segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A PALESTINA NA UNESCO


A Palestina foi hoje admitida como o 195º Estado-membro da UNESCO, por 107 votos a favor, 14 votos contra e 52 abstenções. Votaram contra os Estados Unidos, que declararam retirar o seu apoio à UNESCO caso a Palestina fosse admitida, Israel, evidentemente, a Alemanha, etc. Entre os abstencionistas, Portugal, o Reino Unido e a Itália. A favor, a grande maioria dos países que integram aquela organização da ONU para a cultura e a ciência, entre os quais a França, a Rússia, a China, o Brasil, a Índia, a África do Sul, etc.

A votação de hoje é um claro desafio à política americana e israelita relativamente ao conflito na Palestina, e constitui uma mensagem para a próxima votação da admissão da Palestina nas Nações Unidas, como Estado de pleno direito, a realizar  brevemente pelo Conselho de Segurança.

Ver vídeo publicado no GUARDIAN

sábado, 29 de outubro de 2011

A RÚSSIA NÃO MUDA A HORA

A Rússia não vai atrasar em uma hora os seus relógios este domingo. A partir deste ano, por decisão do Presidente Dimitri Medvedev, os russos vão passar a ter a mesma hora ao longo de todo o ano, pondo fim ao tradicional horário de Inverno em vigor nas últimas três décadas.

Segundo o PUBLICO, os russos, no futuro, terão sempre a mesma hora ao longo do ano. Sábia decisão do presidente Medvedev. Baseada em sólidas considerações. A manutenção da hora em todo o mundo (independentemente dos fusos horário, é óbvio) traria muito mais vantagens do que inconvenientes. Mais de metade dos países do mundo continuam a ter, estupidamente, ou baseados em argumentos inconfessáveis, uma hora de Verão e outra de Inverno. É a hora de a hora deixar de mudar.

A maioria esmagadora dos russos apoia Medvedev. Estou certo de que a maioria dos portugueses apoiaria decisão semelhante.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DER "ANSCHLUSS" VON ANGELA MERKEL


Após inúmeras manobras dilatórias da Alemanha, coadjuvadas pelo potencial candidato presidencial francês Nicolas Sarkozy, realizou-se finalmente em Bruxelas a Cimeira do Euro.

Três resoluções: perdão de 50% da dívida grega, aumento do valor do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira para um milhão de euros e recapitalização dos bancos. Os pormenores constam dos noticiários.

Medidas de fundo: nenhuma. Estas decisões, arrancadas a ferro aos alemães, que mesmo assim não vão participar com mais dinheiro no FEEF (uma condição imposta pelo Bundestag a Angela Merkel) são paliativos para a crise económica e financeira europeia. Continua a existir um desfasamento absoluto entre a Europa política (que só pensa em eleições) e a Europa real (a dos cidadãos que nela nascem, vivem e morrem).

A Alemanha ambiciona a supremacia sobre a Europa, agora já não através de uma anexação militar (os tempos mudaram) mas através do poder económico. Angela Merkel tem sido o instrumento dessa política germânica e dos homens e mulheres que se sentam no Reichstag (ou Bundestag, se preferirem).

A política de fundo da União Europeia é que está errada e sem uma alteração profunda nenhumas medidas conduzirão à salvação desta União, do Zona Euro e dos cidadãos europeus.

Porque não investir de poderes, próprios de um verdadeiro banco da União, o Banco Central Europeu? Poderia ser uma forma de recuperar os desequilíbrios actualmente existentes. Têm sido aventadas por especialistas diversas outras soluções, não perfilhadas porém pelos actuais líderes, dominados por preocupações diferentes.

A globalização da economia suscitou desafios novos. Mas não há estratégias novas e pretendem aplicar-se os remédios clássicos. Não resulta.

Dentro de dias ou semanas, a situação da Grécia, que recebeu uma nova fatia de apoio mas cuja economia e sociedade se afundam quotidianamente, será idêntica. Portugal seguir-lhe-á as pisadas. A Irlanda é um caso semelhante embora os contornos sejam diferentes. A Espanha e a Itália encontram-se em situação já sobejamente conhecida. E a França, a ver vamos, para não falar de outros pequenos países que serão arrastados pela corrente.

