terça-feira, 23 de julho de 2013

O NAVIO FANTASMA


UMA METÁFORA DE PORTUGAL





Der Fliegende Holländer, de Richard Wagner: Abertura. Orquestra Filarmónica de Berlim sob a direcção de Herbert von Karajan - 1974

domingo, 21 de julho de 2013

LA DAMNATION DE FAUST








La Damnation de Faust, de Berlioz - Staatskapelle Berlin, dirigida por Sylvain Cambreling; encenação de La Fura del Baus - Festival de Salzburg, 1999

sexta-feira, 19 de julho de 2013

PAGLIACCI




Luciano Pavarotti canta "Vesti la giubba" da ópera Pagliacci, de Leoncavallo

segunda-feira, 15 de julho de 2013

BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA




Segundo o jornal "i", a Biblioteca de Alexandria, considerada uma referência cultural para o Mediterrâneo,  foi distinguida com o Prémio Calouste Gulbenkian 2013.

O júri salientou o trabalho incansável do seu director, Ismaïl Serageldin, na liderança daquela instituição, cuja contribuição para o diálogo entre povos e culturas diferentes é inestimável.

Como frequentador da Biblioteca de Alexandria, cuja imagem é o ícone do meu blogue, manifesto a mais profunda satisfação pela atribuição do prémio

REVISITAR O PASSADO EM LONDRES




O escritor francês Gilles Sebhan publicou há poucas semanas um novo livro, intitulado London WC2. Trata-se de um curioso romance em que o autor procede à revisitação da sua infância e adolescência, nomeadamente os períodos que passou em Londres, onde a irmã residiu durante anos.

As referências de Sebhan à vida da juventude da época, aos costumes, à música, às leituras, à família, a todo o universo que nos rodeava, são praticamente comuns à maior parte das pessoas da minha geração, ainda que ele seja mais novo do que eu e que Paris e Londres sejam diferentes de Lisboa.

Esta incursão no passado, recheada de pormenores, aonde a sexualidade não está ausente - antes pelo contrário - mostra-nos como as vidas, num determinado período (no caso, os finais dos anos 70 e os anos 80), tinham grandes afinidades, independentemente da geografia dos lugares.

A escolha do título do livro justifica uma explicação. No período da sua residência em Londres, a irmã vivia com o companheiro num apartamento (squat) situado na zona WC2 da capital britânica. Ora, naquela época, Gilles tinha uma necessidade imperiosa de urinar amiúde, pelo que frequentava regularmente os sanitários públicos (ou privados). Daí a associação do WC destes à zona londrina com a mesma designação.

Aliás, no livro, Gilles Sebhan lamenta que os sanitários públicos, que abundavam em Londres e em Paris (e eu poderia acrescentar, em Lisboa) têm sido progressivamente destruídos, com todos os inconvenientes daí decorrentes.

Obra de ficção que incorpora a autobiografia, é este um interessante livro a acrescentar à considerável lista de romances e ensaios de Gilles Sebhan.

sábado, 13 de julho de 2013

ARISTIDES DE SOUSA MENDES




O embaixador Carlos Fernandes acabou de publicar um livro intitulado O cônsul Aristides Sousa Mendes: a Verdade e a Mentira. Pretende esta obra refutar as afirmações contidas no livro de Rui Afonso, com o título Aristides de Sousa Mendes, Um Homem Bom, editado em 2009.

A maioria dos portugueses, e muitos estrangeiros, conhece a figura de Aristides de Sousa Mendes, nomeadamente a partir dos anos oitenta do século passado,  pelo facto de ter concedido, em 1940, como cônsul em Bordéus, contrariamente às instruções do Ministério dos Negócios Estrangeiros, um elevado número de vistos a cidadãos que pretendiam fugir de França e entrar em Portugal, alguns para aqui ficar, a maioria com destino a outros países. Nessa altura, os alemães tinham já invadido a França e o próprio governo francês refugiara-se em Bordéus.

Ao longo de 300 páginas, em que repete os mesmos argumentos ad nauseam, o embaixador Carlos Fernandes refuta, capítulo por capítulo, o livro de Rui Afonso, que não conhecemos. Sabemos que a imagem do cônsul Sousa Mendes tem sido progressivamente exaltada, nomeadamente porque se evoca que uma parte dos vistos emitidos teria sido concedida a cidadãos judeus, que estariam em perigo de vida face ao previsível avanço das tropas nazis.

