segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A GRANDE CONSPIRAÇÃO


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Transcrevemos, com a devida vénia, o artigo publicado hoje por Tomás Vasques no jornal "i" :

O objectivo de Vítor Gaspar e Passos Coelho é criar as condições que “legitimem” a aplicação do seu programa ideológico, mesmo que criem um país de pobres, sem liberdade

O PSD e o CDS-PP realizaram as suas “jornadas parlamentares” em conjunto, procurando demonstrar uma “nova vida” da coligação que sustenta o governo. Só com uma grande dose de ingenuidade (ou de hipocrisia) se poderá pensar que estas jornadas parlamentares conjuntas relançaram a “coesão” entre os dois partidos. Esta iniciativa, cujos momentos mais visíveis se desenrolaram à volta da TSU e da apresentação do Orçamento de Estado para 2013, só por si não apaga o que ficou para trás; nem vai evitar futuras tensões, enredos e rupturas que resultarão da “refundação” que aí vem. Para já, Paulo Portas foi minimamente convincente: neste encontro dos dois grupos parlamentares, mostrou que decidiu seguir a velha fórmula “se não os podes vencer, junta-te a eles”. Neste momento, o alinhamento comedido patente no seu discurso nas “jornadas parlamentares”, em que, veladamente, procurou alguma diferenciação política com o PSD e com o abismo em que Vítor Gaspar e Passos Coelho vão atolar o país, não pode durar muito tempo sob pena do líder do CDS-PP esgotar definitivamente qualquer possibilidade de liderar o seu partido após a queda deste governo, senão mesmo reduzir o CDS-PP à insignificância eleitoral.

No seu discurso nas “jornadas parlamentares”, Passos Coelho sintetizou numa palavra o que vai acontecer a partir de Novembro, pela mão do seu governo, com a aprovação da proposta de Orçamento de Estado: a “refundação” do Estado. “Não é possível adiar uma reforma mais profunda do Estado” – disse. O que não constitui nenhuma surpresa. Dias antes, o inefável Vítor Gaspar tinha dado o mote, numa frase de antologia: “existe aparentemente um enorme desvio entre o que os portugueses acham que devem ter como funções do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar”. Ou há mais impostos ou há menos Estado, disse o ministro das Finanças. Menos Estado para quem dele mais precisa, obviamente. Menos Estado na saúde, na educação, nas reformas, no desemprego, na protecção social. Nada disto é novo, apesar de muita gente andar distraída. Isto está tudo ligado pelo mesmo fio. Esta “refundação” do Estado foi anunciada por Passos Coelho, em Abril de 2010, no discurso de encerramento do congresso do PSD, no qual foi eleito, pela primeira vez, presidente do partido, ao assumir como principal prioridade política do seu mandato a revisão da Constituição. Um mês depois, explicitou melhor as suas preocupações: que fossem retiradas da Constituição as expressões “tendencialmente gratuito” nos capítulos da saúde e da educação e o conceito de “justa causa” na proibição dos despedimentos. Desde essa altura até hoje, há todo um programa executado deliberadamente para conseguir os objectivos sem que seja necessário fazer a pretendida revisão constitucional – um golpe de Estado permanente. Revisitar as declarações de Passos Coelho que fundamentaram o derrube do último governo ou as que proferiu durante a campanha eleitoral dão-nos a medida desta conspiração neoliberal em curso. O Orçamento do Estado para 2013, agora apresentado, é um dos últimos actos desta encenação. Vítor Gaspar não ignora as consequências para os portugueses, e para a economia, que irão resultar da execução do seu Orçamento para 2013. Ele conhece, melhor do que ninguém, os efeitos devastadores que irá provocar, inclusive no défice orçamental e no aumento da dívida pública. Mas, esse é o objectivo de Vítor Gaspar e Passos Coelho: criar as condições que “legitimem” a aplicação do seu programa ideológico, mesmo que atrás de si deixem um país de pobres, espoliados, endividados, famintos, desempregados, e sem liberdade.

PS – Passos Coelho convidou o PS a participar nesta grande conspiração contra a maioria dos portugueses. António José Seguro parece ter percebido o motivo desse convite, quando respondeu: “O PS não está disponível para nenhuma revisão constitucional que ponha em causa as funções sociais do Estado, que são instrumentos para o combate às desigualdades sociais, para a coesão social e para a solidariedade entre gerações”. No entanto, neste momento de violenta afronta à identidade e à coesão social dos portugueses é preciso ir mais além.

domingo, 28 de outubro de 2012

A SÍRIA DESDE A INDEPENDÊNCIA



Publicado poucas semanas antes do início dos confrontos na Síria, que levaram à actual situação de guerra civil, o livro Quand la Syrie s'éveillera... é uma das melhores obras escritas sobre a história do país desde que ascendeu à independência em 1946.