O "Directório franco-alemão" que se instalou é uma caricatura da UE. E os outros países? Cavaleiro da triste figura, importa que Sarkozy abandone o palco quanto antes e deixe a Alemanha aparecer em todo o seu esplendor expansionista. Então, é o momento das grandes decisões.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

UMA FLORESTA DE ENGANOS


Estão actualmente os portugueses embrenhados numa floresta de enganos. Pior que a Floresta de Birnam, que se deslocou transportada por guerreiros para derrotar Macbeth, a floresta de contradições da política portuguesa arrisca-se a destruir-se a si mesma. Com ou sem a morte de Macbeth.

Ainda ontem, o Conselho de Estado, reunido na plenitude dos seus membros, emitiu um comunicado que disse nada. Clamam as oposições contra as medidas de austeridade e especialmente contra a falta de equidade das mesmas. Protestam muitos, mesmo dentro dos partidos da coligação governamental, contra a desigualdade da atribuição da austeridade, donde saem sempre favorecidos aqueles que por natureza já o são. O próprio presidente da República inquieta-se quanto às medidas do governo. Os juízes dizem que não aplicarão leis que considerem injustas. Os polícias já se manifestaram e os militares vão manifestar-se. As centrais sindicais preparam uma greve geral, independentemente das greves sectoriais já em curso. Ignora-se a votação do PS na Assembleia da República. O povo, quando no próximo ano avaliar no seu bolso da maldade das medidas, sairá, certamente, à rua. Diz-se que Portugal não é a Grécia. A ver vamos.

O Governo invoca sistematicamente a chamada troika e as suas exigências e proclama que tem de agravá-las (é a romagem dos agravados, de Gil Vicente, que também se preocupou com a floresta de enganos, mal ele sabia o que ainda haveria de chegar) para ganhar credibilidade internacional; mas não consegue explicar porquê. Diz mesmo, pela voz do primeiro-ministro, que alguma alteração nas medidas fundamentais preconizadas inviabilizaria o país de ter dinheiro no mês de Novembro. Não sei quem lhe disse isso ou se é apenas a sua intuição.

Poucos portugueses conhecem o texto do tão invocado acordo, mas quem conhece sabe que o que consta do Orçamento para 2012 ultrapassa a matéria consignada no texto. A austeridade que nos é imposta visa outros objectivos, aliás já denunciados em numerosos fóruns. A Grécia vai obter metade do perdão da sua dívida, mas quando em Portugal se fala em reestruturar a dívida, logo alguém diz que não mais teríamos crédito internacional.

Quero registar aqui uma palavra de congratulação. Pedro Passos Coelho, apesar de fazer agora tudo o que negara durante a campanha eleitoral, sempre se considerou como um liberal (diga-se em abono da verdade) e ao elegê-lo foram os portugueses estúpidos ao conceder-lhe o voto. Eu sei, bem sei, que o bom povo português estava farto de Sócrates e só desejava vê-lo pelas costas, e como o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda ainda metem medo a muita gente, a única alternativa era votar na "direita". Julgavam que PPC não seria tão ultra-liberal. Pois lixaram-se.

A agenda de Passos Coelho, ultrapassando a de muitos chefes de governo da União Europeia (toda ela ao serviço do capital financeiro) consiste no desmantelamento progressivo (porque é impossível de realizar de uma só penada, ou neste caso ramada, porque falamos de floresta) do estado social e da destruição do sector público, que deverá ser entregue a privados, preferencialmente estrangeiros. Refiro-me à parte que dá lucro, pois a que dá prejuízo continuará na posse do Estado e será paga pelos cidadãos contribuintes.

Não quero dizer que não tenha havida nestas últimas décadas um regabofe em muitos sectores públicos, especialmente por parte dos seus dirigentes. Que a promiscuidade dos políticos que vão para as empresas, sem período de nojo, é um escândalo nacional. Que a aliança do poder autárquico com o futebol e o betão, já largamente denunciada, é coisa que nem ouso classificar aqui, por respeito para com os leitores.

Delapidaram-se nestas décadas milhões de milhões de euros (além dos que foram roubados). Desde Cavaco Silva, com Guterres, com Durão, finalmente com Sócrates. Não esquecendo Alberto João Jardim. O país foi ficando no pântano, de tanga, com um desvio colossal e monstruoso, realmente a saque. Já o general Carmona dissera, em tempos, que a Pátria estava doente. Voltou hoje a estar. Mas receio bem que o remédio prescrito pelo Governo vá matá-la com a cura.