Para o embaixador Carlos Fernandes, que aliás exprime simpatia pela figura de Sousa Mendes, o livro de Rui Afonso é uma mistificação e uma mitificação que aquele pretende desmascarar. Na impossibilidade de explicitar toda a argumentação do embaixador, apoiada nas cópias de documentos oficiais, publicadas em apêndice, e tendo o assunto começado a tornar-se polémico a vários títulos, vamos deter-nos no que se afigura realmente incontroverso.

1) Propala-se hoje, insistentemente, que Sousa Mendes teria concedido no período crítico que foram os dias 17, 18 e 19 de Outubro, em Bordéus, e 21, em Bayonne,  30.000 vistos, dos quais 10,000 a favor de judeus. Demonstra o embaixador que, em tal período, era materialmente impossível conceder tal número de vistos, pelo que, segundo a numeração de ordem dos mesmos vistos esse número seria de cerca de 600;

2) Não houve instruções especiais de Salazar, então ministro dos Negócios Estrangeiros, para impedir Sousa Mendes de conceder vistos, desde que regularmente, segundo os procedimentos do Ministério; o que levou à sua demissão de cônsul de 1º classe em Bordéus foi o incumprimento das formalidades estabelecidas;

3) Sousa Mendes regressou depois a Lisboa, teve um processo disciplinar, mas não foi demitido da função pública, ficando na disponibilidade, a aguardar aposentação. Por isso, recebeu sempre o seu vencimento até à data da morte, que sobreveio antes de atingir a idade para a aposentação;

4) Segundo Carlos Fernandes nunca Salazar perseguiu pessoalmente Sousa Mendes ou os seus filhos, antes pelo contrário, não lhe tendo aplicado as penalidades correspondentes às infracções cometidas e tão-só o passando á disponibilidade, até porque não se encontraria em situação psíquica normal para o desempenho de funções, como é largamente descrito no livro;

5) A Lei nº 51/88, de 25 de Abril, que reintegra Sousa Mendes na carreira e o promove a ministro plenipotenciário de 2ª classe é aberrante porque reintegra uma pessoa que nunca fora demitida. Também a elevação de posto parece ao embaixador uma incongruência, pois a categoria a seguir a cônsul de 1ª classe seria cônsul-geral, equivalente a conselheiro de embaixada, e não ministro de 2ª classe. Também não é juridicamente normal reintegrar uma pessoa (se fosse o caso, que não era) através de uma Lei  (de características gerais e abstractas) e não de uma Resolução;

6) A indemnização de 15.000 contos atribuída à família não se baseia, segundo o embaixador, em quaisquer cálculos objectivos. Foi ainda concedida uma importância de 50.000 contos a uma "entidade credível" (a Fundação Aristides de Sousa Mendes, presume-se, depois constituída), desde que a família lhe juntasse os 15.000 contos já recebidos, para a reconstrução da Casa de Cabanas de Viriato e uma comparticipação anual de 2.000 contos para despesas de funcionamento da Casa-Museu;

7) A grande campanha para a mitificação da carreira de Sousa Mendes e para a evocação da sua especial protecção aos judeus (presume-se que Sousa Mendes quando concedia os vistos apenas olhava para a nacionalidade dos requerentes sem atender às origens) foi especialmente orquestrada  pelo congressista luso-americano Tony Coelho, a fim de obter o apoio do poderosíssimo lobby judaico dos Estados Unidos na satisfação das suas ambições políticas na Câmara dos Representantes.

O que aqui se escreve é uma síntese do muito sobre que discorre o embaixador Carlos Fernandes, mas analisando os factos, sobretudo após a leitura do livro, conclui-se que há, realmente, alguma coisa que não bate certo. E se determinadas considerações do embaixador podem ter sido ditadas por convicções pessoais, não parece que da análise dos factos se possa retirar que todo este processo é de absoluta transparência.

Conviria, pois, a bem do interesse público e do respeito que merece a própria imagem de Aristides de Sousa Mendes, que este assunto viesse a ter o esclarecimento que merece.

ADRIANO GONÇALVES (BANA)




Morreu hoje em Lisboa, com 81 anos, o cantor cabo-verdiano Adriano Gonçalves, conhecido por Bana, considerado o "Rei da Morna".

Tendo gravado mais de cinquenta discos, ao longo da sua carreira, iniciada em 1942, com 10 anos de idade, foi apadrinhado por B.Leza, um dos maiores músicos, poetas e cantores de Cabo Verde.