Os seus autores, Richard Labévière e Talal El-Atrache, conhecem profundamente o Médio Oriente e as linhas com que se cosem e descosem os conflitos na região. E estão particularmente bem informados sobre o que tem sido nos últimos anos o relacionamento entre a França e a Síria. Aliás, o autor do prefácio (a todos os títulos notável) é Alain Chouet, antigo director do Service de Renseignement de Sécurité da DGSE (Direction Générale de la Sécurité Extérieure), não só um especialista em informações mas um homem com um conhecimento particular da história da Síria.

A leitura das oito páginas do prefácio não dispensa naturalmente a leitura das cerca de 400 páginas do livro, mas fornece-nos a chave de compreensão da situação política da Síria durante meio século, exceptuando os acontecimentos trágicos que se verificam desde há mais de um ano, e que são posteriores à redacção da obra.

O livro trata especialmente das relações da Síria com o Líbano, com Israel, com o Iraque, com o Egipto, com os Estados Unidos e o mundo ocidental, com a Rússia e com o Irão. Detém-se na criação do partido Ba'ath, no atentado contra Rafic Hariri, nos presidentes Hafez e Bashar Al-Assad, na progressiva entrada, nos últimos anos, de fundamentalistas wahabitas, enviados pela Arábia Saudita e que estão na génese do actual conflito, na cooperação contra o terrorismo internacional, nunca compreendida pelos EUA, e nas previsões de uma evolução política futura mas que o momento actual desmente. Salienta também o carácter laico do Estado (actualmente o único no mundo árabe depois da queda de Saddam Hussein no Iraque), a convivência normal entre pessoas de diferentes religiões e etnias, a igualdade entre os cidadãos e o caminho traçado por Bashar Al-Assad para uma lenta mas progressiva democratização das instituições.

Os autores inspiraram-se, para o título, numa obra de Alain Peyrefitte que fez sucesso há décadas: Quand la Chine s'éveillera... le monde tremblera. A história confirmou as previsões de Peyrefitte relativamente à China, mas as recentes convulsões do mundo árabe infirmaram as previsões, quanto à Síria, dos dois autores da obra em apreço. Não fora a eclosão da chamada "Primavera Árabe" e penso que estariam no caminho certo.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

NO REINO DOS MORTOS



PORQUE, COMO DISSE KEYNES, A LONGO PRAZO ESTAREMOS TODOS MORTOS, REVISITEMOS O CEMITÉRIO DO PÈRE LACHAISE.

Possui Paris cemitérios famosos, como os de Montmartre ou Montparnasse, onde se encontram sepultadas figuras célebres, mas o cemitério emblemático da capital francesa é o do Père Lachaise, no qual repousam alguns dos mais notáveis vultos franceses e estrangeiros. Além, é claro, das figuras que descansam eternamente nos Invalides, maxime Napoleão Bonaparte, ou no Panthéon, essa antiga igreja hoje templo cívico da pátria gaulesa.

Entre as várias personalidades enterradas no Père Lachaise contam-se os escritores Balzac, Proust, Oscar Wilde, Molière, Colette, Alphonse Daudet, Prudhomme ou Éluard, pintores como Delacroix, Ingres, Modigliani ou Géricault, historiadores, como Braudel ou Michelet, filósofos, como Auguste Comte, egiptólogos, como Champollion ou Vivant Denon, compositores, como Rossini, Chopin, Bellini, Cherubini ou Charpentier, actores, como Sarah Bernhardt, Gilbert Bécaud ou Yves Montand.

Os terrenos foram adquiridos pelos jesuítas no século XVII, dando-lhe o nome de Mont-Louis. Aí edificaram uma casa de repouso, para onde se retirou o mais ilustre de entre eles, o père de La Chaise, confessor de Luís XIV. Depois do atentado de Damiens contra Luís XV, os jesuítas foram expulsos do reino e as construções do Mont-Louis foram então abandonadas aos credores. Napoleão I mandou resgatar a propriedade, que em 1804 se tornou o Cimetière de l'Est.

