terça-feira, 28 de agosto de 2012

JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO



O Nouvel Observateur desta semana (Nº 2494) publica, em quatro páginas,  um excerto do novo livro do escritor e jornalista francês Jean-Claude Guillebaud, Une autre vie est possible, que será apresentado ao público depois de amanhã.

Com o título "Europe: l'espérance trahie", este excerto é uma reflexão sobre o actual pessimismo europeu. Porque o texto, por muitas (ou todas) as razões nos interessa, transcrevemos um parágrafo em que o autor se refere à terceira promessa traída:

«Troisième promesse: l'Europe devait nous permettre de défendre notre propre interprétation - protectrice, redistributrice, sociale-démocrate - de l'économie de marché, laquelle fut théorisée dans l'après-guerre et permit aux pays européens de profiter à plein des Trente Glorieuses. J'ai parlé plus haut du "capitalisme rhénan" et de l'économie sociale de marché, que nous opposions avec raison au capitalisme anglo-saxon. Hélas, trois fois hélas! La social-démocratie européenne - via la Commission de Bruxelles - fut rapidement contaminée par la logique anglo-saxonne. Loin de nous protéger contre une influence venue d'outre-Atlantique, la construction européenne en devint le cheval de Troie et fit entrer ce "modèle" chez nous, en contrebande. Le centre de gravité politique de la Commission de Bruxelles favorisa la chose. Que ladite Commission puisse être présidée par un homme comme l'ancien gauchiste portugais José Manuel Durão Barroso, sans vraies convictions ni caractère, fut le signe de cette dérive.»

Voltaremos ao assunto após a publicação da obra.


N.B.: O destaque da frase é nosso.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O VICE-PRESIDENTE NÃO FUGIU



Ao contrário do que tem sido difundido pelas agências noticiosas e televisões de diversos países árabes e ocidentais, o vice-presidente da República da Síria, Faruq al-Sharaa não fugiu para a Jordânia. Ainda ontem se encontrou em Damasco com o responsável do comité parlamentar iraniano para a segurança nacional e a política externa, Alaeddin Boroujerdi. 

A guerra da contra-informação levada a cabo por alguns países ocidentais, pela Turquia e pelos países do Golfo é realmente espantosa. Ao divulgarem notícias falsas, estão conscientemente a alimentar o conflito na Síria, incentivando os guerrilheiros e aumentando o número de vítimas. Os dirigentes desses países, se o direito internacional existisse, deveriam ser responsabilizados pelo crime de genocídio.

Lamento profundamente as centenas de milhar de mortos, feridos, famílias deslocadas e também a destruição material de que o país está a ser alvo. Espero que as notícias de que, a exemplo do sucedido no Iraque, começou a pilhagem de lugares históricos (por exemplo, Palmira) não tenha confirmação. Sabemos hoje que grande parte dos roubos no Iraque foram levados a cabo pelas forças invasoras e muitos deles encomendados por entidades não de todo desconhecidas.

É por isso que numerosos museus e coleccionadores particulares, recorrendo a esse expediente desde há muitos anos, possuem verdadeiras preciosidades. Enfim!


domingo, 26 de agosto de 2012

OS PURITANOS



 Vincenzo Bellini (1801-1835), natural de Catania (Sicília), autor imortal de Norma,  morreu em Paris, presumivelmente envenenado, nove meses depois da estreia da sua última ópera, I Puritani. Esta obra, cujo libretto o compositor encomendara ao conde Carlo Pepoli, a partir da peça Têtes rondes et cavaliers, de Jacques Ancelot e Xavier Boniface, tem por tema um caso passional ocorrido em Inglaterra no tempo de Cromwell, durante as lutas entre os chamados "puritanos", as outras seitas protestantes e os católicos. Recorde-se que Cromwell foi um dos signatários da ordem para matar o rei Carlos I e pretendeu também mandar executar a rainha viúva, Henriqueta de França, aliás umas das personagens da ópera.

O puritanismo, em sentido geral, é uma das maiores tragédias da Humanidade, responsável por milhões de mortos ao longo de milénios. Está infelizmente consagrado em muitos preceitos das três religiões monoteístas, as religiões do Livro, ou dos Livros (Torah, Bíblia e Corão), mas já existia, ainda que noutra perspectiva, em civilizações anteriores.

O puritanismo, em sentido restrito, refere-se à dissidência do anglicanismo, no tempo da Reforma em Inglaterra, durante o reinado de Isabel I. Provocou uma horrível guerra civil, mas Cromwell, um dos seus arautos, que hoje seria acusado de genocídio, acabou por morrer, em 1658, de morte natural. Sepultado na Abadia de Westminster, com o restabelecimento da monarquia, em 1660, o seu corpo foi desenterrado, pendurado por correntes e decapitado.

Durante a sua curta existência,  Bellini, que era homossexual, segundo o seu biógrafo Herbert Weinstock [a relação central da sua vida foi Francesco Florimo (1800-1888), de uma aldeia próxima de Catania, também compositor e considerado seu herdeiro espiritual e com o qual existe uma correspondência íntima], escreveu 11 óperas, além de outras peças musicais, em que aborda especialmente os amores contrariados ou impossíveis, pelo menos para a época.
  
O clip acima reproduz a cena da loucura de Elvira, de I Puritani, no 2º acto, numa interpretação magistral de Anna Netrebko, com a Orquestra do Metropolitan de Nova Iorque, dirigida por Patrick Summers, e registada em 6 de Janeiro de 2007.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

VÍTOR CONSTÂNCIO NO GERIFALTO



O mundo não pára de nos surpreender!

Aludi, no post anterior, à publicação do livro de Ricardo de Saavedra  António Manuel Couto Viana - Memorial do Coração: Conversa a Quatro Mãos.

Ora, a pág. 113 dessa obra, é referido que Vítor Constâncio, que foi ministro das Finanças, secretário-geral do Partido Socialista, governador do Banco de Portugal e é, actualmente, vice-governador do Banco Central Europeu, se estreou no palco (do teatro; no da política estrear-se-ia mais tarde), no primeiro espectáculo da Companhia de Teatro do Gerifalto, no Teatro da Trindade, em Dezembro de 1956 (tinha então 13 anos), interpretando, com o pseudónimo de António Ribeiro (a mania das máscaras), o protagonista da peça A Ilha do Tesouro, de Goulart Nogueira, baseada no romance de Robert Louis Stevenson, e encenada por António Manuel Couto Viana.

Não seguiu Vítor Constâncio, como todos sabemos e se refere a pág. 254-5 da mesma obra, a carreira do teatro propriamente dito. Mas é inegável que, atendendo às suas capacidades para representar, teria sido um bom actor, embora menos bem remunerado do que nas funções que vem desempenhando ao longo da vida.

COUTO VIANA (III)



Não é a publicação de memórias muito frequente em Portugal nos dias de hoje. Parece que o género caiu em desuso. Por isso se saúda a edição recente de António Manuel Couto Viana - Memorial do Coração: Conversa a Quatro Mãos, da autoria de Ricardo de Saavedra.

Trata-se de um grosso volume (mais de 500 páginas) em que o autor recolheu as suas conversas com Couto Viana ao longo de cinco anos. Mais do que memórias, trata-se de uma biografia, quase diria de uma fotobiografia, atendendo às imagens que integram a obra.

 Tive já ocasião de me referir a António Manuel Couto Viana, neste blogue, por ocasião da sua morte e aquando da rejeição pela Assembleia da República de um voto de pesar pela mesma. Também por isso, não vou proceder aqui a uma crítica deste volumoso livro: não é essa a minha intenção, nem tal seria comportável no espaço convencionalmente reduzido de um post. Assim, apenas umas breves considerações.