Segundo o PÚBLICO, o primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou que Bana é não só um património nacional mas um património da Humanidade e a melhor homenagem que se lhe poderá prestar é elevar a Morna a Património Mundial da Humanidade.



Como tantos cabo-verdianos que escolheram Portugal para viver e trabalhar, e que entre nós conquistaram sólidas amizades, também Bana se ligou aos portugueses e a sua morte deixa profundas saudades.

terça-feira, 9 de julho de 2013

CHORAR OS MORTOS




Segundo o PÚBLICO, o Papa Francisco foi a Lampedusa "chorar os mortos" dos naufrágios de embarcações que transportam imigrantes do Médio Oriente e Norte de África - os mortos que ninguém chora.

Esta atitude do Papa - é a primeira vez que um pontífice romano visita a ilha de Lampedusa - reveste-se, na minha opinião, do maior significado,  não só pelo acto em si (Lampedusa, a sul da Sicília,  é o primeiro porto europeu para onde se dirigem clandestinamente, desde há décadas mas especialmente depois das "primaveras árabes", milhares de tunisinos e líbios e outros africanos) mas pelo associação que me é permitido fazer entre o nome da ilha e o célebre príncipe de Lampedusa, autor do romance Il Gattopardo (O Leopardo), que Luchino Visconti adaptou ao cinema numa realização magistral.



O Papa pediu um "despertar das consciências" para combater a "globalização da indiferença" e lamentou que ninguém chore todos os que, ao longo dos anos, têm morrido no mar no naufrágio das frágeis embarcações em que se transportam.

Esta expressão do Papa - "chorar os mortos" - recordou-me o apelo, há meio século, de um político português, que formulou o mesmo pedido, para o caso de os vivos não merecerem esses mesmos mortos.

Parece que, novamente, agora os europeus, não merecem os mortos africanos que demandam, ainda hoje,  o Velho Continente, já semi-apodrecido, na miragem de obterem uma vida melhor.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O EGIPTO: UM PRECEDENTE PERIGOSO PARA A TURQUIA




A revolução ou golpe de Estado no Egipto (deixo a escolha do termo aos especialistas e aos directamente interessados) constitui um precedente que está a inquietar profundamente o governo islamista do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.

A agitação que desde há semanas reina na Turquia, devido à projectada destruição pelo Governo do Parque Gezi, na praça Taksim, em Istanbul, ultrapassa largamente a questão (em si-mesma importante) da devastação daquela zona verde no centro da maior cidade do país. O que está agora em causa é a islamização progressiva da Turquia, conduzida lentamente mas com mão firme pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

A contestação ao Governo não parou, e ainda hoje se registaram violentos confrontos entre manifestantes e a polícia na zona de Taksim e na famosa Istiqlal Caddesi, bem como em outras cidades da Turquia.

Há vários caminhos para o país trilhar: o regresso ao estilo do "Pai da Pátria", Atatürk, defendido pela maioria dos militares e a evolução para uma sociedade mais ou menos islamizada, mas com diferenças de relevo: ou as posições cada vez mais radicais de Erdogan, cuja popularidade (também devido à recessão económica) começa a decair, ou as posições moderadas do presidente da República Abdullah Gül, cuja rivalidade com Erdogan no Partido já ninguém ignora.

Pretende Erdogan alterar a Constituição e dotar a Turquia de um regime presidencialista do qual ele seria o presidente e chefe do Governo, relegando o seu compagnon de route, Gül, para um lugar secundário. Ora Gül dispõe de consideráveis apoios no partido e a sua popularidade entre os turcos não pára de crescer.

Com uma parte significativa dos oficiais não considerados de confiança na prisão, Erdogan julgou afastar a possibilidade de um golpe militar (factos em que a Turquia é fértil), mas os acontecimentos dos últimos dias no Egipto poderão despertar a vontade dos muitos militares kemalistas ainda em funções de comando de reeditarem um novo golpe que ponha termo ao AKP, partido que aliás fora em tempos, ainda que com outro nome, ilegalizado pelos governos "militares".

Importa, todavia, salientar que as intervenções secretas, discretas ou concretas das chamadas potências ocidentais no Médio Oriente nos últimos anos se têm caracterizado, para além das ambições costumadas, por uma falta de inteligência, ausência de visão estratégica, ignorância histórica e crassa estupidez verdadeiramente confrangedoras.

A guerra aberta na Síria, o estado de pré-guerra civil no Egipto, a permanente instabilidade no Iraque, a desagregação da Líbia e a agitação na Turquia, só para citar os casos mais relevantes, são de molde a provocar as maiores inquietações.