VITÓRIA DOS ISLAMISTAS NA TUNÍSIA


O partido islâmico Ennahda venceu as eleições tunisinas para a Assembleia Constituinte, com cerca de 40% dos votos, embora não tenham sido ainda publicados os resultados oficiais. Num país secularizado desde a sua independência, pela mão de Burguiba, o pai da Pátria, e depois por Ben Ali, este resultado é surpreendente, embora só aparentemente, e era previsível desde há meses. A vitória de Ennahda não tem só a ver com a religião mas também com a situação política internacional e com o passado recente do país.

O líder Rachid Ghannuchi reclama para o seu partido a liderança do novo governo, embora se declare aberto a coligações com as outras formações mais votadas, nomeadamente o Ettakatol, de Mustafa Ben Jaafar e o Congresso para a República, de Moncef Marzuki. Cabendo à assembleia agora eleita a designação de um presidente da República interino, Ben Jaafar manifestou já a sua vontade de candidatar-se.

Com um Conselho Nacional de Transição, na Líbia, que se reclama da sharia, embora proclamando o respeito pelos direitos humanos, a nova governação da vizinha Tunísia suscita as maiores interrogações.

Uma certeza, porém. A "nova" Tunísia será muito diferente daquela que os visitantes estrangeiros, estudiosos ou turistas, conheceram. A menos que uma dose de realismo leve os novos dirigentes a adoptar uma política pragmática, até para evitar a fuga do turismo, uma das principais fontes de receita nacional.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

APELO DA UNESCO SOBRE A LÍBIA

Leptis Magna - Arco de Trajano

A directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, lançou um apelo às novas autoridades líbias para que protejam os tesouros arqueológicos e o comércio ilegal, após a conclusão da invasão do país, agendada para 31 deste mês. Citou Bokova a pilhagem, os roubos e as depredações ocorridas no Iraque depois do ataque anglo-americano e também os vários roubos e devastações verificados no Egipto a seguir à queda de Hosni Mubarak.

Segundo o PÚBLICO, a UNESCO forneceu às forças atacantes da NATO as coordenadas dos principais espaços culturais líbios, a fim de evitar que fossem bombardeados, como sucedeu em muitos casos no Iraque, apesar dos avisos daquela organização ao presidente Bush, que, como analfabeto funcional, os não entendeu.

Em períodos de grande instabilidade política e económica, actualmente o caso da Líbia, os sítios arqueológicos e os museus são os locais mais ameaçados pelos roubos.

domingo, 23 de outubro de 2011

A NOVA TUNÍSIA

العديد من التهاني

Realizaram-se hoje na Tunísia as primeiras eleições livres desde há décadas e as primeiras que têm lugar num país árabe, depois das revoltas desencadeadas contra os regimes vigentes e que iniciaram a chamada "Primavera Árabe".

O escrutínio, acompanhado por observadores internacionais,  decorreu com normalidade, tendo-se registado alguns esporádicos incidentes como refere a cadeia Al Jazira. O líder do partido islâmico Ennahda (Renascimento), Rachid Ghannouchi, que vivia exilado em Londres e regressou ao país após o derrube de Ben Ali, foi apupado quando se dirigia ao seu local de voto na circunscrição eleitoral de Menzah VI, um dos distritos da cidade de Tunis, a capital. Existem na Tunísia, país com uma população jovem, 7,5 milhões de potenciais votantes, ainda que estejam registados como eleitores apenas 4,4 milhões.

A votação de hoje destina-se a eleger os 217 membros de uma assembleia constituinte, destinada a redigir a nova Constituição do país, a designar um presidente da República interino e a avalizar o governo da 2ª transição democrática. As previsões atribuem ao partido islâmico uma votação maioritária, ainda que as decisões da assembleia estejam dependentes das coligações que vierem a constituir-se. De qualquer forma, a Tunísia que, pelo menos nos meios urbanos, se secularizou no tempo de Ben Ali, importa dizê-lo, dificilmente aceitaria agora a imposição de um regime islâmico, apesar da propaganda difundida nos últimos meses.