A mais vasta necrópole da capital é também um esplêndido parque possuidor de essências raras. Verdadeiro labirinto fantasmagórico, este país dos Mortos - ou antes da Morte - oferece aos visitantes uma multidão de áleas e contra-áleas. Recinto místico no meio dos rumores da grande cidade, o Père Lachaise alimenta-se da sua história, dos seus segredos, das suas lendas: necrofilia, vampirismo, prostituição, missas negras...

Uma digressão mais rápida do que o desejável (o Cemitério mede 43 hectares) permitiu registar algumas imagens.




Balzac
Cherubini
Chopin
Delacroix
Géricault
Ingres
Proust
Rossini
Sarah Bernhardt
Vivant Denon
 Wilde

domingo, 21 de outubro de 2012

A MORTE DA LITERATURA



O escritor francês Richard Millet publicou recentemente dois livros que provocaram a maior agitação nos meios literários franceses e mesmo internacionais: Langue fantôme suivi de Éloge littéraire d'Anders Breivik e De l'antiracisme comme terreur littéraire. Trata-se de duas obras polémicas a que já nos referimos neste blogue e merecem uma leitura serena.

No primeiro livro, Millet insurge-se contra aquilo que chama a vulgarização da língua e consequente destruição da literatura. No romance actual, o argumento continua a existir mas o estilo desapareceu. A produção de livros em massa, sem a mínima qualidade e que ninguém lê, contribui decisivamente para a degradação da literatura. Não é possível condensar em algumas linhas as teses de Millet, mas deverá referir-se a passagem em que recorre ao Brave New World, para criticar a globalização anglófona e os seus "danos colaterais": malthusianismo, eugenismo, ditadura do prazer sexual, divertimento obrigatório, propaganda, condicionamento, recusa da solidão e do silêncio, mestiçagem étnico-onomástica, omnipotência da imagem, especialização técnica, interdição dos livros (sendo esta disposição da contra-utopia huxleyana realizada no nosso mundo menos pela censura - hoje rara e só em casos de atentado à vida privada - do que pela insignificância do inumerável e do consensual, já que a nossa civilização produz mais livros do que os que pode consumir, sendo a maior parte inúteis).

Num estilo polémico, Richard Millet que é anti-Estados Unidos, anti-capitalista e anglófobo, diz em voz alta o que muitos calam ou só dizem sottovoce, mas que são coisas demasiado evidentes. O que não significa, evidentemente, que partilhemos integralmente das suas opiniões. Uma das suas mais profundas lamentações é o declínio atingido pela língua e pela literatura francesas e a introdução das novas tecnologias da informação ao "serviço" da literatura.

O apêndice do livro, em que faz o elogio literário de Anders Breivik (talvez para chamar a atenção para as outras publicações), é um texto provocante, mais na linha do segundo livro em apreço.

Neste, De l'antiracisme comme terreur littéraire, Millet denuncia o politicamente correcto e manifesta-se contra a imigração na Europa, especialmente em França e nomeadamente de árabes e negros, a quem acusa de subverterem os valores culturais de um continente cristão. Millet insurge-se contra o bombardeamento da Jugoslávia (estamos com ele), contra a criação de estados mafiosos como o Kosovo e o Montenegro (também estamos com ele) e refere que é em nome da própria democracia que o totalitarismo contemporâneo avança, com os seus "ícones", Jobs, Gates, Zuckerberg, Assange (cujos nomes diz citar não sem repugnância). «Homens que puseram o planeta em rede e que por isso reduziram o espaço interior à artificialidade masturbatória e solipsista da Técnica: olho de Caim, transparência panóptica, insignificância da ubiquidade planetária.»

Esquece-se Millet, contudo, de alguns aspectos: incomoda-o muito a presença de muçulmanos em França, a sua quantidade e a afirmação progressiva dessa presença. É contra o multiculturalismo e denuncia a não integração das outras raças. Uma das razões desta visibilidade foi a política errada da França, durante décadas, encerrando os imigrantes em ghetos, e explorando o seu trabalho barato. Já lá vão algumas gerações. Agora, é tarde. Outra das razões desse "conflito latente", em França como em todo o mundo, é a insolúvel questão palestiniana. Estou em crer que Lord Balfour, ao emitir a Declaração que ficou ligada ao seu nome, não previu que a criação do Estado de Israel na Palestina iria envenenar por décadas as relações entre árabes (e muçulmanos, em geral) e o mundo ocidental (com especial ênfase para ingleses e americanos). Pode haver alguma uniformização do pensamento francês, algum complexo de culpa literariamente traduzido, em relação à questão racial ou étnica. Mas, no essencial, Millet não tem razão e é uma utopia pretender conservar a "pureza" da "raça" gaulesa num mundo de trocas. De resto, durante muitos anos não houve problemas com os imigrantes em França, fossem europeus, magrebinos ou outros.