Limitar-me-ei, portanto, a meia-dúzia de pontos:

1) Em primeiro lugar deve louvar-se a memória prodigiosa de Couto Viana, que recorda factos passados há muitos anos, mesmo desde quando era criança, com invejável precisão, citando os dias, e muitas vezes as horas; a menos que possuísse um arquivo em que tivesse registado os eventos agora evocados, a capacidade de lembrança é simplesmente assombrosa;

2) A publicação de um livro consagrado à vida e à obra de Couto Viana, ganharia em ser menos volumoso, apesar do autor referir que, por conselho do editor, ainda o amputou de muitas páginas. Se, por um lado, importa ser minucioso, para memória futura, por outro lado, e para um conhecimento geral do biografado, seria mais agradável a leitura de uma obra menos volumosa, que registasse o essencial e omitisse o acidental;

3) Não conheço Ricardo de Saavedra, nem os seus textos,  mas importa registar que o livro está muito bem escrito e muito bem apresentado, o que constitui uma mais-valia para a obra;

4) Deve igualmente registar-se  que Couto Viana foi um homem da direita nacionalista que nunca renegou as suas opções ideológicas e políticas, mesmo quando elas lhe acarretaram dissabores após a queda do Estado Novo, e quando tantos, por oportunismo que não por convicção, efectuaram uma rotação à esquerda de 180º; não censuro, longe de mim tal ideia, os que, por evolução do seu pensamento, alteram sinceramente as suas posições, na política como em qualquer outro campo da vida: há muitos casos desses na História, e até nos nossos familiares e vizinhos. O que me incomoda é as alterações gratuitas de comportamento, por mera conveniência;

5) Durante esta longuíssima entrevista, em que Couto Viana fala da sua actividade como poeta, como dramaturgo infantil, como empresário, como encenador, como actor, etc., verifica-se por vezes (e talvez não pudesse ser doutra forma) um excessivo enaltecimento dos seus méritos e uma como que tentativa de justificação (desnecessária) dos seus actos. Acaso um pouco mais de modéstia nas afirmações (uma vez que o texto é, ou presume-se ser, do autor e não do entrevistador) e confirmações (já que existem factos repetidos) não fosse despicienda;

6) Refere-se Couto Viana, no decorrer da "conversa", a muitos factos da sua vida particular. Lamenta-se que não tenha querido ir mais longe nessa matéria, o que tornaria a entrevista mais fiel e nada desmereceria ao próprio, até porque o seu estatuto de intelectual (e que o não fosse) não ficaria diminuído; pelo contrário, ganharia em autenticidade.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O CASTELO DE SÃO JOÃO BAPTISTA



Divagando por Angra do Heroísmo, é imperioso subir ao Monte Brasil, onde se encontra o Castelo de São João Baptista, mandado edificar por Filipe II, por volta de 1582.


A fortaleza tem hoje uma entrada especial, de serviço e para visitantes, mas existe ainda a velha porta de armas original, habitualmente fechada mas que consegui franquear, e que dá acesso à praça onde se encontra a  igreja do aquartelamento. O castelo, também chamado de São Filipe (et pour cause) é uma das maiores edificações militares construídas pelos espanhóis e destinava-se especialmente à protecção dos navios que, ao serviço do filho de Carlos Quinto, efectuavam o trajecto entre a mãe-pátria e as Índias Ocidentais.

A TUNÍSIA SEM BARBAS NEM VÉUS


Un dernier trait de couleur, une bouche gourmande sur la vie à venir, sur le rêve tunisien qu’on s’organise à massacrer consciencieusement jusqu’à transformer le mot révolution en simple révolte… barbes noires, voiles et obscurantisme… Mais la Tunisie, la vraie, la vivante, est bien là, sur cette bouche ouverte à tous les plaisirs de la vie à croquer.

O escritor francês Michel Giliberti, que nasceu (e habita) na Tunísia (próximo de Bizerte), em 1950, é um observador privilegiado daquele país (na verdade, o seu país) que ama profundamente.

Também pintor e fotógrafo excepcional, Michel Giliberti é um homem de inexcedível bom gosto, como o atestam as imagens que publica continuadamente no seu blogue, e que nos vão dando, ao longo do tempo, o retrato da verdadeira Tunísia, para lá dos discursos oficiais, ditatoriais ou democráticos,  laicos ou religiosos.

Não está, não poderia estar, Michel Giliberti de acordo com as tentativas de islamização da sociedade tunisina, a mais "laica", se assim me posso exprimir, de todo o mundo árabe. Por isso, e com a devida vénia, decidi publicar neste post a imagem acima (acompanhada da respectiva legenda) que fui buscar ao seu blogue.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CONFLITO DA SÍRIA ALASTRA AO LÍBANO



O conflito que há mais de um ano abala a Síria, estende-se agora ao vizinho Líbano e em breve abrasará todo o Médio Oriente. Uma excelente oportunidade para os negociantes de armas e para todos aqueles que lucram com as tragédias alheias.

Conforme se lê aqui, registaram-se ontem violentos confrontos entre muçulmanos sunitas e alauítas em Tripoli, a segunda cidade do Líbano, tendo provocado pelo menos sete mortos e 70 feridos. Verificaram-se, igualmente consideráveis danos materiais em edifícios, lojas, viaturas, etc.

A desinformação dos principais órgãos de comunicação internacionais muito tem contribuído para o agravar da situação na região. A própria cadeia Al Jazira não fez, até o momento, qualquer referência a estes acontecimentos. Como não fez à tentativa de golpe de estado no Qatar, ocorrida há pouco tempo e à agitação subterrânea nas monarquias do Golfo..

Poderá muito bem acontecer que as contas lhes saiam trocadas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

VIDAS PERIGOSAS



Lendo o Journal de Julien Green, fui parar ao escritor Francis Carco (1886-1958), autor de vasta obra, que recebeu em 1923 o Grand Prix du roman da Academia Francesa (L'Homme traqué) e foi eleito em 1937 membro da Academia Goncourt.

Escreve Julien Green: «Relu Jésus-la-Caille qui m'a paru excellent d'un bout à l'autre. On y cherchera en vain une faute, une vulgarité. Ce sujet extraordinairement scabreux est traité sans fausse pudeur.»

Trata-se, realmente, de uma incursão percuciente nos bas-fonds de Paris, escrita no mais vernáculo calão utilizado pelos prostitutos, prostitutas, proxenetas, contrabandistas e outros fora-da-lei que povoavam a capital francesa na primeira metade do século passado. O negócio, hoje, é semelhante, mas o recurso à internet, à televisão, aos telemóveis e a outros meios de comunicação, facilitou os contactos, embora retirando-lhes a aura romanesca de outrora. Dirão muitos que o resultado é idêntico, presumo que seja bem diferente.

De leitura obviamente difícil, o livro conta a história de Jésus-la-Caille, proxeneta homossexual, que acaba por conhecer, por uma primeira vez, o amor de uma mulher. A sua alcunha tem, nesse calão, um significado que importa explicar: "Jésus" é o termo utilizado para designar um adolescente homossexual que se prostitui habitualmente com homens. Melhor, era o termo, porque a palavra caiu em desuso. "Caille", que também quer dizer codorniz, tinha, nos bas-fonds, o sentido de algo sujo, depreciativo, desprezível.

A estória, que, como diz Julien Green, trata sem falsos pudores um tema particularmente escabroso, nada omite do percurso de Jésus-la-Caille, sem alguma vez cair na vulgaridade. Só poderia ter sido escrita por alguém que conhecesse bem o meio que descreve e as personagens que nele se movimentam.

Aliás, no fim do prefácio, Francis Carco, que partilhou também uma vida de boémia com Apollinaire, Max Jacob ou Modigliani,  poupa-nos a dúvida: «Jésus-la-Caille, c'est moi.»