Concorrem à nova assembleia mais de 11.000 candidatos, repartidos por mais de 1.500 listas e representando 80 partidos políticos e centenas de independentes. A votação encerra às 19 horas de Tunis (e de Lisboa, neste momento estamos no mesmo fuso horário) e a afluência às urnas é estimada em 70% dos inscritos. Os resultados do escrutínio deverão ser conhecidos amanhã ou, no máximo, na próxima terça-feira.

A todos os meus amigos tunisinos endereço felicitações por este acto e desejo que ele possa ser o início de uma nova Tunísia, laica (sem relegar os valores culturais religiosos), independente de influências estranhas, próspera  e acolhedora dos estrangeiros seus amigos, como sempre a conheci.

sábado, 22 de outubro de 2011

CATEDRAL DE S. PAULO, EM LONDRES, FECHA AS PORTAS


Pela primeira vez, desde a Segunda Guerra Mundial, a Catedral de São Paulo, esse notável monumento de arquitectura e da religião anglicana, o último grande templo cristão a ser construído na Europa, fechou as suas portas.


Muitas centenas de pessoas permanecem instaladas nas escadarias da igreja e acampadas no largo fronteiro, protestando contra "a crise e os excessos do capitalismo". Os "indignados" que no princípio da semana tinham montado 70 tendas, possuem agora mais de 200. Durante o dia de hoje milhares de ingleses passaram frente à Catedral a fim de escutarem os discursos proferidos pelos manifestantes  do alto das escadarias.

POLÍCIAS E MILITARES CONTRA O GOVERNO


As medidas de austeridade iniciadas com o governo de Sócrates e agora dramaticamente agravadas pelo actual governo de Passos Coelho, estão a provocar a maior apreensão e angústia entre os portugueses, que embora se apercebam da situação a que uma governação irresponsável conduziu o país nas últimas décadas, não conseguem entender que não existam alternativas para medidas tão violentas, nem que os responsáveis (inúmeros) por esta tragédia que se abateu sobre as suas cabeças continuem imunes, ricos e tranquilos.

As próprias forças a quem incumbe a defesa da Pátria e a manutenção da ordem pública também manifestaram já o seu descontentamento.

Assim, no passado dia 14, numerosos elementos da Unidade Especial de Polícia da PSP [que engloba o Corpo de Intervenção, o Grupo de Operações Especiais (GOE), o Corpo de Segurança Especial, o Centro de Inactivação de Explosivos e Segurança em Subsolo e o Grupo Operacional Cinotécnico] , vestidos de preto, desfilaram desde o seu Quartel, na Ajuda, até ao Palácio de Belém, a fim de entregarem ao Presidente da República um memorando com as suas reivindicações.

Também centenas de militares (oficiais, sargentos e praças) das Forças Armadas, reunidos hoje em Lisboa, convocaram uma manifestação para o próximo dia 12 de Novembro, no Rossio, a fim de protestarem contra as "duríssimas medidas" impostas ao País e às Forças Armadas. Os descontentes marcharão depois até ao Terreiro do Paço, aonde se concentrarão em frente do Ministério das Finanças.

A intranquilidade atinge todos, mas é mais preocupante quando os intranquilos têm as armas na mão.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MINISTRO DOS ESTRANGEIROS DA PALESTINA EM PORTUGAL


O ministro dos Negócios Estrangeiros da Palestina, Riyad Al-Maliki, visitou ontem Portigal, tendo-se encontrado com o primeiro-ministro e com o seu homólogo português.

Na ocasião, e a propósito da admissão da Palestina nas Nações Unidas como Membro de pleno direito, Paulo Portas referiu que se devem privilegiar as negociações e não provocar um confronto no Conselho de Segurança, decorrente do veto já anunciado dos Estados Unidos. Adiantou, todavia, que Portugal poderia apoiar a pretensão palestiniana como Membro observador, estatuto de que goza o Estado do Vaticano.

Riyad Al-Maliki confirmou a vontade da Autoridade Palestiniana  em prosseguir as negociações com Israel, mas adiantou que não vê contradição entre essa posição e o esforço de ver o Estado da  Palestina reconhecido pela ONU.

No próximo dia 26 reúne-se em Jerusalém o chamado "Quarteto" para que sejam retomadas as negociações de paz entre a Palestina e Israel. O Quarteto, que é liderado pelo sinistro Tony Blair, deverá criar as condições para que sejam tomadas medidas positivas que conduzam ao reconhecimento do Estado da Palestina.

