries, les groupes d'intérêt, ce qu'on appelle les affaires, devinrent l'objet politique par excellence. Le langage du commerce devint celui des institutions.

Dans les universités du Parti socialiste, on trouvait il y a encore quelque temps des livres de philosophie. Désormais un cadre socialiste parle d'efficience, de réformes et d'externalités positives, il devient le dépositaire d'une «mathématique de l'équation [qui] rassure le petit-bourgeois», comme l'écrivait Roland Barthes en définissant le bon sens, suprême valeur de droite dont tous se targuent aujourd'hui.

Que s'est-il passé ? Rien, dans le système, ne saurait échapper à la création de valeurs de l'industrie. L'instrument de l'oppression se fait sans cesse plus large: le salariat à l'époque de Marx, la société de consommation à celle de Pasolini, l'argent à la nôtre. Dans le domaine intellectuel, cette domination se nomme aujourd'hui économie.

Que le monde soit devenu plus complexe et que des sciences économiques doivent l'éclairer est une absurdité: l'accumulation rentière des oligarques est très simple et ne perdure que parce qu'elle est présentée comme nécessaire. Le débat économique a donc comme propriété de détruire la pensée, et toute contestation de l'ordre sous l'angle de l'analyse économique n'est que l'aveu du diplômé désarmé.

La démocratie parlementaire, en échouant à convaincre de la nécessité de la politique, rend le citoyen superflu. Il est salarié, il est entrepreneur, il est consommateur, il est donc soumis à la demande de rentabilité de son maître. Qu'il se remette à parler d'absolu, de beauté, de bonheur, concepts absolument non mesurables et non quantifiables, alors il se libérera, mais effraiera la police : la maréchaussée qui contrôle les corps, et les médias qui contrôlent la pensée en imposant la doxa économique.

Or l'économie n'existe pas. Le lexique de la captation des valeurs par les milieux d'affaires est devenu une simple propagande d'Etat. Il tue aujourd'hui toute imagination, tout fondement de la politique, et donc toute possibilité d'émancipation individuelle.

« L'Assaut » (www.lassaut.org) est un groupe de réflexion. Constitué d'intellectuels et de jeunes énarques en poste dans les cabinets ministériels, il entend rompre avec le ton de renonciation adopté par une partie de la gauche, qui utilise les raisonnements de la droite dans un souci de «crédibilité» qui désarme la lutte sociale.


MAIS PALAVRAS PARA QUÊ?