quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O ERRO DE ERDOGAN

Recep Tayyip Erdogan

Ao aceitar coversações com o recém-criado Conselho da Oposição Síria, o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan comete um erro, que aniquilará as pretensões hegemónicas da Turquia no Mundo Árabe.

Os recentes conflitos religiosos no Egipto, a guerra civil na Líbia, a intranquilidade na Tunísia, as silenciadas perturbações na Península Arábica, tudo isto concorre para uma progressiva perda de influência da oposição (apoiada pelo Ocidente) ao presidente Bachar Al-Assad, enquanto uma multidão avaliada em centenas de milhar de pessoas se reuniu hoje em Aleppo, segundo cidade da Síria, repetindo a manifestação de há dias em Damasco, para apoiar o regime.

Manifestação em Aleppo

Os árabes começam a perceber que a instalação apressada de regimes soi-disants democráticos apenas lhes poderá trazer sangue, suor e lágrimas. Só os estúpidos e venais governantes (não lhes chamo estadistas) do Mundo Ocidental não perceberam ainda a complexidade da cultura e das tradições árabes, e aqueles que conseguiram percebê-las ignoram-nas em proveito dos mais inconfessáveis interesses económicos e financeiros, interesses que já arrastaram a Europa para a situação actual, sem que alguém fosse chamado à responsabilidade, julgado e condenado.

É evidente que o regime sírio é um regime ditatorial, mas um país com as características da Síria (a exemplo dos países do Médio Oriente, construídos sobre fronteiras artificiais criadas pela colonização da Inglaterra e da França e pela administração dos territórios de mandato), com profundas diferenças étnicas, religiosas, sociais, não poderá evoluir (se isso é evolução?) para uma democracia representativa tipo europeu de um dia para o outro. Poderá, sim, evoluir para uma interminável guerra civil. Como acontecerá provavelmente a breve trecho na Tunísia, no Egipto e como prossegue na Líbia. E como sucedeu no Iraque.

Um observador insuspeito como Jean Daniel, escreve hoje no editorial do Nouvel Observateur (nº 2450) que pairam «nuvens sobre a "primavera árabe"».

Oxalá eu me engane, mas parece-me que toda esta agitação no mundo árabe não contribuirá para a felicidade dos povos, que viviam, sem dúvida, em situação de opressão e de pobreza, uns mais do que outros conforme os países, mas num clima de relativa paz social. É certo que esta não é tudo, mas há que avaliar o activo, o passivo e o saldo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Dentro de pouco tempo o mundo árabe vai ficar em guerra civil. Quem é que tira benefício dessa situação que só prejudica o povo. Há que investigar.