Pessoalmente, não acredito que essas negociações conduzam a algum resultado positivo. Oxalá me engane.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

MUAMMAR QADDAFI


Segundo o noticiário internacional, Muammar Qaddafi, que governou a Líbia durante mais de 40 anos, foi hoje abatido a tiro, em circunstâncias ainda não claramente determinadas, quando pretendia abandonar a cidade de Syrte, seu berço e donde dirigia a resistência final contra os seus opositores.

O coronel Qaddafi, a quem se devem, no início do seu longo consulado, algumas medidas positivas que contribuíram para o desenvolvimento da Líbia, tornara-se progressivamente uma figura inconsequente e megalómana, considerando que no seu Livro Verde (uma imitação do Livro Vermelho de Mao-Tsé-Tung) residiam as receitas para a salvação da humanidade.


A ditadura de Qaddafi foi uma das mais repressivas do mundo árabe, e são-lhe atribuídos vários actos criminosos que o tornaram uma personagem pouco frequentável. Não obstante, nos últimos anos, foi cortejado pela maioria dos governantes europeus e mesmo pelo presidente Obama, que agora se congratulam com a sua morte.

A chamada "primavera árabe" ser-lhe-ia fatal mas o coronel recusou-se a aceitar a realidade preferindo, honra lhe seja feita, combater até o fim.

Lamentamos que não tenha sido preso e julgado pelos crimes que cometeu, mas compreendemos também que um tal julgamento seria incómodo para a comunidade internacional, que assim se liberta de um problema adicional. Os líderes ocidentais ainda não se esqueceram dos julgamentos de Slobodan Milosevic (que morreu ou foi assassinado antes do veredicto) e de Saddam Hussein (que acabou enforcado).

Ou muito me engano ou a situação na Líbia está longe de uma pacificação. Qaddafi surgirá como um mártir aos olhos de muitos. E por mais que a maioria dos líbios desejasse a sua substituição no poder, a invasão da NATO, agora aclamada com algum entusiasmo, talvez  venha a revelar, num futuro próximo, um sabor amargo.

A SITUAÇÃO NA GRÉCIA



O dia de ontem em Atenas e nas principais cidades gregas foi de violentos confrontos entre manifestantes e forças da ordem de que resultaram numerosos feridos. Começou a ser discutido no Parlamento o novo pacote de medidas de austeridade que reduzirão ainda mais o já encolhido orçamento familiar dos cidadãos. Escrevo cidadãos por hábito, na medida em que o direito de cidadania parece ter desaparecido da Nação Helénica, tradicionalmente chamada a Mãe da Democracia.

Creio que muitos gregos, não todos e nem sempre, terão sido perdulários durante vários anos, mas creio também firmemente que a grande responsabilidade cabe à classe política grega e seus apêndices, que desgovernou o país e se governou a ela, desde a introdução do euro como moeda nacional.

A Grécia foi ontem e será novamente hoje (dia da votação definitiva no Parlamento das novas restrições) paralisada pela maior greve geral de que há memória.

O Conselho Europeu reunir-se-á numa Cimeira no próximo dia 23, para discutir as medidas de urgência a adoptar para salvar a União e o euro. Se esse objectivo não for atingido, o alastrar da crise conduzirá fatalmente ao colapso da Europa, com o cortejo subsequente de desgraças individuais e colectivas, tumultos, insurreições e, finalmente, ao que muitos parecem desejar: uma Terceira Guerra Mundial.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O ERRO DE ERDOGAN

Recep Tayyip Erdogan

Ao aceitar coversações com o recém-criado Conselho da Oposição Síria, o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan comete um erro, que aniquilará as pretensões hegemónicas da Turquia no Mundo Árabe.

Os recentes conflitos religiosos no Egipto, a guerra civil na Líbia, a intranquilidade na Tunísia, as silenciadas perturbações na Península Arábica, tudo isto concorre para uma progressiva perda de influência da oposição (apoiada pelo Ocidente) ao presidente Bachar Al-Assad, enquanto uma multidão avaliada em centenas de milhar de pessoas se reuniu hoje em Aleppo, segundo cidade da Síria, repetindo a manifestação de há dias em Damasco, para apoiar o regime.

