quarta-feira, 16 de maio de 2012

É UMA INFELICIDADE SER GREGO ?



Os gregos vão ser novamente chamados às urnas, a fim de se tentar eleger um parlamento que proporcione um governo ao país, tarefa que se afigura cada vez mais irrealizável, sendo contudo certo que a Grécia não poderá permanecer indefinidamente sem um Executivo, com ou sem euro, dentro ou fora da União Europeia, in extremis com um governo militar, de que existem precedentes não muito distantes.

A propósito da crise grega, que é o sinal mais evidente da crise europeia, e mesmo mundial, que estamos a viver, é oportuno referir o livro ΗΔΥΣΤΥΧΙΑ ΤΟΥ ΝΑ ΕΙΣΑΙ  ΕΛΛΗΝΑΣ, publicado em 1975 por Nikos Dimou, que já conheceu 30 edições e foi agora editado em francês com o título Du malheur d'être Grec.

Trata-se de um conjunto de 193 aforismos satíricos sobre a identidade grega, as principais facetas dos indivíduos e da sociedade, num registo de grande ironia, cruel por vezes, certeiro em alguns aspectos, injusto em muitas apreciações, mas que, segundo o autor, é, afinal, uma "declaração de amor à Grécia".

Afirma Dimou que o livro não é de alguma forma o de um "anti-heleno", mas o de um homem profundamente preocupado com o seu país e que tenta ajudar os seus compatriotas a realizar o oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo".

Escrito ainda no tempo da ditadura dos coronéis, que acabou em 1974, é hoje um best-seller na Grécia e até contém uma irónica referência a Portugal. O que não deixa de ser curioso, dado que decorreram mais de 30 anos.

Traduzo o aforismo 32: «No fundo, o grego ignora a realidade. Vive duas vezes acima dos sues meios financeiros. Promete três vezes mais do que pode cumprir. Afirma conhecer quatro vezes mais coisas do que realmente sabe. Ressente-se (e compadece-se) cinco vezes mais do que é capaz de se ressentir».

Nos tempos que correm, esta apreciação poderá ser julgada cruel, e é obviamente excessiva, mas evidencia uma realidade cujas consequências são agora dramáticas. E mostra também como é difícil para os gregos contemporâneos arcar com o peso dos seus antepassados clássicos, herança de que duvidava Jakob Philipp Fallmerayer (1790-1861), historiador alemão que sustentava que depois das invasões eslavas dos séculos VI e VII na Grécia, não tinha restado "uma só gota de puro sangue grego".

2 comentários:

Anónimo disse...

Houve um idiota do PSD que disse há dias num programa que a Grécia era uma nação inventada. Estes dirigentes partidários deviam ter um mínimo, só um mínimo, de cultura histórica para não dizerem alarvidades como esta.

Que não haja muito sangue puro grego clássico a correr nas veias dos actuais gregos, é possível. Agora, a Grécia não é só a Grécia da Antiguidade, é a Grécia ao longo de dois mil anos de civilização judaico-cristã, digamos europeia. E as peripécias da sua independência nada têm a ver com a identidade de um povo.

Comentadores destes deviam ir cavar batatas, que também é nobre ofício.

José Gonçalves Cravinho disse...

Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (88anos),digo que quando vejo na TV uma reportagem sôbre a Grécia,
noto que há uma grande semelhança rácica(traços fisionómicos) entre os gregos(as)especialmente entre
os camponeses(as)e a gente do DEMO
em geral,e os portugueses(as).
Embora os romanos tivessem dominado
os gregos,todavia copiaram dêles a cultura e as artes especialmente a arte de trabalhar a pedra e fazer maravilhas artísticas.Mas mudaram o significado do DEMO que foi traduzido para DEMÓNIO e assim desde daí,embora na Grécia clássica
fôsse a Oligarquia que governava,
havia a DEMOCRACIA formal pois o DEMO não tinha Poder.De modo que a
DEMOCRACIA presentemente no mundo
cristão-ocidental influenciado pela cultura greco-romana,é também formal,pois na realidade é a Oligarquia,a Plutocracia,a Aristocracia,quem governa com a Bênção dos Ministros de Cristo(um nome grego)quer sejam ortodoxos, católicos,anglicanos,luteranos ou
calvinistas e com a protecção dos Militares sejam êles Coronéis ou Generais.