Parece que Blair, enviado do Quarteto para o Médio Oriente, se pronunciou hoje, segundo ouvi na rádio, sobre a situação no Egipto. Não consigo compreender como não foi ainda possível calar definitivamente tão abominável personagem.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

GOLPE DE ESTADO NO EGIPTO




As Forças Armadas Egípcias depuseram hoje o presidente da República Mohamed Morsi, suspenderam a Constituição e anunciaram a realização de eleições presidenciais e legislativas, segundo um comunicado à Nação, efectuado pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Abdel Fattah Al-Sisi.

Os militares justificam a sua intervenção pela necessidade de garantir o regular funcionamento das instituições, atendendo à contestação de milhões de egípcios à islamização do país, protagonizada por Morsi e pela Irmandade Muçulmana.

Até à eleição do novo presidente a chefia do Estado será assegurada pelo presidente do Tribunal Constitucional, Adly Al-Mansur, devendo ser constituído um Governo de transição formado por tecnocratas que assegurará a gestão do país.



 General Abdel Fattah Al-Sisi

Neste momento, multidões eufóricas, não só no Cairo, na praça At-Tahrir, mas em Alexandria, Suez, Port-Saïd, Assiut, Luxor, etc. celebram o derrube do governo e a suspensão de uma Constituição não representativa da pluralidade de opiniões de uma população de cerca de 90 milhões de habitantes.

Entretanto, além da alocução do general Al-Sisi, falaram também pela televisão, apelando à concórdia nacional, o representante das forças de oposição laicas, o prémio Nobel Mohammed El-Baradei, o grande imam de Al-Azhar, sheikh Ahmed Al-Tayeb e o patriraca copta de Alexandria,Tawadros II.

Como referimos aqui, em 12 de Agosto do ano passado, a demissão do presidente da Junta Militar e Comandante Supremo das Forças Armadas, marechal Mohamed Hussein Tantawi e dos principais chefes militares, que provinham da época Mubarak mas tinham assegurado a transição, constituiu um erro colossal por parte do ex-presidente Morsi. Era inevitável uma intervenção dos militares. Levou mais tempo do que eu julguei, mas acabou por acontecer.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A JUSTIÇA CONTRA A LITERATURA?

David Caviglioli aborda no nº 2537 (20 a 26 de Junho 2013) do "Nouvel Observateur" uma questão essencial para os escritores contemporâneos: onde se situa a linha vermelha que separa a criação literária dos procedimentos judiciais.

Publicamos abaixo as páginas em apreço:

Clicar na imagem para ler melhor






DA CASA DOS MORTOS




Abertura da ópera Da Casa dos Mortos (Z Mrtvého Domu), de Leos Janácek, a partir da obra de Dostoievski - Direcção musical de Pierre Boulez; encenação de Patrice Chéreau

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O ULTIMATO




Com o país à beira da guerra civil, os militares egípcios, pela voz do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Abdel Fattah Al-Sisi, fizeram um ultimato aos líderes políticos (leia-se, à Irmandade Muçulmana e ao presidente Mohamed Morsi) para encontrarem, em 48 horas, uma solução que responda às reivindicações expressas pela população nos últimos dias, em que milhões de pessoas saíram à rua para contestar o que consideram a islamização do país. Na ausência de um acordo, as forças armadas intervirão para garantir a segurança nacional e o funcionamento das instituições.

As manifestações, que ocorrem no momento em que se assinala o primeiro ano da tomada de posse de Morsi como presidente da República, exigem a sua imediata demissão, e verificam-se por todo o país, reunindo multidões muito superiores às que levaram à queda do antigo presidente Hosni Mubarak.

O povo egípcio, especialmente os jovens, consideram que a revolução de há dois anos foi traída pela Irmandade Muçulmana e pelos seus aliados salafistas, e que a liberdade está a ser progressivamente confiscada em função de uma agenda islamista, num país com mais de 10% de cristãos (o que equivale globalmente a 10 milhões de pessoas) e elevado número de cidadãos laicos e de esquerda.

ANTÓNIO RAMA




 Morreu hoje, aos 69 anos, o actor António Rama, com significativas interpretações no palco e na televisão ao longo de uma carreira de quase meio século e que integrava desde 1981, o elenco do Teatro Nacional  D. Maria II.

Tive o prazer de o conhecer pessoalmente e dele guardo as melhores recordações.