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ROBIN VAN PERSIE



O jogador (internacional) holandês Robin van Persie (agora já com 29 anos) assinou, por 12 milhões de libras, um contrato de um ano com o Manchester United, clube onde vai ser colega de Nani, e por onde já passou Cristiano Ronaldo (então com 18 anos). Não há dúvida que este clube tem beneficiado de uma chuva de estrelas, certamente pelo mérito do seu treinador, o prestigiado Sir Alex Ferguson.

No futebol, é assim.

BILLY BUDD (II)



A famosa novela Billy Budd, de Herman Melville, a que nos referimos no post anterior, foi editada pela primeira vez em português, há já muitos anos, na Colecção Miniatura das edições Livros do Brasil, numa tradução de José Estêvão Sasportes.

Acrescenta-se que o libretto da ópera de Britten, sobre a obra de Melville, foi escrito por E.M. Forster (mundialmente conhecido) e Eric Crozier, que era amigo muito ligado ao compositor e que encenara a primeira ópera de Britten, Peter Grimes (1945), e fora autor do libretto  da ópera Albert Herring, que Britten apresentara em 1947.

Recorde-se que Britten fundou com o tenor Peter Pears, seu companheiro de toda a vida, e com Eric Crozier o Festival de Aldeburgh em 1948. Tendo Britten nascido em Novembro de 1913, o Festival apresentará de Novembro deste ano até Novembro do próximo ano um programa especial de homenagem ao compositor.

BILLY BUDD



Benjamin Britten (1913-1976) é o mais famoso compositor britânico do século XX. Algumas das suas óperas, entre os vários géneros musicais que cultivou, ficaram célebres, especialmente aquelas em que utilizou obras saídas da pena de grandes escritores e cuja temática incidia sobre jovens.

Entre essas, devem mencionar-se Peter Grimes, a partir do poema The Borough, de George Crabbe, Billy Budd, a partir da novela homónima de Herman Melville, The Turn of the Screw, a partir da novela homónima de Henry James e Death in Venice, a partir do conto homónimo de Thomas Mann.

O clip refere-se à extraordinária produção de Billy Budd, apresentada em 2010, no Festival de Glyndebourne, com encenação de Michael Grandage e direcção musical de Mark Elder, à frente da London Philharmonic Orchestra.

Indispensável.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ISRAEL PREPARA-SE PARA ATACAR O IRÃO


A escalada do conflito na Síria e as suas prováveis implicações em todo o Médio Oriente levam Israel a encarar cada vez mais seriamente um ataque ao Irão. Segundo o jornal "i", o país está preparado para uma guerra de 30 dias, previsão curiosa do ministro da Defesa Interna, na medida em que uma confrontação na região terá consequências que nem os mais experientes membros dos serviços secretos israelitas, para já não falar do governo, serão capazes de avaliar.

Pela importância das afirmações do governante, transcrevemos a notícia daquele jornal:

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O CURDISTÃO


Os violentos confrontos que se registam há mais de um ano na Síria entre uma oposição fragmentada (e criminosa, como se pode comprovar não só pelos vídeos divulgados mas pelas afirmações do próprio Human Rights Watch e de outras organizações internacionais) e o regime do presidente Bashar Al-Assad, causaram até hoje mais de 20.000 mortos, além dos feridos, desalojados, expatriados e destruições de toda a ordem.

A sublevação contra o regime, na sequência das revoluções da chamada Primavera Árabe (que levaram à queda de algumas ditaduras mais ou menos laicas, agora progressivamente substituídas por outras ditaduras religiosas), devido, talvez, a uma exagerada repressão inicial, conduziu a uma espiral de violência com as consequências que se conhecem.

Não é meu propósito dissertar agora sobre o regime sírio (o que já fiz, por diversas vezes, em outros posts) mas realçar um aspecto ainda não devidamente tratado na comunicação social, com algumas excepções: a questão curda.

O desmembramento do Império Otomano, após a Primeira Guerra Mundial, criou vários estados com fronteiras artificiais, em resultado de um sinistro e secreto acordo celebrado entre a Grã-Bretanha e a França, que ficou conhecido pelo nome dos seus negociadores: Mark Sykes e Georges Picot. Celebrado em 1916, o Acordo Sykes/Picot previa que as duas potências coloniais ficassem a administrar os territórios que configurariam os futuros estados da Síria, do Iraque, do Líbano, e por fim de Israel. Traçadas as fronteiras mais ou menos a régua e esquadro (como se verificou em África), devido à inépcia dos negociadores e aos inconfessáveis interesses britânicos e franceses, ficaram de fora do arranjo, até hoje, dois povos: os curdos e os palestinianos. Embora em circunstâncias diferentes.

Habitavam, e habitam, os curdos um território que hoje se encontra repartido pela Turquia, Síria, Iraque e Irão. Mas nunca desistiram de possuir o seu estado. Durante anos, pelo menos até 2000, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) lutou contra o governo turco, num conflito que causou mais de 40.000 mortos. E lutou também contra o regime de Saddam Hussein, no Iraque. São os curdos a maior etnia mundial sem estado próprio (cerca de 30 milhões de pessoas).

Não sabemos, neste momento, qual vai ser o desfecho da situação na Síria, até porque os países que apoiam directa ou indirectamente as partes em confronto se encontram cada vez mais confusos quanto às posições finais a adoptar. Sendo a Síria um estado composto por uma população que professa cerca de 20 credos e que pertence a diversas etnias, e parecendo difícil, depois de tantos mortos, a manutenção no poder do clã Assad numa Síria com as fronteiras actuais, tem sido considerada a hipótese da redefinição das fronteiras do país, o que constituiria um precedente (certamente grave) em termos de comunidade internacional, mas que já se verificou na Jugoslávia. E é por demais evidente que as fronteiras do Médio Oriente, traçadas na sequência do citado Acordo, não têm qualquer correspondência com a realidade actual. Aliás, já não tinham naquela  época.


Têm, assim, os curdos que habitam na Síria a oportunidade de promoverem a criação de um estado autónomo, embrião de um estado mais vasto que englobaria também o norte do Iraque (já de certa forma federado),  uma parcela do Irão ocidental e larga parte do território da Turquia, cujos governantes nem sequer desejam ouvir falar do assunto. Por isso, o apoio do governo de Erdogan aos oposicionistas sírios parece, à primeira vista, mais ou menos suicida.

A própria "comunidade internacional" começa já a achar que o apoio prestado aos rebeldes sírios (e já antes aos revoltosos tunisinos, egípcios, líbios, etc.) foi uma jogada infeliz na perspectiva dos seus interesses próprios. E ainda a procissão vai no adro.

Voltando ao início. Perfilha-se no horizonte o nascimento do Curdistão. E espera-se que também o da Palestina. Talvez seja necessário muito sangue para redefinir as fronteiras do Oriente Médio. Mas nada ficará como está. É apenas uma questão de tempo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A "MOCIDADE PORTUGUESA"


O presidente do Comité Olímpico Português, Vicente Moura, propôs hoje, na televisão, «a reactivação da Mocidade Portuguesa, mas sem conotações políticas».

Se alguma coisa ainda me espantasse, teria ficado surpreendido com esta afirmação. Com 74 anos, Vicente Moura deveria saber que a Mocidade Portuguesa existia, exactamente, com fins políticos, ainda que se lhe possam creditar alguns, por vezes relevantes,  serviços ao desporto e à cultura. Especialmente numa época em que, tanto a um como a outra, não lhes era atribuída particular importância no discurso da vida nacional.

A Mocidade Portuguesa, a exemplo das "juventudes" de outros países, foi criada num determinado contexto político e com uma vocação específica, que aliás nunca cumpriu cabalmente, para satisfação de uns e desagrado de outros.

