sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O "SUICÍDIO" DE JEAN GENET



O escritor francês Gilles Sebhan publicou em fins de 2010 um interessante livro, Domodossola  - Le suicide de Jean Genet, que adquiri na altura mas só agora tive ocasião de ler. Já lera anteriormente outra obra sua de notável oportunidade e importância, Tony Duvert - L'enfant silencieux (2010), uma homenagem póstuma a este "escritor maldito", celebrizado nos anos 70 (chegou a receber o prémio Médicis) e que, em nome do moralmente correcto, caiu no esquecimento do público e da crítica, e veio a ser encontrado pela polícia, cadáver já em estado de putrefacção, numa casa abandonada de Thoré-la-Rochette, em 20 de Agosto de 2008.

Neste novo livro, Gilles Sebhan estabelece um paralelo entre dois casos que considera semelhantes: um, o suicídio frustrado de Jean Genet, na cidade italiana de Domodossola, em 26 de Maio de 1967 (acontecimento superficialmente referido nas biografias do escritor), por ingestão imoderada de Nembutal, o seu sonífero habitual. Recorde-se que foi exactamente com Nembutal que se suicidou o seu antigo amante, o funâmbulo Abdallah, em 27 de Fevereiro de 1964.

O outro caso é o do próprio Sebhan, relativamente a uma complicada relação também com um jovem árabe, Majed, uma relação que Sebhan acabou por romper e de que não se recompôs, como provavelmente Genet não se conformara com o quase abandono a que votara Abdallah, após as sucessivas quedas deste da corda do circo, que o deixaram incapacitado para o exercício da sua arte.

Em ambos os casos, uma relação difícil com consequências, no primeiro caso fatais e no segundo, de acordo com o autor, desconhecidas. A confirmar aquilo que Frédéric Mitterrand, ex-ministro da Cultura de Sarkozy, descreveu, no seu livro La mauvaise vie, como "la tentation arabe".

Porque a análise "simultânea" dos acontecimentos demonstra um profundo conhecimento psicológico das motivações dos intervenientes, este livro de Gilles Sebhan deve ser apreciado e meditado, independentemente das opções sexuais dos seus leitores.

Sem comentários: