segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O REFERENDO E A CONSTITUIÇÃO



Realizou-se ontem a 2ª "volta", chamemos-lhe assim, do referendo da nova Constituição egípcia, que se efectuou em dois fins de semana, votando parte do país primeiro e a outra parte depois. Segundo os resultados provisórios, a proposta apresentada pelos Irmãos Muçulmanos obteve 64% do sufrágios, embora tendo votado apenas 30% dos eleitores inscritos.

No sábado, o vice-presidente da República, Mahmud Mekki, resignou.

A Frente de Salvação Nacional, composta pelos partidos laicos, pelos cristãos e pelos muçulmanos não fundamentalistas, clamou já por grosseira fraude eleitoral, e pediu uma investigação, o que prenuncia que a agitação das últimas semanas vai continuar.

Entretanto, o Egipto afunda-se numa profunda crise política, económica, financeira e social, com o turismo, uma das principais fontes de receita, praticamente na estaca zero.

É por demais evidente, que metade do país, pelo menos, rejeita os termos da nova Constituição, que introduz preceitos da lei islâmica. num país em que mais de 10% da população é cristã e em que os muçulmanos não extremistas, e habituados à convivência com os ocidentais (pelo menos através do turismo) não estão dispostos a submeter-se a práticas de um islamismo ancestral.

A grande contestação que existia ao regime de Mubarak, altamente corrupto e  pouco empenhado em atenuar as desigualdades sociais, transformou-se agora em contestação a Morsi, que embora considerado "moderado" tem de satisfazer os sectores religiosos mais extremistas.

Estamos em crer que Morsi será um presidente de transição, e que o Egipto encontrará uma solução de compromisso entre uma população tendencialmente "mais religiosa" e as grandes camadas laicas, cristãs e muçulmanas moderadas mas já habituadas a um certo secularismo, que lhes é veiculado não só por contactos pessoais mas através dos novos meios de informação. Aliás, esse compromisso será vital para a sobrevivência tout court do país  e para que ele possa desempenhar o papel que sempre lhe foi atribuído no seio do mundo árabe.

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