quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ADEUS, LISBOA


Informa a comunicação social que encerrarão, dentro de dias, a Livraria Portugal (na Rua do Carmo), velha de 70 anos, e a Ourivesaria Aliança (na Rua Garrett), quase a completar 80 anos.


A pouco e pouco, o Chiado, que foi o centro chique de Lisboa, vai-se desmoronando, aliás como toda a Baixa pombalina. A abertura arbitrária de grandes superfícies comerciais, fruto de um provincianismo parolo e de uma inconfessável concupiscência, dera o primeiro golpe no comércio do centro da cidade. Depois, o incêndio do Chiado, em 1988, devido a causas naturais, ou a fogo posto (o que nunca foi devidamente esclarecido) foi mais uma importante contribuição para a decadência da zona, até pelo tempo que levou a proceder-se à reconstrução dos imóveis destruídos ou danificados. Também a reconstituição dos edifícios, devido à traça  gélida de Siza Vieira (oportunísticamente convidado por Nuno Abecasis para o efeito) em nada ajudou à recuperação do local. Não se pretenderia a reconstituição original mas as linhas de Siza têm, em minha opinião (e apesar dos prémios recebidos, o que nada me impressiona) o dom de afugentar as pessoas.

Deve acrescentar-se aqui o que foi a actuação da Câmara Municipal de Lisboa desde 1974: um horror. Salvo alguns aspectos pontuais a merecerem aplauso, o conjunto de decisões sobre a cidade tem sido um verdadeiro pesadelo. Não conheço capital europeia (e conheço-as quase todas) que fosse tão descaracterizada nas últimas décadas como Lisboa. A cidade está irreconhecível mas devo confessar que temo sempre que fique ainda pior.

O encerramento dos estabelecimentos que referi acima, a juntar a todos os que fecharam por causa do incêndio ou por causas outras (a Alfaiataria Piccadilly, na Rua Garrett, encerrou portas a alguns meses, sendo substituída por uma casa de comidas) não foi compensada pela abertura de outros estabelecimentos condignos, nem poderia realmente sê-lo pois lhes faltaria a tradição que só se adquire com o tempo.

Receio que começe a altura de entoar pelo centro de Lisboa o "Requiescat in pace".

2 comentários:

Zephyrus disse...

Eu só conheço algumas, mas nunca vi lá fora os horários no comércio que se praticam por cá. Nem vi centros comerciais em algumas cidades do tamanho do Porto. Aqui até pequenas cidades como a Maia têm os seus mamarrachos. As lojas da moda estão nos centros e os horários são idênticos aos que por cá se praticavam nos anos 80.

ZÉ DOS ANZÓIS disse...

Não há uma política camarária para o centro de Lisboa, só uma política de interesses. A abundância de centros comerciais (não se sabe porque razão foram concedidas tantas licenças) foi o dobrar a finados das lojas tradicionais, muitas delas insubstituíveis pelas grandes superfícies.

As edilidades de Lisboa têm sido um suceder de erros, por incompetência, por desleixo, quiçá por outros interesses.

Para quando a primeira câmara a sério depois do 25 de Abril ???