segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"AS BODAS" EM PARIS



A Opéra National de Paris (Bastille) apresenta, integrada na temporada 2012/2013, e durante os meses de Setembro e Outubro, a famosa ópera de Mozart Le Nozze di Figaro, com o título francês (os franceses gostam de traduzir tudo) Les Noces de Figaro.

Trata-se de um espectáculo memorável, em que foi reposta (por Humbert Camerlo) a lendária encenação do falecido Giorgio Strehler (o fundador do Piccolo Teatro di Milano), com cenários e figurinos de Ezio Frigerio que, em outros tempos, trabalhou também para o Teatro Nacional de São Carlos.

A direcção musical esteve a cargo de Evelino Pidò, à frente da orquestra da casa, e as personagens foram interpretadas por cantores de elevado nível, com provas dadas nos principais palcos líricos mundiais.

A programação da Ópera de Paris (Bastille e Palais Garnier) recorda-me um pouco a do São Carlos, algumas décadas atrás. Cito apenas as óperas, omitindo bailado e concertos: Les Contes d'Hoffmann, Capriccio, Les Noces de Figaro, The Rake's Progress, La Fille do Régiment, Tosca, La Cenerentola, Carmen, La Khovantchina, Le Nain, L'Enfant et les Sortilèges, L'Or du Rhin, La Walkyrie, Falstaff, Siegfried, Hänsel et Gretel, La Gioconda, Le Crépuscule des Dieux, Giulio Cesare.

Não se pedia tanto para o São Carlos, nomeadamente em época de crise, mas a indigência em que caiu, já desde há anos, o nosso Teatro lírico suscita a pertinente questão: valerá a pena mantê-lo aberto, em estado agonizante, ou será preferível fechá-lo, para o reabrir em melhores dias?

Mesmo com pouco dinheiro mas alguma imaginação, é sempre possível apresentar espectáculos com um mínimo de dignidade. Não 20 mas dois ou três e alguns complementos caseiros. Também é verdade que a ópera é uma actividade dispendiosa e os recursos consagrados à cultura são em Portugal cada vez mais reduzidos, como se esta (a cultura) não fosse essencial à vida de uma nação. Mas isto são outros contos.

Nem se venha dizer que a ópera é elitista, pois os principais teatros de ópera mundiais, muitos dos quais conheço, apresentam quase sempre lotações esgotadas. E se em alguns deles há um certo número de espectadores que são visitantes ou turistas, a maioria da assistência é composta por autóctones.

Bem me recordo das multidões apinhadas na rampa do Coliseu, em tempos de antanho, para assistir às óperas que, depois da temporada em São Carlos, passavam pelo Coliseu. Se a gente que ali se comprimia para arranjar um lugar na geral (sim, porque o Coliseu naquele tempo tinha geral, antes das obras realizadas para a capital da cultura ou coisa semelhante, de que foi comissário o inefável Vítor Constâncio), não era o povo, então não sei o que é o povo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem vindo dessa capital do Mundo, sim, com maiúscula.
Aplausos totais para o comentário acerca do S. Carlos. De há uns anos a esta parte, tem servido unicamente para colocar os amigalhaços partidários, nada mais. Vil e apagada tristeza, na qual se dsvanece um local que já conheceu tantas glórias, muitas das quais pude constatar.
Marquis

Leitor avulso disse...

Muito bem.