Não me parece, pois, viável, ou mesmo oportuna, a sua "ressurreição". O que julgo indispensável, e mesmo inadiável, é a remodelação das estruturas desportivas, nomeadamente daquelas que têm a responsabilidade de preparar atletas para participações internacionais consideradas de prestígio, como é o caso dos Jogos Olímpicos. Para obter resultados como os que se registaram este ano, mais vale não comparecer.

domingo, 12 de agosto de 2012

GOLPE DE TEATRO NO EGIPTO



O presidente da República do Egipto, Mohamed Morsi, demitiu hoje das suas funções o marechal Mohamed Hussein Tantawi, presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) e ministro da Defesa. Foram  também demitidos o tenente-general Sami Hafez Anan, que exercia as funções de vice-presidente do CSFA e de chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e os chefes de Estado-Maior do Exército, da Marinha e da Força Aérea. A semana passada, o presidente demitira já o Chefe dos Serviços de Informações, general Murad Mu'afi.

Para substituir Tantawi, Morsi nomeou Abdul-Fatah El-Sessi. Para substituir Anan foi designado Sidki Sayed Ahmed. O juiz Mahmud Mekki foi nomeado vice-presidente da República.

Morsi anulou ainda as alterações à Constituição ainda vigente, efectuadas pelo CSFA antes da eleições, e que restringiam largamente os poderes presidenciais.

O anúncio desta surpreendente remodelação foi anunciado há horas, na televisão estatal, por um porta-voz do presidente da República. Trata-se de uma prova de força entre a Irmandade Muçulmana, de que Morsi faz parte, e os militares, e não é certo que as Forças Armadas acatem a decisão presidencial

Aguardam-se, pois, as reacções das próximas horas, tanto no Egipto como a nível internacional.


NELSON ÉVORA, O GRANDE AUSENTE


A medíocre prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Londres (angariados por Tony Blair com o recurso a processos venais, segundo o maire de Paris, Bertrand Delanoë), levanta uma vez mais a questão da nossa participação nesta competição internacional. Valerá  a pena o investimento efectuado em tantas modalidades para sermos desqualificados em todas elas, ou quase? Digamos que a medalha de prata obtida resgatou a honra da Pátria. É evidente que constitui uma obrigação, diria que política, a presença portuguesa na competição olímpica, mas, especialmente em épocas de crise, talvez fosse mais avisado aplicar os recursos disponíveis nos atletas potencialmente mais aptos e nas modalidades mais gratificantes. Uma sugestão que não agradará a muita gente, cuja aplicação não será fácil, mas sobre a qual importaria reflectir. Uma melhor repartição das bolsas por atletas de créditos minimamente firmados e uma redução das estruturas burocráticas que funcionam todo o ano para jogos quadrienais permitiria uma especialização mais adequada aos fins em vista. Há muitos interesses em jogo, que não exclusivamente desportivos, mas impõe-se alguma moderação na utilização dos recursos. E também na selecção dos participantes. Em nome do prestígio de Portugal.


É um facto que o grande ausente desta competição é o atleta Nelson Évora, que, já muita galardoado em provas anteriores, obteve a medalha de ouro no triplo salto dos Jogos Olímpicos de Pequim, de 2008.


Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim em 20 de Abril de 1984, filho de pais cabo-verdianos, adquiriu em 2002 a nacionalidade portuguesa e é dotado de indiscutíveis capacidades que o têm habilitado a notáveis desempenhos nos mais variados palcos. Além disso, é uma daquelas pessoas que irradia simpatia, qualidade não despicienda num atleta de alta competição. A sua ausência da cena londrina, devido a lesão, constituiu uma menos valia para a representação portuguesa

Estádio

Os Jogos Olímpicos eram os mais importantes dos Jogos Pan-Helénicos. Celebravam-se de quatro em quatro anos em Olímpia,  remontam a 776 A.C. e eram celebrados em honra de Zeus (e também de Hércules e de Pélops). Terminaram em 393 D.C., por ordem do imperador Teodósio I (ou 426 D.C., por ordem do imperador Teodósio II),  por terem sido considerados pagãos. A diferença de datas tem a ver com as disposições do Teodósio I , reputando tais celebrações de pagãs ou de seu neto Teodósio II, mandando encerrar os templos. Os outros jogos, que convocavam igualmente toda a Grécia, eram os Jogos Píticos, que se realizavam em Delfos, em honra de Apolo, também em Agosto e de quatro em quatro anos, alternando com os Olímpicos e iniciados em 582 A.C. Havia ainda os Jogos Nemeus, celebrados em Nemeia, em honra de Zeus, desde 573 A.C. e os Jogos Ístmicos, celebrados em Corinto, junto ao Istmo, em honra de Poséidon, desde 581 A.C.

No tempo de Píndaro, os Jogos Olímpicos incluíam as seguintes provas:

- Corrida: estádio (200 m), para homens
                estádio, para rapazes
                "diaulos" (400 m)
                "dolichos" (2.400 m)
                corrida revestido de armas
- Luta: para homens
           para rapazes
- Pugilato: para homens
                para rapazes
- Pancrácio (luta e pugilato combinados)
- Pentatlo: salto, corrida, disco, dardo, luta

O comprimento das provas ainda está sujeito a controvérsia e variou com o tempo, tendo sido também incluídas posteriormente outras modalidades, como as corridas de cavalos.

Não existia a prova, hoje famosa, da maratona, que tem a ver com um acontecimento histórico da Grécia Antiga.

Ruínas do Templo de Zeus

Durante o período dos Jogos eram suspensas guerras, vinganças ou rixas pessoais. As mulheres estavam excluídas das competições e os atletas disputavam as provas completamente nus. Não existiam prémios pecuniários, lutando-se unicamente pela honra (coisa que hoje seria incompreensível e perturbaria seriamente os espíritos). A recompensa era uma coroa de folhas de oliveira brava.

Um lutador

Os Jogos Olímpicos foram ressuscitados em 1859, em Atenas, por iniciativa de Evangelis Zappas. Entusiasmado com a ideia, o Barão Pierre de Coubertin criou o Comité Olímpico Internacional, que promoveu, em Atenas,  os primeiros Jogos da era moderna em 1896.

Zeus e Ganimedes

Como a maioria das competições desportivas, os Jogos Olímpicos são hoje um negócio à escala internacional. Tão importante como a vitória nas provas é, nos nossos dias, o dinheiro que circula pelas mais variadas e inesperadas mãos. O ideal olímpico, que vigorava na Antiga Grécia, mesmo com as entorses sofridas ao longo dos séculos, nada tinha a ver com as celebrações actuais. Os jogos, sendo competições desportivas, realçavam também o aspecto estético, e muitos dos vencedores foram imortalizados no mármore das estátuas que os representaram. Uma vertente que os romanos, quando já cristianizados, consideraram pagã e que hoje suscitaria, sem dúvida, as mais sérias reservas aos guardiães da moral pública.

Hermes (de Praxíteles)


YANNICK DJALÓ (VIII)



Segundo o "Correio da Manhã" verificou-se novo desentendimento entre o jogador Yannick Djaló e a sua ex-mulher Luciana Abreu.

Porque do incidente resultaram objectos partidos, certamente não os mais importantes (com o que nos congratulamos), transcrevemos a notícia daquele jornal:

Depois de terem tentado dar uma segunda oportunidade ao casamento, Luciana Abreu, 27 anos, e Yannick Djaló, 26, decidiram agora avançar com o divórcio. A decisão aconteceu depois de a cantora se ter dirigido a casa do jogador do Benfica, no Penteado, Moita, anteontem, acabando numa acesa discussão.

"Ela chegou lá a discutir com ele. Descontrolou-se e começou a partir o que lhe aparecia à frente. Partiu duas televisões e peças de decoração que ele tinha, tipo jarras e coisas assim", revela um amigo do futebolista.

Contactado pelo CM, Yannick Djaló preferiu não adiantar pormenores sobre o sucedido, revelando apenas: "Educadamente convidei a minha ex-mulher a sair da minha casa e a dirigir-se para a dela".