Já no que respeita às considerações de carácter sexual, só podemos achar que Millet está profundamente equivocado. O escritor, que se assume como branco, cristão, heterossexual, etc., não pode reivindicar essa condição para toda a França, nem esta, por isso, se deterá na marcha inexorável da história.

Assim, e para perceber as verdadeiras preocupações de Richard Millet, e onde se situa a fronteira que separa a razão do preconceito, é indispensável ler estes dois livros. Cada um, depois, julgará por si.

sábado, 20 de outubro de 2012

A NOVA ORDEM MUNDIAL



Pela sua importância, transcrevo, com a devida vénia, o texto hoje publicado no Facebook pelo prof. José Gabriel Pereira Bastos:

a NOVA ORDEM MUNDIAL está a ser construída há décadas, nas nossas costas, pela maçonaria neo-liberal americana (WASP), a qual se julga portadora de uma MISSÃO DIVINA que teria chamado o povo americano a governar o mundo (essa ideia está gravada nas notas de dólar e tem como divisa cultural "In God we trust". O seu grande sacerdote é a família Rockfeller (neste momento David Rockfeller) e os seus rituais secretos internacionais, que vão sempre mudando de cidade, sob proteção de grandes forças policiais e total blakout jornalístico, chamam-se 'Bilderberg', para despistar a atenção pública. Tem (1) uma DIMENSÃO EUGÉNICA, malthusiana, que força a diminuição da população mundial através de (a) meios médicos e (b) do empobrecimento dos Estados semi-periféricos. Tem, sempre teve, (2) uma DIMENSÃO MILITAR, corporizada na NATO, que (a) leva para os USA oficiais de todos os países subordinados (insubordináveis) que, quando regressam já não estão ao serviço dos seus países e se tornam Braços Armados Anti-patrióticos da Americanização do Mundo, como aconteceu com a "Operação Condor", com a implantação de quatro ditaduras militares no extremo-sul da América latina, destinadas a matar sindicalistas e militantes de esquerda e a instaurar o terror submissivo nas populações (b) treina e controla indirectamente os Serviços Secretos da Europa, ao serviço do Pentágono, (c) cria uma indústria militar poderosíssima, que exporta para todo o mundo, levando atrás de si os 'técnicos de manutenção' desse armamento e (d) eproduz invasões militares cirúrgicas em países com muito petróleo (o Irão já está na calha, depois virá a vez da Venezuela, se não for possível pôr a direita no poder). Tem (3) uma DIMENSÃO ECONÓMICA, orientada para implantar as políticas económicas anti-keynesianas de Milton Friedman (como no laboratório que foi o Chile ocupado pelo General norte-americano Pinochet) e de Hayek. Tem (4)) uma DIMENSÃO FINANCEIRA, através da concentração do grande capital nos Estados Unidos e o lançamento de crises como esta, vinda do Goldman Sachs, com exportação dos seus peritos para o Governo de Obama, para o FMI e para o BCE, e para os governos do sul da Europa (Draghi, Monti, Gaspar, Moedas, Borges, em Portugal). Tem (5) uma DIMENSÃO POLÍTICA, de construção de GRANDES INSTITUIÇÕES DE CONTRÔLO MUNDIAL (como a ONU), orientadas para a implantação de um GOVERNO MUNDIAL e de um BANCO MUNDIAL (e aí contam com o apoio dos Internacionalistas das várias Internacionais, a 3ª, a 4ª); a passagem à construção dos ESTADOS UNIDOS DA EUROPA é o paso em curso, a partir da criação do pânico financeiro mediterrânico, para o levar a apoiar uma EUROPA NÃO-DEMOCRÁTICA, PRESIDENCIALISTA, com Presidente Alemão. E, finalmente, tem (6) uma DIMENSÃO CULTURAL, (a) a política cinematográfica de monopólio das redes de distribuição e (b) de criação dA hegemonia de um 'gosto familiar' de divertimento alienado, a Waltdisneylização do mundo, o estilo SIMPSON ou SCHREK-AVATAR, "para todos" e a eliminação do fílme político e do filme europeu, genericamente considerado; esta política é duplicada através da Televisão, com duas faces: o (c) monopólio das séries americanas (e dos filmes na TV) e (d) a introdução de programas de grande "divertimento", normalmente chegados através da sucursal holandesa, de tipo TUDO OU NADA ("the winner takes it all"), que humilham os 'perdedores', como o actual programa do Malato ou o anterior terrível programa do Pedro Granger, programas esses que ensinam a divisa neo-liberal da vida: "o segundo é o primeiro dos últimos (dos 'falhados', da 'escória humana'), sem solidariedade nem partilha... Quem quer ajudar a completar este quadro analítico?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

