quinta-feira, 20 de março de 2014

AS BRIGADAS DE DESAGRAVO





Transcrevemos o artigo hoje publicado por Fernando Dacosta no jornal  "i", sobre as brigadas de desagravo do actual Governo, integradas por políticos no activo e pseudo-comentadores económicos, a propósito do Manifesto dos 70:

Brigadas de desagravo

«Há 40 anos, Américo Thomaz e Marcello Caetano, não tolerando que dois generais contestassem a sua política ultramarina, fizeram que fossem demitidos – com os fiéis da situação a organizarem romagens de desagravo que a maledicência oposicionista apelidou de brigada do reumático. O resultado viu-se em Abril.

Agora, a um mês de outro Abril, dois assessores de Belém são afastados por discordarem da política seguida pelos sucessores de Américo Thomaz e Marcello Caetano. A sua discordância exprimiu--se pela simples subscrição de um documento de 74 notáveis, alarmados com o (fascizante) rumo em curso.

Pouco imaginativos, os fiéis desta situação reeditaram velhas romagens de desagravo através de 
arrogantes comentários contra os insubmissos, servindo-se de uma comunicação social a invejar a da ditadura – lembram-se do encantador “Diário da Manhã”?

Foi um texto escrito – em 1974 tratou-se de um livro sobre o domínio de Portugal em África, em 2014 de um manifesto sobre a subserviência de Portugal à Europa – a provocar a ira dos actuais dirigentes (e seus seguidores) que, de imediato, dispararam arremessos de surpreendente intolerância, apoiados em organismos de compadrio internacional.

Sem se enxergarem (historicamente, culturalmente, etc.), os senhoritos da presente governação atreveram-se, com os seus lambe-botas e lambe-interesses de serviço, a amesquinhar os autores do documento, figuras de destacado prestígio profissional e cívico, por “recusarem ser”, como escreveu Manuel Alegre, “colaboracionistas” da destruição do país – tal como quatro décadas atrás, os empenhados no 25 de Abril. A cereja que a história guarda para o bolo do “passismo” (e afins) está há muito envenenada.»

Com uma diferença: apesar de tudo, os "desagravados" do antes de Abril tinham, em geral, um perfil mais elevado do que os actuais incumbentes.


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