Momentos depois, Luciana emitiu um comunicado no qual acusou Yannick de não ser "um pai à altura, nem um marido com seriedade". "Não posso continuar com alguém que optou por colocar férias e compras de carros à frente do sustento dos filhos nos últimos três meses", revelou.

Quanto ao Porsche Panamera, de 212 mil euros, que está a ser disputado pelo casal, ainda continua retido numa garagem no Montijo. 

Sempre pensei que este casamento não teria futuro. E não me enganei

sábado, 11 de agosto de 2012

DA "JIHAD" NA SÍRIA




Un homme armé disant appartenir à un groupe jihadiste nommé


A partir de uma referência no blogue "Árvores Despidas", de Felipe de Araújo Ribeiro.

« Nous ferons un État islamique jusqu’au Liban, où ils ont des putes et des casinos »
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OLJ/AFP | 10/08/2012




Un homme armé disant appartenir à un groupe jihadiste nommé "Shura Taliban Islam" est assis devant un graffiti disant qu'"Il n'y d'autre Dieu que Dieu"  le 21 juillet 2012, au poste frontière de Bab el-Hawa, entre la Syrie et la Turquie. AFP/BULENT KILIC
Syrie En Syrie, « les groupes jihadistes ont gagné en visibilité et en poids. Mais militairement, ils jouent les seconds rôles ».

Affalé sur un matelas, Mohammad Sensaoui ponctue ses phrases avec une baguette. « Vous voyez, j’ai une barbe et pas de moustache. Normal, je suis salafiste », dit ce rebelle syrien. Autour de lui, des combattants islamistes et une poignée d’étrangers. Ces combattants contrôlent depuis juillet Bab el-Hawa, un poste-frontière entre la Syrie et la Turquie. Ils sont quelques dizaines, régulièrement bombardés par les chars de l’armée régulière. Le drapeau islamiste noir à lettres blanches claque au sommet du campement. Une quinzaine d’hommes en armes, la plupart syriens, dorment ou jouent avec leur kalachnikov. À l’écart, certains n’ont pas l’air du coin.

« Nous ferons un État islamique jusqu’au Liban, où ils ont des putes et des casinos », lance Mohammad Sensaoui. Cet ancien entraîneur de natation a combattu à Damas. Il vitupère l’Occident et l’armée syrienne. Et les homosexuels « iraniens » dont il imite la copulation en se frottant les paumes. À l’intérieur du poste-frontière, des bouteilles de whisky brisées jonchent le sol près du Duty Free pillé par les rebelles. Sur un mur : « L’islam est la solution. » « Quand nous gagnerons, ce sera œil pour œil. Ceux qui se rendront seront pardonnés, les autres seront tués », dit-il.




Les rebelles contrôlant le poste-frontière sont commandés par un ancien dentiste syrien, Mohammad Firas, qui dirige le « Conseil consultatif national », une appellation courante pour les groupes islamistes, et revendique 10 000 combattants. Il minimise l’importance de l’Armée syrienne libre, « un groupe parmi d’autres », et annonce déjà une lutte pour le pouvoir. « On verra après la chute du régime qui est le plus fort sur le terrain et qui peut gouverner le pays », dit-il. « Nous ne représentons pas el-Qaëda en Syrie. Nous menons des opérations à Idleb, Homs, Hama, Alep et Damas. Notre objectif est de propager notre mode de vie et de combattre l’armée », explique-t-il.
Depuis plusieurs semaines, les médias occidentaux font état d’une présence grandissante de combattants islamistes. Mais les combattants étrangers sont rares, et la majorité des groupes armés n’est pas constituée d’islamistes. À Anadane, à l’ouest d’Alep, un officier supérieur déserteur se dit « contre les islamistes ». « Sur 4 000 à 5 000 rebelles à Alep, 50 à 100 ont un programme islamiste radical », relativise le chef du Conseil militaire rebelle d’Alep, le colonel Abdel Jabar al-Oqaïdi.

Pour Peter Harling, analyste à l’International Crisis Group, « le spectre va de la rébellion classique aux groupes jihadistes radicaux qui ont recours à la rhétorique et aux symboles d’el-Qaëda ». « Les groupes jihadistes ont gagné en visibilité et en poids. Mais militairement, ils jouent les seconds rôles », ajoute-t-il. Hassan Abou Haniyeh, un expert des groupes islamistes à Amman, rappelle que, « de 2003 à 2006, la plupart des jihadistes se rendant en Irak venaient de Syrie ». Ces groupes ont longtemps été dirigés en sous-main par les services de renseignements syriens. Mais ils ont pris leur indépendance. « Toutes les conditions sont réunies pour qu’el-Qaëda et les salafistes s’enracinent dans le pays. Le régime a perdu des pans entiers du pays et el-Qaëda s’implante justement quand il n’y a plus d’État », rappelle-t-il.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O CORPO DESCOBERTO



Foi prolongada até ao próximo dia 26 a notável exposição que o Institut du Monde Arabe (IMA) apresenta em Paris: "Le Corps Découvert".

Abrangendo cerca de 200 obras, de mais de 70 artistas, esta exposição, única no género, revela a existência de uma cena artística árabe, que ousa transgredir os tabus do conservadorismo social, desafiando o fanatismo religioso e enfrentando os preconceitos.

Inaugurada em Abril passado, a exposição,  que regista um número excepcional de visitantes, apresenta obras de artistas argelinos, egípcios, iraquianos, kuwaitianos, libaneses, marroquinos, palestinianos, sauditas, sírios, sudaneses, tunisinos e  turcos, muitos deles vivendo na diáspora.

Como diz Renaud Muselier, presidente do Haut Conseil do IMA, no excelente catálogo, «Le parcours de l'exposition, organisé autour de thématiques variées, montre un corps qui se revèle divers, contradictoire et jamais unifié: figure de gloire pour les uns qui sanctifient sa beauté, figure de souffrance pour d'autres, ou figure propice, pour certains, aux mises en abyme de la sexualité ou à d'inquiétantes mutations...».

Alguns artistas preferem pôr em cena não o corpo, mas o seu desaparecimento ou a sua evocação. Apesar de os nus dominarem, os modelos vestidos não os desautorizam, porque, como dizia Lucien Freud, «Quando pinto vestuário, pinto realmente pessoas nuas cobertas por vestuário».

A exposição terá sido, julgo, encorajada pela chamada "Primavera Árabe", mas, pelo desenrolar dos acontecimentos, não sei se merecerá o aplauso dos dirigentes religiosos que substituíram os dirigentes mais ou menos laicos derrubados pelas revoluções. As obras expostas, que  vão do final do século XIX aos nossos dias,  mostram que, apesar da censura social, e também da legislação penal, os árabes, que sempre prezaram o corpo (o seu e o alheio), não ficaram indiferentes, durante um século, à  representação artística desse corpo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O REMÉDIO CONTRA A DÍVIDA


Pela sua importância, transcrevemos o editorial de Laurent Joffrin, publicado no Nouvel Observateur desta semana (nº 2491 - 2 a 8 de Agosto 2012):




BCE : le vrai remède contre la crise de la dette

En dépit du dogme libéral, racheter les bons émis par les Etats permettrait de desserrer le carcan qui les emprisonne.

Georges Brassens a raconté l'histoire de Corne d'Aurochs, ce personnage buté, mort pour avoir refusé le médicament dû à un Allemand. L'Europe aujourd'hui risque le même sort. Elle refuse de prendre le médicament qui la sauverait parce qu'il est dû à un Anglais : John Maynard Keynes. Un préjugé stupide empêche en effet les gouvernements européens voués à l'orthodoxie libérale de se dégager de la crise de la dette.