DA SÍRIA AO LÍBANO



Como era de esperar, e já referi diversas vezes neste blogue, a violência alastra no Médio Oriente. A explosão de um carro armadilhado, esta tarde, no centro de Beirute, vitimou Wissam al-Hassan, alto responsável pelos serviços de segurança libaneses e mais sete pessoas e provocou mais de 80 feridos.

O visado era um opositor do presidente Bashar al-Assad, mas não há, de momento, indicações sobre a autoria do atentado, que poderá ser uma manobra destinada a acusar o presidente sírio.

O clima de guerra civil que se vive há mais de um ano na Síria tenderá a envolver o Líbano, dadas as interpenetrações entre os dois países. Sempre Damasco pretendeu ter uma palavra a dizer sobre a situação política no Líbano, que, aliás, considera fazer parte integrante do seu território, e onde manteve durante anos uma presença militar.

Há que referir também a importante presença do Hezbollah na cena libanesa e as divisões confessionais não só entre cristãos e muçulmanos, mas dentro de cada uma destas religiões.

É de recear uma escalada da violência, como muito bem nota o "Guardian", até porque ela é conveniente para muitos dos actores políticos com interesses na região.

MANUEL ANTÓNIO PINA



Segundo informa o PÚBLICO, o escritor Manuel António Pina faleceu hoje no Porto com 68 anos. Cultivando vários géneros literários (Prémio Camões 2011), foi também um notável jornalista e tive oportunidade de referir os seus escritos neste blogue, nomeadamente aqui e aqui.

Desaparece quando tanto havia ainda a esperar da sua pena, em especial nos tempos que correm. Sentiremos todos a sua falta.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

ALÉM DA AUSTERIDADE, O INSULTO



Vítor Gaspar afirmou ontem, segundo o PÚBLICO: « Pela minha parte, a participação no Governo tem por único propósito retribuir o enorme investimento que o país colocou na minha educação. A minha educação foi extraordinariamente cara. Portugal investiu na minha educação de forma muito generosa durante algumas décadas. É minha obrigação estar disponível para retribuir essa dádiva que o país me deu. (…) Não tenho nenhuma outra espécie de motivo».

Além de ser o autor, defensor e proponente de uma política irrealizável, como de resto é afirmado pelas mais esclarecidas figuras de todos os quadrantes da sociedade portuguesa, Vítor Gaspar, que está a reduzir os portugueses à miséria, permite-se gozar com eles, insultá-los publicamente.

Até quando este indivíduo abusará da beneditina paciência dos portugueses. Não se poderá exterminá-lo? Creio que chegou a altura de o presidente da República, que é suposto ser o último garante das instituições, dizer uma palavra definitiva.

Começo a recear (Eanes já o subentendeu) que se o Governo não cair sozinho, será o Regime que cairá com ele.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O ISLÃO NO LOUVRE



Foi inaugurada no passado dia 18 de Setembro, pelo presidente François Hollande, a nova ala do Museu do Louvre dedicada às artes do Islão. Erigida na cour Visconti, é uma construção de vidro e aço, sustentada por oito pilares e comportando dois níveis de exposição, um no rés-do-chão e outro no piso subterrâneo.

A criação deste novo espaço fora anunciada em 2003 por Jacques Chirac, tendo, cinco anos depois, Nicolas Sarkozy colocado a primeira pedra. O novo departamento é o oitavo do Museu do Louvre, a acrescentar aos de pinturas; antiguidades egípcias; antiguidades gregas, etruscas e romanas; antiguidades orientais; esculturas; objectos de arte; artes gráficas.

