terça-feira, 11 de outubro de 2011

CONFRONTOS RELGIOSOS NO EGIPTO


A ocorrência, anteontem, de graves confrontos religiosos no Egipto, na sequência da demolição de uma igreja em Aswan, cuja construção havia sido autorizada pelo governador da província, constituiu o mais grave incidente no país desde as manifestações que culminaram com o derrube do regime do presidente Hosni Mubarak

Os incidentes provocaram até à data 26 mortos e mais de 300 feridos. Os cristãos coptas protestaram contra as perseguições de que vêm sendo alvo, desde o célebre ataque a uma igreja de Alexandria na última passagem de ano. As forças armadas ripostaram e a televisão oficial egípcia divulgou notícias tendenciosas sobre a morte de vários soldados. A tensão estendeu-se a outras cidades do país e o Conselho Supremo das Forças Armadas ordenou ao governo do primeiro-ministro Essam Sharaf uma investigação rigorosa sobre os incidentes.

Desde há muito tempo que se verificam periodicamente incidentes entre cristãos e muçulmanos, num país que conta com 10 a 15% de coptas num total de 80 milhões de habitantes. Deve dizer-se que a liberdade religiosa foi mais ou menos salvaguardada no tempo de Mubarak, com algumas excepções nos últimos anos, como o fora no Iraque de Saddam Hussein e até na Líbia de Qaddafi e como o é na Síria de Bachar Al-Assad.

Durante os funerais de algumas das vítimas, realizados ontem e que reuniram milhares de pessoas, voltaram a verificar-se incidentes, bem como o apedrejamento da polícia junto ao hospital, no Cairo, onde se encontram muitos dos feridos.



A Igreja Copta Egípcia decretou três dias de luto nacional, pedindo aos egípcios para jejuarem e orarem pela paz no país.

Segundo informações colhidas pela Al-Jazira, os cristãos foram atacados no Cairo, pela primeira vez, não por muçulmanos extremistas ou pela polícia mas pelo próprio exército, o que suscita as maiores interrogações.

Entretanto é visível a deterioração da situação económica e social do país, sendo cada vez mais generalizada a convicção de que as manifestações (urbanas) que levaram à queda de Mubarak mergulharam o Egipto no caos. Foram também presas dezenas de pessoas, acusadas pelas fontes oficiais de serem os instigadores das confrontações, a soldo de interesses não identificados.

Estão marcadas eleições no Egipto para 28 de Novembro mas ignora-se qual será o resultado do escrutínio. Entretanto, em Washington, Obama manifestou a sua preocupação, tal como os ministros dos Negócios Estrangeiros da Itália e do Reino Unido, em Bruxelas, à margem de uma reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia. As condenações, preocupações e indignações dos líderes ocidentais, profundamente envolvidos na "Primavera Árabe", denotam simultaneamente hipocrisia e patetice. Quanto à primeira, regista a história que sempre assim foi; quanto à segunda, serve para revelar à opinião pública, que porventura ainda o ignorasse, a mediocridade dos actuais dirigentes do Mundo Ocidental.

 Há evidentemente quem esteja interessado em explorar divisões religiosas ou políticas ou outras nos países árabes. É assim desde há muitos anos. Pelos frutos os conhecereis.

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