quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A NOITE "D", OU NÃO ?


Inicia-se esta noite em Bruxelas mais uma Cimeira da União Europeia. Após tantas reuniões inconclusivas (e ilegítimas) entre dois cadáveres adiados (Merkel e Sarkozy) a propósito do futuro do euro, tem finalmente lugar uma reunião dos chefes de governo (e de Estado) dos países da UE. Esperar-se que saiam dela as medidas necessárias e indispensáveis à salvação do euro e à manutenção da Zona Euro com todos os países que aderiram à moeda única. A situação financeira e económica da Europa, e do Mundo, já não aguenta que se protele por mais tempo uma tomada de decisões adequada às circunstâncias reais (ou fictícias) em que vivemos.

Tem Angela Merkel, acolitada por Sarkozy, evitado qualquer compromisso que possa (pensa ela) prejudicar a Alemanha. Nessa cruzada teutónica, tem tido o apoio de uma enigmática figura, o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, cujos objectivos são, por agora, dificilmente descortináveis. Não parece que o colapso do euro, ou de parte da Zona Euro, seja vantajoso para o Reich. Revisão dos tratados? Ausência de qualquer implicação do Banco Central Europeu no apoio aos países "em dificuldades"? Tratados diferentes para os países da União e para os países da Zona Euro? Talvez, neste momento, como em La Traviata de Verdi, se possa dizer como Violeta Valéry ao ler a carta de Germont no seu leito de morte: «È tardì!"

A política de Merkel, no oportuno dizer dos franceses de "surveiller et punir", recorrendo a um título de Michel Foucault, reduz-se à imposição da austeridade aos países considerados, hoje, devedores. Não ignora a chancelarina que a austeridade já aplicada à Grécia, à Irlanda, a Portugal, à Itália, à Espanha, à França e aos que se seguirem, jamais conseguirá a meta que se pretende, isto é, o equilíbrio das contas públicas. Antes pelo contrário. E a Grécia e a Irlanda constituem já um flagrante exemplo: tudo tem piorado desde a adopção das primeiras medidas.

Por outro lado, as famigeradas agências de notação, que são propriedade dos prestamistas, actuam com mais violência do que os canhões de Hitler ou as bombas atómicas de Roosevelt e Truman. Nunca tantos estiveram, em todo o mundo, sujeitos à tirania de tão poucos.

Parece que a reunião deste fim-de-semana constitui a última oportunidade para um acordo. Ou não. Assim, aguardam-se as decisões, ou as indecisões, dos "estadistas" presentes em Bruxelas. Até poderá ocorrer um novo adiamento de decisões ou serem tomadas apenas decisões paliativas. Há muitos inconfessáveis interesses de aquém e além Atlântico. As perturbações no mundo árabe também não surgiram agora por mero acaso ou coincidência. Tudo está ligado. Por isso, Putin, em Moscovo, endurece a linguagem, Assad continua em Damasco e a China dá mostras de impaciência.

Devemos aguardar mais umas horas, para ver se o fumo que sairá das chaminés de Berlaymont será branco, negro ou de cor indefinida. Mas o mundo que saiu dos escombros da Segunda Guerra Mundial e se manteve em equilíbrio até à queda do Muro de Berlim e à reunificação da Alemanha acabou. Não se passa impunemente sob a Porta de Brandeburg.

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