A colecção reúne mais de três mil obras, provenientes do próprio Museu do Louvre (muitas das quais nunca haviam sido expostas por falta de espaço) e do Museu das Artes Decorativas e que também se encontravam armazenadas. Especialmente os tapetes, alguns de consideráveis dimensões, que encontraram agora, neste novo espaço, um acolhimento condigno.

A variedade de peças apresentadas é notável, bem como a sua origem, que cobre um território que vai da Andaluzia á Índia. Curiosamente, podem ver-se peças de arte cristã (muitos povos, hoje considerados árabes,  permaneceram cristãos mesmo após a expansão do islão nas suas terras) mas cuja estética se insere na arte islâmica.

Não cabe aqui historiar a chegada de tantas e tão valiosas obras a França. Algumas peças estão no país desde os séculos XIV ou XV, como o famoso "Baptistério de São Luís". O Museum Central des Arts, criado em 1793, é o embrião das colecções sucessivamente enriquecidas e que são agora presentes ao grande público.

Entre as obras mais notáveis figuram o referido Baptistério de São Luís (Síria ou Egipto, c. 1340), a píxide de Al-Mughira (Córdova, 968), o gomil do tesouro de Saint-Denis (Egipto, c. 1000), o candeeiro com patos e felinos (Irão, 2ª metade século XII), a parede de cerâmica otomana de 12 m de comprimento (Turquia, c. 1580). E exemplares extraordinários do Corão, tapetes riquíssimos, porcelanas raras, madeiras trabalhadas, objectos de cristal, de ágata, de jade (reputadamente um antídoto contra os venenos), armas, cofres, espelhos, jóias, manuscritos iluminados, um tal conjunto de preciosidades que se torna impossível descrever.

Aconselha-se, por isso, uma visita "urgente" ao Louvre ou, para quem não tenha essa possibilidade mínima, atendendo aos tempos calamitosos que vivemos, recomenda-se a aquisição do catálogo (550 páginas em papel couché ilustradas a cores), notável, que custa apenas € 39. Um livro que, a ser editado em Portugal, não ficaria por menos de uns € 200.

A não perder.


domingo, 14 de outubro de 2012

MAIS VALE PREVENIR



O Doutor Júlio de Vilhena, político eminente da Monarquia, escreveu no seu livro Antes da Republica - Notas Autobiográficas - Volume I, a páginas 366:

«O conselho de Estado, cujas funções a ditadura suspendera, pois não fôra ouvido na dissolução das côrtes, como era preceito da Carta, tinha sido convocado em 26 sobre uma questão de amnistia. O conselho aproveitara o ensejo para se referir á ditadura.
...............................................................
Foi n'esta sessão que eu disse, perante El-Rei, que a ditadura acabaria por uma revolução ou por um crime. El-Rei olhou fixamente para João Franco.»

PORQUE AS PALAVRAS DE JÚLIO DE VILHENA FORAM PREMONITÓRIAS, IMPORTA REFLECTIR SOBRE ELAS, ESPECIALMENTE EM PERÍODOS DE EMERGÊNCIA NACIONAL.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O NOBEL DA PAZ



O Prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído à União Europeia. A ocasião não poderia ter sido mais bem escolhida. Excluindo a hipótese de se tratar de uma provocação, a concessão poderá ter um significado de despedida. Aliás, a concessão dos prémios Nobel da Paz, da Literatura e da Economia têm quase sempre por detrás motivações que transcendem a compreensão do cidadão comum.

O Nobel da Paz 2012, como que apelando à sustentação de um edifício que se desmorona, lembra-me os celebrados acordos de Munique, com Hitler, nas vésperas da Segunda Guerra  Mundial.

Espero e desejo que esta venera não constitua o prémio de fim de carreira a uma instituição que se afigura agonizante. Oxalá possa ainda insuflar um espírito de concertação e de consertação para evitar uma derrocada fragorosa. Mas duvido.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A DÍVIDA E A DÚVIDA



É um facto que Portugal tem uma elevada dívida externa. E quero aqui referir-me unicamente à dívida do Estado, que é aquela que está a impor aos portugueses a austeridade que se conhece. Não é a primeira vez que se verifica no nosso país uma situação de dívida de significativo montante, aliás como tem acontecido, nos mais variados países, ao longo da história. A propósito destas dívidas, Francisco Louçã, no seu livro "A Dividadura", a que nos referimos, fornece abundantes exemplos.

