quinta-feira, 2 de agosto de 2012

SODOMA E GOMORRA



A peça Sodome et Gomorrhe, de Jean Giraudoux, estreou-se em Paris, no Teatro Hébertot, em 11 de Outubro de 1943. Integravam o elenco algumas das figuras mais relevantes da cena francesa de então, entre as quais Edwige Feuillère e Gérard Philipe.

Autor de muitas e diversas obras, uma das quais intitulada Portugal, Giraudoux, um dos nomes ilustres da literatura francesa do século passado, tornou-se especialmente conhecido como dramaturgo, contando no activo peças que deram a volta ao mundo, como La guerre de Troie n'aura pas lieu ou, sobretudo, La Folle de Chaillot, apresentada pela primeira vez no nosso país pela Companhia do Teatro Estúdio de Lisboa, das saudosas Helena Félix e Luzia Maria Martins. Outros tempos.

Curiosamente, e ao contrário da maioria das suas demais peças, Sodome et Gomorrhe nunca foi editada em edição de bolso, talvez devido ao seu título sulfuroso. A obra nada tem a ver, ou pouco, ou porventura muito (depende das leituras) com o episódio bíblico da mítica destruição das cidades malditas. A descrição do Génesis constituiu, essa sim, uma maldição para toda a humanidade. Integrado o livro na Torah hebraica, com ela transitou o evento para a Bíblia cristã (no Antigo Testamento) e para o Corão, e em nome desse fantasioso castigo divino foram perseguidas e mortas, ao longo de mais de 20 séculos, muitos milhões de pessoas.

Não vale a pena recordar, porque todos o sabem, o aviso feito pelo anjo a Loth para abandonar a cidade pecaminosa a fim de não perecer no dilúvio de fogo enviado pelo Deus misericordioso. Loth fugiu com a mulher (que virando a cabeça para ver a destruição foi pelo Senhor transformada em estátua de sal) e com as filhas, que avisadamente seguiram em frente e vieram depois a coabitar com o pai, num episódio que hoje seria classificado de incestuoso.

Mas importa recordar que durante séculos os homossexuais foram apelidados de sodomitas e ainda hoje, em árabe clássico, são designados pela palavra liwat, em referência a Loth e ao episódio das escrituras hebraicas.

Em boa verdade, as três religiões monoteístas, as únicas que dispõem de um livro sagrado, não passam de variantes, adaptadas aos tempos, de uma mesma doutrina, cujos efeitos nefastos perduram através dos séculos.

A terminar, uma frase da peça: «C'est que l'homme est convention dans sa mort comme dans sa vie».

1 comentário:

Anónimo disse...

Tem razão o autor do blog. As três religiões são só uma com um cortejo de horrores. Que os fundamentalismos vão aumentar.