quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

TRAGÉDIA NO EGIPTO


A tragédia ontem verificada no Egipto, que comentei no Facebook em tempo real, em consequência dos confrontos entre os partidários do clube de Port-Saïd, Al-Masry e do clube do Cairo (e favorito dos egípcios), Al-Ahly, no final do jogo entre as duas equipas, e que se saldou em mais de 70 mortos e cerca de um milhar de feridos, provocou a maior emoção no país, e no mundo.

Enquanto os corpos das vítimas começaram a chegar à estação ferroviária de Ramsés, no Cairo, além dos que esta manhã foram sepultados em Port-Saïd, tiveram lugar hoje violentas manifestações na capital egípcia, de novo na praça At-Tahrir e no vizinho Ministério do Interior, criticando a falta de segurança e a não intervenção policial para evitar os incidentes. Mais de 10.000 egípcios protestaram contra esta tragédia, o mais grave acontecimento na história do futebol do país. A polícia reagiu, utilizando gás lacrimogéneo, tendo resultado da contenda pelo menos 700 feridos.



O Parlamento egípcio e o Governo reuniram hoje de emergência, e o marechal Mohamed Hussein Al-Tantawi, presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas,  assegurou que todos os hospitais civis e militares tinham sido disponibilizados para receber os feridos e que se averiguariam as causas do sucedido. Foram decretados três dias de luto nacional.

No parlamento, o deputado Essam El-Erian, do Partido Liberdade e Justiça (Irmandade Muçulmana), acusou os militares e a polícia de serem cúmplices da violência, a fim de que os poderes extraordinários das Forças Armadas possam ser prolongados, como condição da manutenção da segurança nacional.

O primeiro-ministro interino Kamal Al-Ganzuri anunciou a suspensão do governador de Port-Saïd e do chefe de segurança local, mas, ao contrário do que havia sido reivindicado pelas forças políticas, o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, não se demitiu. A Federação Egípcia de Futebol foi exonerada e o campeonato de futebol suspenso indefinidamente.

Depois dos acontecimentos que levaram à queda do regime do presidente Hosni Mubarak, e em que a polícia foi vaiada e desautorizada, os seus agentes, como acontece em ocasiões semelhantes (recordemos em Portugal o período pós- Revolução de Abril), têm agora tendência a evitar intervir, achando prudente deixar a resolução dos conflitos às forças em confronto. Digamos, pois, que o último recurso, nestes casos, continuam a ser os militares.

Há ainda quem acuse o despoletar dos incidentes de ontem a uma vingança dos partidários de Mubarak, tentando demonstrar que o Egipto se encontra hoje sem segurança e ingovernável. Na verdade, muitos dos que mais veementemente protestaram contra o deposto raïs, encontram-se hoje desiludidos, senão mesmo arrependidos, face à votação esmagadora que os partidos islâmicos obtiveram nas eleições legislativas, e também à progressiva degradação económica do país, que vivia sobretudo das receitas do turismo, actividade que agora se encontra quase totalmente paralisada.

Uma cronologia dos acontecimentos de hoje, ao minuto, pode ser consultada no "Guardian" e também o "HuffingtonPost" se refere pormenorizadamente ao assunto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para onde caminha o Egipto. Não se sabe, se calhar nem mesmo os militares. Mas atrevo-me a pensar que muitos egípcios já dizem: "Mubarak regressa que estás perdoado".

Anónimo disse...

Mas é exactamente o que vai acontecer à Síria, se o actual regime cair. E as forças que embandeiraram em arco com a queda de Mubarak, ainda e, a breve trecho, vão ter que engolir essas palavras e da pior forma possível, pois um regime islâmico duro e puro, prepara-se para tomar de assalto o poder e, depois logo verão o que bom p'ra tosse.
Marquis