On ne le répétera jamais assez : il leur suffirait pourtant de demander à leur banque centrale de financer les Etats endettés. Le fardeau qui les paralyse serait allégé et les marchés qui craignent la faillite de leurs débiteurs seraient rassurés. Seulement voilà, il faudrait contredire l'establishment bancaire et abjurer le dogme qu'il impose depuis des décennies aux peuples.

Trois solutions
Il n'y a pourtant pas 100 solutions pour sortir du piège. Si l'on excepte la condamnation des créanciers pour sorcellerie, la saisie des biens des Templiers ou la guerre de conquête, qui permettaient autrefois aux rois endettés de faire face, on ne trouvera que trois remèdes.

1. Poursuivre dans la voie choisie depuis deux ans, c'est-à-dire exiger des peuples une livre de chair. Outre que cette politique d'austérité provoque des souffrances inédites en Europe depuis la guerre, elle est en passe de plonger le continent dans une récession qui asséchera les recettes fiscales et rendra le remboursement encore plus difficile. On choisit l'austérité pour éviter la banqueroute. On aura l'austérité et la banqueroute.

2. On peut déclarer qu'on ne paiera pas. Les pays les plus atteints, la Grèce en tête, annonceraient un beau matin qu'ils renoncent à rembourser leurs créanciers. Outre que ces créanciers ne sont pas tous riches et que le défaut appauvrirait d'un coup une partie des classes moyennes, les pays concernés se couperaient de tout crédit. Qui prête à un mauvais payeur ?
Pour continuer à verser les salaires de leurs fonctionnaires, il leur faudrait rétablir leur monnaie nationale, sérieusement dévaluée, autrement dit faire voler en éclats la zone euro. Cette panique égoïste créerait un pandémonium financier et ferait reculer l'Europe politique de 30 ans.

3. La troisième solution, si elle n'a rien d'enthousiasmant, est la seule raisonnable. Comme le fait la Réserve fédérale, comme le fait la Banque d'Angleterre, la Banque centrale européenne serait conviée poliment mais fermement à racheter les bons émis par les Etats. Les créanciers auraient la certitude de revoir la couleur de leur argent et les Etats verraient se desserrer le carcan qui les emprisonne.

Les banquiers décident à la place des électeurs
Gouvernements et marchés en seraient confortés et les peuples appelés à un effort supportable, en lieu et place d'une austérité mortifère. Bien sûr, c'est un expédient. Il ne dispense d'aucune réforme de structure, celle qui rééquilibrerait le budget à terme ou celle qui verrait les marchés remis à leur place par une régulation sérieuse.
Bien sûr, il y faudrait une prudence de chat pour éviter que la création monétaire induite ne débouche sur une crise inflationniste. Mais il y a de la marge. Nous sommes en déflation. Brandir aujourd'hui le risque d'inflation, c'est dénoncer les risques de la chaleur en plein hiver.
Irréalisme ? Cette solution est si peu utopique qu'elle est déjà mise en oeuvre par la BCE de Mario Draghi, mais au seul profit des banques, qui peuvent réclamer àla BCE un financement illimité. On refuse d'en étendre le bénéfice aux peuples. Rien d'étonnant : dans ce monde dominé par lafinance, les banquiers continuent de décider à la place des électeurs. A quand le sursaut ?
=&


domingo, 5 de agosto de 2012

A DISSOLUÇÃO DA EUROPA



Transcrevemos, com a devida vénia, o texto seguinte, intitulado "Convocar os mortos" e publicado hoje no blogue Kyrie Eleison:

O primeiro-ministro italiano teme a desintegração da União Europeia, uma "dissolução psicológica", diz. Contudo, o universitário alemão Hans-Werner Sinn é menos dado à tropologia ou ao exercício do eufemismo. Segundo Medeiros Ferreira, que cita um artigo do Le Monde, o senhor põe as coisas com a clareza habitual da racionalidade alemã. Os países da zona euro em dificuldades têm duas hipóteses: ou deixam a zona euro ou aplicam as regras do resgate, com uma forte "desvalorização interna" que pode levar aos limites de "uma guerra civil". Leu bem, "guerra civil". Não é a falta de vergonha que a enunciação representa. Nem sequer é a clareza com que é dito quais as possíveis consequências das actuais políticas de austeridade (o limiar da guerra civil, repito). O senhor Hans-Werner Sinn não estava a explicar a Passos Coelho e a Vítor Gaspar as consequências das políticas adoptadas. Certamente, pensará que eles devem saber onde elas podem levar. O que o senhor está a fazer é brincar com o fogo e com a memória trágica da história europeia. Como alemão e ainda por cima universitário deveria saber que a guerra civil espanhola (1936-1939) antecedeu a segunda guerra mundial (1939-1945), a qual precedeu a guerra civil grega (1946-1949). Será, para a Alemanha do senhor Sinn e de todos os que o apoiam, interessante ver a Grécia e a Espanha no limiar da Guerra Civil? Será motivo de júbilo olhar Itália à beira da Guerra Civil? De Portugal não vale a pena falar. Mas, mais, será inteligente, para um alemão, ver o caminho aberto para a desintegração de Espanha ou de Itália? Não é apenas a União Europeia que está à beira do colapso. Conduzir certos países para o limiar da guerra civil significa criar as condições para o seu colapso. Pensará o senhor Sinn que o limiar da guerra civil dos endividados não será ultrapassado para uma efectiva guerra civil e alastrar até à sua casa? Mais, julgará que problemas ligados à desintegração da Itália ou de Espanha não vão ter reflexo na Alemanha? Pensará que a herança de Bismarck é eterna? A Alemanha não faz ideia onde nos está a meter a todos e não faz a mínima ideia onde se está a meter. O actual momento político europeu parece uma tragédia de Sófocles. O senhor Sinn deveria saber que não se devem convocar os mortos, pois pode acontecer que eles venham mesmo.

Uma guerra civil num ou mais países da Europa, com o Médio Oriente em estado de guerra, desencadeará, fatalmente, uma guerra mundial. Tenho a certeza que é o que muitos políticos e alguns países desejam. Possivelmente por erros de cálculo. Quando confrontados com a realidade, obviamente se arrependerão. Porém, nessa altura, só poderão escutar a frase utilizada em muitas óperas italianas, de Bellini a Verdi: "È tardì"

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A TRAIÇÃO DE OBAMA



Segundo informações internacionais, entre as quais a BBC, o presidente Barack Obama assinou uma ordem secreta que autoriza o apoio dos Estados Unidos aos rebeldes sírios. Já era sabido que a CIA se encontrava no terreno prestando assistência à oposição ao presidente Bashar Al-Assad. Agora temos a confirmação oficial dessa ajuda, a juntar-se à dos  turcos, sauditas, qataris, Al-Qaida, e também  ingleses e franceses e uns tantos outros que se unem tacticamente para derrubar o regime sírio.

Depois do criminoso consulado de George W. Bush, com as invasões do Afeganistão e do Iraque e o adiamento sine die da solução do conflito israelo-palestiniano, a eleição de Obama foi saudada com alguma esperança. Não que ela viesse alterar significativamente a política dos Estados Unidos, que não depende apenas do presidente, mas do Congresso e de toda uma administração, enleada nos mais obscuros interesses económicos. Mas que se registasse uma correcção na trajectória da política externa americana e se assumisse um módico de vergonha nas relações internacionais.

A intervenção declarada no conflito sírio, na sequência de outras acções ou omissões do presidente, acaba de provar que a campanha eleitoral de Obama e as suas declarações de paz não passaram de uma miragem para consumo interno e externo. Os Estados Unidos da América continuam fiéis à sua vocação imperial e assim se manterão até à destruição final. Nada aprenderam com o passado e prosseguirão irresistivelmente a sua marcha até que alguém lhes tolha definitivamente o passo.

