quinta-feira, 22 de agosto de 2013

AS PAISAGENS DE UM "FLÂNEUR"


Juan Goytisolo

Já passaram vários anos desde que Abdelatif Ben Salem publicou o livro Juan Goytisolo ou Les paysages d'un flâneur. Trata-se de uma obra que inclui uma cronologia do escritor até 1996 (Goytisolo nasceu em Barcelona em 6 de Janeiro de 1931), os depoimentos de vários escritores sobre Goytisolo e a sua obra, alguns inéditos do mesmo e uma bibliografia activa e passiva.

Juan Goytisolo é um dos maiores escritores espanhóis vivos. Tendo trocado o seu país natal pela França, devido à repressão franquista, Goytisolo inicou uma "peregrinação" pelo mundo, que o levou a diversos países, transformando-o num verdadeiro flâneur, que poderíamos traduzir como passeante, caminheiro, andarilho, viandante, mesmo vagabundo (no sentido daquele que vagueia). Seduzido pelo mundo árabe, em 1997 instalou-se definitivamente em Marrakech, após a morte da sua companheira e depois esposa, Monique Lange. Nessa altura já havia assumido a sua homossexualidade, o que se verificou nos anos 70 do século passado.


Num artigo publicado em 1991, e recolhido no livro de Ben Salem, Edmund White escreve: «Tout comme Genet ou Pasolini, Goytisolo est un apôtre du pouvoir révolutionnaire et anarchiste de la sexualité, du corps désiré qui brise les barrières stériles imposées par les institutions sociétales ou à caractère de classe. Comme Pasolini qui, en défendant le Décaméron, affirmait à la gauche que "le corps est toujours révolutionnaire, car il est irréductile à toute codification". Comme Genet aussi, qui se rapprocha des révolutionnaires algériens, des Black Panthers et des fedayyin palestiniens, et opposa leur sexualité au puritanisme européen et blanc-américain. Goytisolo juxtapose la promiscuité de Tanger à l'aridité de Paris et de Barcelone.»

A obra de Juan Goytisolo é vasta, profunda e, por vezes difícil. Escrita em espanhol e depois traduzida para francês, ou directamente em francês, encontra-se editada em diversas línguas, incluindo a portuguesa. Entre os seus livros mais importantes conta-se Paysages après la bataille (1985), no original Paisages después de la batalla (1982), cujo título glosei num dos meus últimos posts.


Concebido como um puzzle cujas peças se colocam no lugar à medida que o romance se constitui, sobre o livro o editor espanhol escreve: «Enclaustrado en su refugio del abigarrado barrio parisiense del Sentier, un personaje solitario que mantendrá a lo largo de la obra unas curiosas relaciones afectivas con su invisible mujer alterna sus inquietudes políticas -a través de sus contactos con misteriosas organizaciones terroristas extranjeras- con la exposición de sus catastróficas previsiones ecológicas y unas apremiantes fantasías sexuales próximas al mundo infantil del creador de Alicia en el país de las maravillas. Su excentricidad es tal vez una defensa contra la normalización de nuestra época. Como ha escrito el propio autor: "Escrita al amparo del epígrafe de Bouvard et Pécuchet 'Ponían en duda la probidad de los hombres, la castidad de las mujeres, la inteligencia del gobierno, el sentido común del pueblo; en corto, minaban las bases'"-, la novela es una inmensa carcajada ante el espectáculo de la ciudad del futuro, que es ya la del presente: la cosmovisión de la hecatombe diaria que se avecina. Su héroe, un personaje proteico -mediocre, minucioso, obseso-, se identifica con el barrio en que vive y reproduce o clona sus contradicciones, escucha, ve, fantasea, imagina toda suerte de situaciones conflictivas de las que sale siempre malparado. Paisajes despues de la batalla es una novela marcada por la hiriente, a veces violenta exploración de los territorios del "yo" y de los valores sociales, aquí sometidos al efecto de una irrisión casi destructora. Esta "fábula sin ninguma moralidad» aspira a hacer ver, mediante la vía del humor, tanto la trama de una verdad subjetiva como los tópicos y los valores caducos sobre los cuales se fundan nuestras sociedades actuales".»

 Outros livros notáveis, no título original: Reivindicación del conte Don Julián (1970),  Makbara (cemitério em árabe) (1980), Crónicas sarracinas (1982), Las virtudes del pájaro solitario (1988), Las semanas del jardín (1997), num total de 50 obras.

Juan Goytisolo tem dois irmãos, também escritores de renome: José Agustín Goytisolo e Luis Goytisolo.

Sem comentários: