quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

PROUST E OS BÚLGAROS




Christian Gury, jurista, historiador, ensaísta, poeta, advogado na Cour d'Appel de Paris, publicou mais um livro: Proust et les Bulgares. Autor de vasta obra sobre as "marginalidades sociais", nomeadamente sobre a homossexualidade, Gury aborda habitualmente a forma como ela se reflecte na literatura. Entre os seus escritores de eleição contam-se Verlaine, Barthes, Cocteau, Maurice Rostand e, designadamente, Proust, sobre o qual já escreveu vários livros. Além de se ter dedicado a outras eminentes personalidades francesas, como o marechal Lyautey e o cardeal Grente.

No livro que agora apreciamos, o autor trata da influência dos búlgaros (cuja palavra original, bougre ou boulgre, significa sodomita), na célebre Recherche, e das alusões que Proust lhes faz no decorrer da obra. Dá-se especial relevo ao rei  (depois, tsar) Fernando I da Bulgária e aos seus costumes. «Le tsar Ferdinand Ier de Bulgarie était passioné de fleurs et de bijoux - la duchesse de Guermantes se gaussait de ses bracelets -, et amateur de jeunes soldats blonds, "une pure coquine, une vraie affiche", selon le baron de Charlus, fin connaisseur de la matière.»

Segundo o autor, o tsar Fernando I teria emprestado algumas características ao baron de Charlus, ainda que Gury tenha sustentado em outro livro que Proust foi buscar ao marechal Lyautey a sua inspiração para compor a personagem do barão.

Para Christian Gury, os costumes dos búlgaros estão presentes ao longo da Recherche, especialmente os do seu rei, cuja vida pessoal e política é analisada na obra, salientando-se a sua responsabilidade nas guerras balcânicas e mesmo, pelas suas acções e omissões, na Primeira Guerra Mundial.

Não é possível, num post, entrar em pormenores sobre a obra, atendendo ao emaranhado de referências em que Christian Gury sustenta as suas teses. Julgamos que terá escalpelizado a Recherche, para poder defender os seus pontos de vista nos diversos livros que sobre ela escreveu, um trabalho certamente de grande envergadura.

O livro inclui mais três ensaios: Proust au tennis, Dans les griffes des logogriphes e Le zoo de Combray.

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