A chamada "Primavera Árabe", cuja eclosão começa a suscitar muitas dúvidas, entusiasmou os nativos e mesmo muitos estrangeiros que, no início, lhe deram senão o entusiástico apoio, pelo menos o benefício da dúvida. Caíram sucessivamente os regimes da Tunísia, do Egipto e da Líbia, mas permaneceram  incólumes os regimes monárquicos do Golfo. Certamente muito mais ditatoriais e totalitários que os que foram derrubados.

Não sei se as primeiras manifestações anti-regime na Síria foram espontâneas ou comandadas do exterior. Concedo que a repressão das mesmas terá sido desproporcionadamente violenta. E também não ignoro que o regime de Bashar Al-Assad é uma ditadura, ainda que mais suave do que a mantida por seu pai. Mas sei, também, que, nos ultimos anos,  se registou uma significativa melhoria das condições económicas e sociais da população. A Síria, ainda que sem as liberdades democráticas formais, encontrava-se em pleno desenvolvimento, facilmente verificável pelo mais distraído observador. A escalada do conflito, agora já convertido em guerra civil, só foi possível com o apoio estrangeiro. A maioria dos sírios apoiava o presidente, embora hoje, com tantos mortos de permeio, possa existir já uma contestação maioritária do regime.

Como os vetos da Rússia e da China nas Nações Unidas têm impedido uma intervenção militar a descoberto, como aconteceu na Líbia, verifica-se uma intervenção militar encapotada, mas já muito mal disfarçada, com pretensos fins humanitários. Só os parvos poderão julgar que a queda do regime de Assad trará a paz e a felicidade aos sírios. Uma nação com a diversidade étnica e religiosa como a que se verifica na Síria, carece de um equilíbrio de poderes que o conflito em curso está progressivamente a destruir e que levará muitos anos a ser restabelecido, se alguma vez o for.

A chamada "comunidade internacional", com a sua vocação para "exportar a democracia", está empenhada no derrube do actual regime sírio, nem que para isso tenha de destruir o país e matar todos os seus habitantes. É claro que a sua finalidade, a única, é instalar no território um "governo às ordens" para depois invadir mais facilmente o Irão.A tragédia do povo sírio é um pormenor de somenos na contabilidade sinistra dos que se julgam os senhores do mundo e dos seus aliados permanentes ou circunstanciais.

Depois da tragédia do Iraque, temos agora a tragédia da Síria, e tantas mais quantas forem necessárias aos interesses geoestratégicos ocidentais e ao acesso ao petróleo. Até ao dia em que os cálculos dos invasores se revelem errados.

Os Estado Unidos têm 200 anos de história. O território hoje correspondente à República da Síria, onde existiram grandes impérios no decorrer dos séculos,  é continuadamente habitado há 10.000 anos.

Não sei se Obama será reeleito nas próximas eleições. Ou se o seu adversário Mitt Romney ganhará a partida. Entre ambos, prefiro Mefistófeles.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A DESONRA DA FRANÇA

Padre Elias Zahlaoui


Transcrevo a carta, que me foi enviada por um amigo egípcio, do padre árabe sírio Elias Zahlaoui, da Igreja de Nossa Senhora de Damasco Kussur, ao presidente francês François Hollande.

Era suposto que, após o consulado errático de Nicolas Sarkozy, a França retomasse o caminho da dignidade e do mais elementar bom-senso. Puro engano. A política externa de Hollande (e, também, a interna) revela não só uma desorientação profunda, como uma submissão a interesses estranhos ao seu país e a ignorância mais elementar da história contemporânea.

François Hollande, na senda do seu predecessor, não só cobre a França de vergonha (já bastara o episódio sérvio) como a arrasta para a decadência definitiva. Está Hollande consciente das suas responsabilidades ou actua a soldo de interesses não confessáveis?

O futuro o dirá.


