terça-feira, 4 de março de 2014

SEXUALIDADES




O escritor francês Arthur Dreyfus (n. 1986) acabou de publicar Histoire de ma sexualité, livro cujo tema é uma retro-incursão na vida sexual do autor nos seus anos de infância e adolescência. Trata-se da quarta obra deste jovem escritor a quem se devem já La synthèse du camphre (2010), Le livre qui rend heureux (2011) e Belle famille (2012), este sobre o desaparecimento no Algarve de Madeleine Mc Cann.

À excepção de Le livre qui rend heureux (Flammarion), os outros livros foram publicados pela prestigiada editora Gallimard, na sua colecção principal, o que é uma notável distinção para alguém que se inicia na arte da escrita.


Neste último livro, que Arthur Dreyfus pretende autobiográfico, ainda que ostente na capa a indicação "roman" (Mon éditeur, à qui j'avais fait part, au tout début, de mes appréhensions concernant ce projet de livre, me conseille d'écrire un roman: «On colle roman en dessous du titre, et tout le monde est tranquille.»),  o autor debruça-se sobre a sua vida sexual, desde muito cedo, quando ainda nem sabia o que era a sexualidade. As suas recordações remontam aos primeiros anos de vida, quando começou a sentir-se atraído por rapazes da sua idade, e continuam até o fim da adolescência.

Pretende Dreyfus relatar os seus sonhos, as suas experiências, os seus fantasmas, os seus desejos, por mais íntimos que sejam, e pela leitura da obra não se duvida que assim seja, ainda que nos previna na última página: «J'ai voulu tout dire, pour qu'il ne reste que les secrets».

Trata-se de uma obra corajosa, evidenciando a sexualidade em idade que o "moralmente correcto" hoje achará inconveniente, para não escrever condenável, como o pretenderão os inquisidores de serviço. Arthur Dreyfus descreve explicitamente e em pormenor actos de uma forma não habitual no tipo de literatura habitualmente editado pela "respeitável" Gallimard, o que se traduz num valor acrescentado.

O livro é uma colectânea de pequenos textos e mesmo fragmentos de uma ou poucas linhas mas que, no seu conjunto, atingem mais de 350 páginas. Não creio que fosse necessário produzir uma obra tão extensa, já que há nela material dispensável e até "repetido", mas não foi essa a opção do autor. De qualquer modo, saúda-se o aparecimento da obra.

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