domingo, 10 de março de 2013

INQUIETAÇÕES CASTRENSES


General Loureiro dos Santos

Em jantar que reuniu há dias dezenas de oficiais generais e superiores dos três ramos das Forças Armadas, entre os quais diversos ex-chefes de Estado-Maior, na reserva e na reforma, o general Loureiro dos Santos, ex-ministro da Defesa e ex-chefe do Estado-Maior do Exército, falando em nome dos presentes, advertiu, segundo o "Expresso", para o risco de desarticulação das Forças Armadas e para o receio (face às medidas políticas de anteriores e do actual Governo e às que vêm sendo anunciados pelo executivo em funções) de as Forças Armadas serem "incapazes de satisfazer as necessidades de defesa do país" e de levarem à "descaracterização da condição militar".

Também, citando o mesmo jornal, o coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, afirmou em entrevista à TSF que só não organiza uma nova revolução dos cravos porque entende que "não há condições para isso", acrescentando que "se sentisse que havia condições (para fazer um novo 25 de Abril) já estava a preparar outro".

Por sua vez, o general Garcia Leandro, professor do Instituto de Altos Estudos Militares e antigo governador de Macau, declarou que o ministro da Defesa, Aguiar-Branco, "não sabe o que está a fazer".

Igualmente, o general Valença Pinto, ex-chefe do Estatdo-Maior General das Forças Armadas, reconheceu que "o poder político está a funcionar em relação às Forças Armadas como uma espécie de 'aprendiz de feiticeiro'".

No mesmo sentido, têm sido proferidas declarações pelos responsáveis das associações militares de oficiais, sargentos e praças.

São, portanto, notórias, as inquietações castrenses.

E seria bom o que o actual Governo as tivesse na devida conta, porque nunca se sabe...

Ninguém ignora que as Forças Armadas de um país, com todos os defeitos que possam ter e com as eventuais imperfeições de alguns dos seus membros, constituem, ainda (até quando ?), a Reserva Moral da Nação.

E creio que em todas as críticas formuladas não se trata apenas de reivindicações pecuniárias (como alguns parecem pretender) mas de uma mais profunda preocupação com a própria instituição militar.

Além do mais, é um disparate dizer-se, como muitas vezes se ouve, que o país não necessita de forças armadas porque não estamos em guerra. Não só elas são necessárias em tempo de paz, para o cumprimento das mais variadas missões, como é cada vez mais previsível a eclosão de uma guerra de contornos ainda indefinidos, em que Portugal não ficará indemne. Isso aconteceu com Salazar, mas os tempos eram outros, e qualquer eventual comparação entre o governo de Salazar (por muito que se discorde da personagem) e o actual governo é um insulto à inteligência.

Conviria, pois, que nestes "tempos sombrios", para evocar Hannah Arendt, o presidente da República, como Comandante Supremo das Forças Armadas, tivesse uma palavra, e não se refugiasse em silêncios, que poderão ser, em alguns casos, meritórios, mas não se compadecem com a responsabilidade da Suprema Magistratura da Nação.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não se sabe se sem o serviço militar obrigatório, extinto em hora funesta, as forças armadas são ainda a reserva noral da naçãp. Esperemos que sim.