Damas,  juillet 2012
Je m’en voudrais, de troubler l’euphorie de votre récent succès aux élections présidentielles, tout autant que la joie de vos électeurs, et l’espoir, après tout, des français, maintenant que vous êtes, pour cinq ans, le Président de la République Française.
Aussi ai-je tenu à vous écouter de bout en bout, lors de votre interview sur TV5. Je nourrissais le vague espoir de voir définitivement tournée, la politique de cirque de votre burlesque prédécesseur. À vous écouter, je me suis rapidement surpris à m’interroger sur le bienfondé de mon attente. Il m’a fallu vite déchanter. Je restais ébahi devant votre visage bon enfant, pendant que vous vous permettiez de prononcer des jugements péremptoires, sur tout et sur tous, sans la moindre nuance ni hésitation.
Mais quand je vous ai entendu parler de la Syrie et de son Président, j’ai bien cru entendre la voix même des Maîtres qui vous ont juché sur ce premier poste de France, dans l’unique but de mener à bien le projet de destruction de la Syrie, que votre prédécesseur a été incapable de conduire jusqu’au bout.
Pour une première à la Télévision, c’en était bien une! Je vous attends de pied ferme, lors des tout proches désenchantements des français. Pour ma part, vieux connaisseur de la France et des français, je me suis surpris à me dire: quelle dégringolade depuis le départ du Général de Gaulle!
Mr le Président, Avant de poursuivre, il est une coïncidence historique que je me dois de vous signaler, et que vous ignoriez sans aucun doute. Sinon vous auriez évité de vous laisser interviewer un 29 Mai! En effet, il est un autre 29 Mai, au cours duquel la France s’est misérablement déshonorée.
C’était en 1945. En ce jour même, la France “MANDATAIRE”, s’est permis de bombarder le Parlement Syrien à Damas, pour ensuite laisser ses soldats noirs, assassiner les 29 gendarmes en poste dans ce haut-lieu de la démocratie. Le saviez-vous?
Mr le Président, N’est-il pas temps pour la France, et donc pour vous-même, de réfléchir pour de bon sur cette ignoble politique qui, depuis 1916, année des accords aussi secrets que honteux, appelés depuis “Accords Sykes-Picot”, la conduit sur les ordres du Sionisme, à détruire la Syrie et le Monde Arabe? N’y avait-il de clairvoyant et de noble, dans toute la France d’alors, que Mr Aristide Briand, Ministre des Affaires Étrangères, pour avoir donné à votre Consul Général à Beyrouth, Mr Georges Picot, en date du 2 Novembre 1915, en prévision de ces accords, cette consigne claire et perspicace: “Que la Syrie ne soit pas un pays étriqué… Il lui faut une large frontière, faisant d’elle une dépendance pouvant se suffire à elle-même”?
Pour une Syrie “se suffisant à elle-même”, et telle que l’avait déjà tracée en 1910, une carte géographique émanant de ce même Ministère des Affaires Étrangères, vous devez savoir ce qu’il en fut, après qu’elle fût amputée, au Nord-Ouest de la Cilicie, au Nord-Est de la région de Mardine, dans ce qui est l’Irak actuel, de Mossoul, à l’Ouest du Liban, au Sud de la Jordanie et de la Palestine, pour être décapitée en 1939, d’Antioche et du Golfe d’Alexandrette, offerts en cadeaux à la Turquie!
[...]
Mr le Président, Il est aussi une question capitale, que je me dois, en tant que citoyen arabe de Syrie, de vous poser, ainsi qu’à tous les “leaders” occidentaux: « Pourquoi vous faut-il systématiquement assassiner les peuples arabes et musulmans? »
Vous l’avez déjà fait en dressant, entre 1980-90, l’Irak contre l’Iran, cet Irak, dont le malheureux Saddam Houssein se faisait traiter de “Grand ami”, tant par Donald Rumsfeld que par Jacques Chirac! Ce fut aussitôt après, le guet-apens du Koweït, entraînant la guerre contre l’Irak, suivi d’un blocus de (13) ans, qui a causé à lui seul, d’après les rapports américains mêmes, la mort de 1.500.000 enfants irakiens! Ce fut ensuite la chevaleresque “guerre contre le terrorisme”… en Afghanistan! Aussitôt suivie d’une nouvelle guerre contre l’Irak.
Quant à l’immortelle épopée de l’Otan en Lybie, conduite par “le général-philosophe” Bernard Henri Lévy, elle vint à nouveau compléter ces horreurs, sous prétexte de protection des droits de l’homme! Et voici que depuis 15 mois, tout l’Occident s’acharne contre la Syrie, oubliant une infinité de problèmes très graves, à commencer par le Conflit israélo-arabe, qui menacent réellement la survie de l’humanité!
Or toutes ces tragiques politiques occidentales, vous les pratiquez sans honte et sans vergogne, sous couvert de tous les mensonges, de toutes les duplicités, de toutes les lâchetés, de toutes les contorsions aux Lois et Conventions Internationales. Vous y avez en outre engagé ces Instances Internationales, que sont les Nations-Unies, le Conseil de Sécurité et le Conseil des droits de l’homme, alors qu’elles n’ont existé que pour régir le monde entier vers plus de justice et de paix!
Seriez-vous donc, en Occident, en train de nourrir l’espoir stupide de mettre fin de cette façon à l’Islam? Vos savants et vos chercheurs ne vous ont-ils pas fait comprendre que vous ne faites que provoquer un Islam outrancier, que vous vous obstinez d’ailleurs à financer, à armer et à lâcher avec nombre de vos officiers, un peu partout dans les pays arabes, et surtout en Syrie? Ne vous rendez-vous pas compte que ce faux islam se retournera tôt ou tard contre vous, au coeur de vos capitales, villes et campagnes?
Pour tout cela, laissez-moi vous rappeler, moi simple citoyen de Syrie, que cet islam que vous armez et dressez contre le Monde Arabe en général, et la Syrie en particulier, n’a rien à voir avec le véritable Islam, celui-là même que la Syrie a connu, lors de la Conquête arabe, ainsi que l’Égypte et enfin l’Espagne. Faut-il vous rappeler que les historiens occidentaux, dont des historiens juifs, ont dû reconnaître que l’Islam conquérant s’est révélé être le plus tolérant des conquérants?
Ou ne seriez-vous, leaders occidentaux, dans vos différents pays, repus d’opulence et de “grandeur”, que les vils exécuteurs des projets sionistes, depuis ces fameux Accords Sykes-Picot, et l’ignominieuse “Promesse Balfour”, jusqu’à ce jour, et pour longtemps, semble-t-il, toujours empressés d’apporter à Israël, tous les soutiens possibles, connus et secrets, à tous les niveaux, aussi bien politiques et diplomatiques, que militaires, financiers et médiatiques?
Oui, pourquoi vous faut-il assassiner et détruire des peuples entiers, pour qu’ISRAËL SEUL puisse enfin vivre et survivre? Est-ce de la sorte que vous cherchez à réparer votre terrible complexe de culpabilité vis-à-vis des juifs, dû à un antisémitisme plus que millénaire et proprement occidental? Vous faut-il le faire au prix de l’existence même de ces peuples arabes et musulmans, au milieu desquels les juifs avaient mené une vie quasi normale, faite de cordialité, voire de riche collaboration?
Si mes interrogations vous paraissent exagérées ou outrancières, permettez-moi de vous prier de lire ce qu’ont écrit sur l’emprise du Sionisme aux États-Unis, des hommes comme John Kennedy et Jimmy Carter, et des chercheurs courageux et connus, comme Paul Findley, Robert Dole, David Duke, Edward Tivnan, John Meirsheimer, Stephen Walt, Franklin Lamb, et surtout Noam Chomsky.
Pour ce qui concerne l’emprise du Sionisme en Europe, je m’en tiens aujourd’hui à la France seule. Vu la responsabilité qui est la vôtre, vous est-il permis d’oublier ou d’ignorer ce qu’ont, si courageusement, écrit: Roger Garaudy, Emile Vlajki, Pierre Leconte, Régis Debray, et surtout les juifs Michel Warshawsky, Stéphane Hessel, Serge Grossvak et le Professeur André Noushi?
Si par impossible, tous ces noms ne vous disaient rien, laissez-moi vous rappeler quelques noms si connus en Israël même, qu’il serait malhonnête de les ignorer et d’ignorer ce qu’ils ont osé dire depuis quarante, voire cinquante ans, et certains bien avant la “création” d’Israël: Martin Buber, Albert Einstein, Yshayahou Leibowitz, Israël Shahak, Susan Nathan, Tanya Rheinhart.
Pour finir, laissez-moi vous rappeler un texte trop connu pour passer inaperçu. Il date du mois de février 1982. À lui seul, il constitue et condense l’implacable dictat sioniste, imposé depuis des dizaines d’années, à toute la politique occidentale. Il a paru dans la revue sioniste “KIVOUNIM”, publiée à Jérusalem. Il s’agit d’un article intitulé “Stratégie d’Israël dans les années 1980″, et il porte la signature de Mr Oded Yinon. Je me contente d’en citer un seul paragraphe, reproduit (p.62) dans un livre récent, intitulé “Quand la Syrie s’éveillera…”, paru à Paris, chez Perrin, en 2011. Ses auteurs sont Richard Labévière et Talal El-Atrache. On y lit textuellement:
« La décomposition du Liban en cinq provinces, préfigure le sort qui attend le monde arabe tout entier, y compris l’Égypte, la Syrie, l’Irak et toute la péninsule Arabe. Au Liban, c’est un fait accompli. La désintégration de la Syrie et de l’Irak en provinces ethniquement ou religieusement homogènes, comme au Liban, est l’objectif prioritaire d’Israël, à long terme, sur son front est; à court terme, l’objectif est la dissolution militaire de ces États. La Syrie va se diviser en plusieurs États, suivant les communautés ethniques, de telle sorte que la côte deviendra un État alaouite chi’ite; la région d’Alep un État sunnite; à Damas, un autre État sunnite hostile à son voisin du nord; les druzes constitueront leur propre État, qui s’étendra sur notre Golan peut-être, et en tout cas dans le Hourân et en Jordanie du Nord. Cet État garantira la paix et la sécurité dans la région, à long terme: c’est un objectif qui est maintenant à notre portée.»
[...]
Mr le Président, Pour finir, laissez-moi vous prier vivement de chercher à vous rendre personnellement compte, de tout ce dossier, et à mesurer la responsabilité que vous y assumez, avant qu’il ne soit trop tard.
Un ami, prêtre français, fin connaisseur de la Syrie, le Père Jean-Paul Devedeux, vient de vous écrire en ce jour même. Sa lettre est une invitation pressante qu’il vous adresse, pour une meilleure connaissance des arabes en général, et de la Syrie en particulier. L’enjeu est de taille.
Veuillez donc vous libérer du “rôle” que vous êtes en droit de rechercher, et surtout de celui que l’on cherche immanquablement à vous imposer.
La Syrie, “seconde patrie de tout homme civilisé” comme l’a si bien dit votre grand savant “André Parot”, et terreau de toutes les civilisations, mérite une visite. Elle ne manquera pas de vous étonner, et même de vous captiver. Ayez le courage de la connaître de près. Vous en reviendrez porteur d’un projet de politique nouvelle, clairvoyante et juste, faite d’équilibre humain, qui repose sur les droits et devoirs de TOUS à l’égard de TOUS! La vie, la liberté et la dignité sont pour TOUS!
Nouveau Président de la France, Je vous souhaite d’en prendre l’initiative. Vous n’y serez pas perdant autant que vous l’êtes en ce moment, et moins que vous le serez demain, si vous vous défilez!
Mr le Président, En vous confiant cet espoir, je vous dis mon respect.
Pr. Elias ZAHLAOUI, Église Notre-Dame de Damas Koussour – Damas