Aliás, no fim da Primeira República, Portugal estava confrontado com uma difícil situação financeira, tendo o saneamento das contas sido feito por Salazar, depois da Revolução de 1926. Com alguns sacrifícios, certamente, e em termos de gestão doméstica, tão cara à maneira de ser do homem que, durante cerca de meio século, governou o país. Também importa escrever-se que a obtenção de "finanças sãs" não constituía para Salazar um fim mas um meio para a prossecução da sua política de união nacional.

Já na Terceira República, os portugueses sofreram novamente um "aperto" temporário para se restabelecer o equilíbrio financeiro decorrente de uma governação no mínimo descuidada. A coisa recompôs-se, entrámos no euro, e chegámos, por fim, à situação actual, parece que em consequência de uma gestão danosa. E vai de serem exigidos novos sacrifícios aos portugueses, sacrifícios brutais, consecutivos, e sem um fim previsto. Pior, sem uma finalidade política claramente definida, uma vez que se aponta como único desígnio nacional o acesso aos mercados.

Não quero referir-me aqui ao incumprimento das promessas eleitorais do actual primeiro-ministro, uma vez que já não acredito (se alguma vez acreditei) em promessas eleitorais. Mas à incompetência, à leviandade, ao desconhecimento da realidade nacional que este Governo revela. Os sucessivos aumentos de impostos não se traduzem num aumento das receitas fiscais, pois que, a partir de um momento que até já se atingiu, obtém-se o efeito inverso. Todos o sabem. Além do que, a carga fiscal existente provoca, e provocará cada vez mais, uma recessão de efeitos desastrosos. Por isso, não é o aumento de receitas que está em causa, mas a pauperização do povo português, a destruição do estado social, a aniquilação da classe média, e muitas outras coisas que não cabem neste espaço.

O ministro das Finanças, que se afirma um fervoroso adepto de Milton Friedman e da famigerada Escola de Chicago, vive obcecado por modelos teóricos que nada têm a ver com a realidade do país. Ou não sabe o que está a fazer, ou então persegue desígnios que ultrapassam a esfera nacional. A imagem que passou na televisão, em que o ministro alemão Wolfgang Schäuble apontava Vítor Gaspar como um exemplo a seguir é sintomática. A pior coisa que pode acontecer na vida a uma pessoa é ser publicamente elogiada por Schäuble. Et pour cause. Vítor Gaspar mais parece um ministro delegado da troika em Portugal do que um ministro do governo português. O que é extraordinariamente grave em termos de patriotismo e suscita interrogações máximas.

Sabemos todos, ou quase todos, que o governo secreto que gere os destinos de uma parte do planeta tem como objectivo (há uma vasta literatura sobre a matéria, que é classificada como teoria da conspiração) a redução à miséria da maioria dos súbditos dos países (que já deixaram de ter qualquer tipo de soberania) sob a alçada desses poderes, sendo a riqueza reservada para uma ínfima percentagem da população, os cidadãos, por oposição à esmagadora maioria dos escravos. Este plano, arquitectado já há muito tempo, e progressivamente posto em prática, só agora começa a tornar-se visível para a maior parte das pessoas.

Quem achar que isto é teoria da conspiração reflicta no que vai sucedendo dia após dia.

Como o assunto é vasto, regresso ao caso doméstico. Gostaria de saber, porque nunca vi globalmente publicado, o seguinte:

- Quanto deve, na totalidade, o Estado português?
- A quem?
- Quais os prazos de vencimento?
- Quais as taxas de juro?
- A quem pertencem as agências de rating que classificam a dívida portuguesa?

É suposto que essas agências diminuem a classificação dos países e entidades para os prestamistas aumentarem os juros dos empréstimos. E que as mesmas são propriedade dos prestamistas.

E também importaria saber em que governos se contraíram mais empréstimos, e para quê?

E o que realmente impede que se renegoceie o pagamento da dívida em condições que não destruam o país? Como foi feito nas ocasiões anteriores. Tal não se tentando, isso leva realmente a supor que o objectivo último é a destruição definitiva da economia portuguesa.

