sábado, 3 de dezembro de 2011

UMA FAMÍLIA INGLESA


Foi editada o mês passado a tradução portuguesa do último romance de Alan Hollinghurst, The Stranger's Child (2011), com o título O Filho do Desconhecido. O escritor é autor de cinco romances, entre os quais The Swimming Pool Library (1988) e The Line of Beauty (2004), que obteve o Man Booker Prize 2004.e deu lugar a um filme, realizado por Saul Dibb (2006). Ambos estão traduzidos em português.

O livro O Filho do Desconhecido é um "tijolo" de quase 700 páginas (os outros dois livros traduzidos em português têm, cada um, cerca de 500 páginas), com a qualidade literária a que o autor nos habituou, mas talvez com uma desnecessária pormenorização de locais e situações que tornam a obra demasiado extensa. Atrevo-me a dizer que a saga da família que é o objecto da obra poderia, sem prejuízo, ser contada em 400 ou 500 páginas. Mas concedo que alguns aspectos possam ser especialmente caros a leitores britânicos, que não aos europeus continentais.

Trata o livro da história de uma família inglesa (ou melhor, de duas) aristocrática, através de várias gerações, iniciando-se antes da Primeira Guerra Mundial e acabando nos nossos dias. Não sendo claramente um romance gay (ao contrário dos outros dois romances citados, se é que existe um género "romance gay"), é um facto que são gays quase todas as personagens, aliás como o próprio autor da obra. E as que não o são, são, pelo menos, bissexuais. O que não invalida (antes pelo contrário) tratar-se de um notável fresco de uma certa Inglaterra convencional mas transgressora, que habitualmente nos surge envolta em outras roupagens. Ao longo das centenas de páginas da obra, Hollinghurst, que é hoje considerado um dos maiores romancistas britânicos, procede a uma análise dos mais profundos e íntimos sentimentos humanos e retrata a evolução política e social da época em apreço. Para lá do sexo ou do género das suas personagens, ele escreve é sobre a vida. Crónica de costumes, O Filho do Desconhecido coloca-nos perante a passagem do tempo, esse "grande escultor" (como diria Yourcenar), e obriga-nos a pensar em nós enquanto lemos a obra. E talvez seja esse um dos grandes méritos do livro, ainda que algumas particularidades inglesas possam surgir estranhas a leitores continentais.

Nomeado novamente para o Man Booker Prize 2011, desta vez Alan Hollinghurst não obteve o galardão, que foi para o igualmente notável Julian Barnes, pelo seu livro TheSense of an Ending. 

Duas obras de leitura obrigatória.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um bom romancista que escreve livros demasiado grandes. Não havia necessidade