segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O CERCO AO IRÂO


Segundo o PÚBLICO, a União Europeia aprovou formalmente um embargo petrolífero gradual ao Irão. Foram ainda tomadas medidas contra o banco central iraniano com o objectivo, dizem, de congelar o programa nuclear iraniano. Aumenta assim o cerco ao governo de Teerão.

Como a memória dos europeus é fraca e a dos americanos inexistente, todos devem ignorar que o Irão é o herdeiro de uma das mais brilhantes civilizações da humanidade e que, ao longo dos séculos, produziu arte e saber que se podem classificar de notáveis. Como tem havido na Europa, nas últimas décadas (já nem falo dos EUA), a deliberada intenção de, no ensino oficial, se esconder a história universal, reservando-se a informação apenas para alguns cursos universitários, não admira esta profunda ignorância.

Apesar de todas as vicissitudes dos últimos tempos, continua o Irão a ser uma nação poderosa, que não se deixará intimidar pelos porta-aviões americanos no estreito de Ormuz. Porque razão alguns países da Ásia dispõem sem problemas da bomba nuclear (Israel, Paquistão, China, Índia) e outras não podem fabricá-la? Na verdade, há umas nações mais iguais de que outras. Também não se compreende, em termos jurídicos, porque há-de ser a União Europeia (e não, com maioria de razão a ONU) a impor sanções ao Irão. Lá chegará a vez da NATO, não tenhamos dúvidas.

Confesso que preferia que o Irão fosse uma república não islâmica. Sou avesso a todos os estados confessionais. Entendo que a religião é um assunto do foro privado. E também preferia que, mesmo islâmica, a república do Irão, fosse menos severa em matéria de costumes, o que só tem contribuído para uma insatisfação dos mais jovens, e não só. Ainda que, na realidade, haja alguma distância entre o que está legalmente estabelecido na lei e o que se pratica.

Mas é bom não ter dúvidas que, em caso de ataque ocidental, e apesar da discordância de muitos em relação ao regime dos ayatollahs e afins, os iranianos se unirão num bloco indefectível para defender o seu país.

Sabemos todos que a estratégia do Mundo Ocidental é eliminar agora a Síria, o Irão, o Paquistão e começar o cerco à Rússia e à China. Mas é possível que os cálculos saiam errados.

1 comentário:

Anónimo disse...

«Confesso que preferia que o Irão fosse uma república não islâmica. Sou avesso a todos os estados confessionais»
Não posso estar mais de acordo. E confesso que esse factor, aliado à imposição de costumes bárbaros sobretudo em relação às mulheres, é a única coisa que me impede de ser uma fã incondicional do Ahmadinejad.
As culturas mais profundas e iluminadas encontram-se desse lado do mundo.
Nós aqui na Europa andamos a ver se não perdemos a nossa identidade no meio dos molhos do McDonalds e de toda a espécie de prepotências vindas do outro lado do Atlântico.
Quanto aos EUA, nem comento. Tenho para mim que a destruição da biblioteca de Bagdad é um cartão de visita eloquente. Digam o que disserem dos americanos e da tão badalada liberdade de isto e liberdade daquilo, acho-os um povo de selvagens com uma camadinha de verniz de civilização que pretendem "shove down everybody's throat" a todo o custo. O verniz está a saltar e a realidade do que são a vir ao de cima.
Valeria