Também convém debruçar-nos, uns segundos, sobre uma matéria a que regressaremos mais tarde. O desmembramento dos estados. A iniciativa recente da Catalunha de pretender separar-se  da Espanha mais não é (para além de outras razões respeitáveis) do que sacrificar ao princípio do desmantelamento da Europa. Claro que o governo secreto prefere pequenos estados para poder mais facilmente submetê-los à sua ditadura , em nome de falsamente apregoados princípios democráticos. Desmembrou-se a União Soviética, partiu-se a Jugoslávia, o Iraque (ainda em guerra civil) está dividido em três, o plano para a Síria é criar cinco estados (confessionais), a Líbia (onde a autoridade central não funciona) tem, na prática, um governo na Tripolitania e outro na Cirenaica, a Bélgica ameaça cindir-se em Flandres e Valónia, e por aí adiante. Na Itália, de há muito que se acena com a divisão entre o norte (trabalhador) e o sul (preguiçoso). A própria Baviera poderá abandonar a Alemanha.

É por isso que a apregoada questão da dívida suscita uma dúvida.

Realmente, o que está verdadeiramente em jogo?  Pagar uma dívida, o que não se discute, em condições aceitáveis, ainda que excepcionais atendendo ao momento excepcional que se vive na Europa (e no mundo) ou pagá-la "a correr", implicando medidas draconianas? Esta questão suscita a dúvida de que as exigências "internacionais" não passam de um pretexto para a aplicação de políticas que conduzam à destruição não só dos países para já "controlados" como dos que em breve se seguirão.

Devemos estar vigilantes, pois que pelos frutos desta governação ficaremos verdadeiramente a conhecê-la.

MO YAN



O escritor chinês Mo Yan foi hoje galardoado com o Prémio Nobel da Literatura 2012. Existe uma tradução portuguesa de um dos seus romances, publicada em 2007, com o título Peito Grande, Ancas Largas, ao que parece esgotada.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"AS BODAS" EM PARIS



A Opéra National de Paris (Bastille) apresenta, integrada na temporada 2012/2013, e durante os meses de Setembro e Outubro, a famosa ópera de Mozart Le Nozze di Figaro, com o título francês (os franceses gostam de traduzir tudo) Les Noces de Figaro.

Trata-se de um espectáculo memorável, em que foi reposta (por Humbert Camerlo) a lendária encenação do falecido Giorgio Strehler (o fundador do Piccolo Teatro di Milano), com cenários e figurinos de Ezio Frigerio que, em outros tempos, trabalhou também para o Teatro Nacional de São Carlos.

A direcção musical esteve a cargo de Evelino Pidò, à frente da orquestra da casa, e as personagens foram interpretadas por cantores de elevado nível, com provas dadas nos principais palcos líricos mundiais.

A programação da Ópera de Paris (Bastille e Palais Garnier) recorda-me um pouco a do São Carlos, algumas décadas atrás. Cito apenas as óperas, omitindo bailado e concertos: Les Contes d'Hoffmann, Capriccio, Les Noces de Figaro, The Rake's Progress, La Fille do Régiment, Tosca, La Cenerentola, Carmen, La Khovantchina, Le Nain, L'Enfant et les Sortilèges, L'Or du Rhin, La Walkyrie, Falstaff, Siegfried, Hänsel et Gretel, La Gioconda, Le Crépuscule des Dieux, Giulio Cesare.

Não se pedia tanto para o São Carlos, nomeadamente em época de crise, mas a indigência em que caiu, já desde há anos, o nosso Teatro lírico suscita a pertinente questão: valerá a pena mantê-lo aberto, em estado agonizante, ou será preferível fechá-lo, para o reabrir em melhores dias?

Mesmo com pouco dinheiro mas alguma imaginação, é sempre possível apresentar espectáculos com um mínimo de dignidade. Não 20 mas dois ou três e alguns complementos caseiros. Também é verdade que a ópera é uma actividade dispendiosa e os recursos consagrados à cultura são em Portugal cada vez mais reduzidos, como se esta (a cultura) não fosse essencial à vida de uma nação. Mas isto são outros contos.

Nem se venha dizer que a ópera é elitista, pois os principais teatros de ópera mundiais, muitos dos quais conheço, apresentam quase sempre lotações esgotadas. E se em alguns deles há um certo número de espectadores que são visitantes ou turistas, a maioria da assistência é composta por autóctones.

Bem me recordo das multidões apinhadas na rampa do Coliseu, em tempos de antanho, para assistir às óperas que, depois da temporada em São Carlos, passavam pelo Coliseu. Se a gente que ali se comprimia para arranjar um lugar na geral (sim, porque o Coliseu naquele tempo tinha geral, antes das obras realizadas para a capital da cultura ou coisa semelhante, de que foi comissário o inefável Vítor Constâncio), não era o povo, então não sei o que é o povo.