Manifestação em Aleppo

Os árabes começam a perceber que a instalação apressada de regimes soi-disants democráticos apenas lhes poderá trazer sangue, suor e lágrimas. Só os estúpidos e venais governantes (não lhes chamo estadistas) do Mundo Ocidental não perceberam ainda a complexidade da cultura e das tradições árabes, e aqueles que conseguiram percebê-las ignoram-nas em proveito dos mais inconfessáveis interesses económicos e financeiros, interesses que já arrastaram a Europa para a situação actual, sem que alguém fosse chamado à responsabilidade, julgado e condenado.

É evidente que o regime sírio é um regime ditatorial, mas um país com as características da Síria (a exemplo dos países do Médio Oriente, construídos sobre fronteiras artificiais criadas pela colonização da Inglaterra e da França e pela administração dos territórios de mandato), com profundas diferenças étnicas, religiosas, sociais, não poderá evoluir (se isso é evolução?) para uma democracia representativa tipo europeu de um dia para o outro. Poderá, sim, evoluir para uma interminável guerra civil. Como acontecerá provavelmente a breve trecho na Tunísia, no Egipto e como prossegue na Líbia. E como sucedeu no Iraque.

Um observador insuspeito como Jean Daniel, escreve hoje no editorial do Nouvel Observateur (nº 2450) que pairam «nuvens sobre a "primavera árabe"».

Oxalá eu me engane, mas parece-me que toda esta agitação no mundo árabe não contribuirá para a felicidade dos povos, que viviam, sem dúvida, em situação de opressão e de pobreza, uns mais do que outros conforme os países, mas num clima de relativa paz social. É certo que esta não é tudo, mas há que avaliar o activo, o passivo e o saldo.

INSULTO A VERDI



Don Carlo (Finale): Teatro Alla Scala, Milão, 1992 - Direcção musical de Riccardo Muti - Encenação de Franco Zeffirelli. Com Luciano Pavarotti, Samuel Ramey, Daniela Dessì, Paolo Coni, Luciana d'Intino e Alexander Anisimov


O Teatro Nacional de São Carlos inaugurou a presente temporada com a ópera Don Carlo, de Verdi, apresentada em 7 récitas, entre 8 e 23 de Outubro.

É Don Carlo uma das principais óperas de Verdi, se não de todo o repertório operático.  Que exige não só uma boa prestação dos cantores e da orquestra como uma encenação que traduza (é para isso que servem as encenações) o plot que decorre em cena. Especialmente quando se trata de um tema cujo peso histórico é determinante para a compreensão do drama. Infelizmente, nada disto aconteceu em São Carlos, e quando comparo o actual espectáculo com aquele a que assisti o ano passado em Munique, e que referi neste blogue, a diferença é abissal.

Começo pelo aspecto vocal. A cantora portuguesa Elisabete Matos, com notável curriculum internacional mas que raramente canta em Portugal, foi uma Elisabetta de Valois convincente, embora a albanesa Enkelejda Shkosa, em Eboli, não lhe tenha ficado atrás. Nos papéis masculinos, o jovem chileno Giancarlo Monsalve, em Don Carlo, com uma boa presença física e uma voz potente, não conseguiu imprimir, nem ao desempenho cénico do protagonista nem à parte vocal o mínimo que seria exigível. O italiano Enrico Iori, também com boa voz, e relativamente certo, carece por completo do perfil para interpretar Filippo II. O grego Dimitri Platanias encarnou Rodrigo de Posa, cantando regularmente mas sem compreender a personagem. A pior interpretação foi a do arménio Ayk Martirossian que, em Grande Inquisidor, nem vocal nem cenicamente esteve à altura do papel.

Uma palavra para a Orquestra Sinfónica Portuguesa e para o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Pode dizer-se que o seu desempenho esteve dentro do aceitável, dadas as limitações destes dois grupos, o mesmo não se podendo afirmar quanto à direcção musical do maestro - e director artístico do Teatro de São Carlos - Martin André, cuja condução foi arrastada e mesmo por vezes desfasada dos cantores.

O ultimo comentário é para a encenação de Stephen Langridge. Se me tivessem contado o que ocorreu no palco do São Carlos, não teria acreditado. Langridge tem algum curriculum internacional mas dele só conhecia, em dvd, a gravação de um Otello no Festival de Salzburg, em 2008. Com estultas pretensões "modernistas" mas não particularmente chocante.

Deste Don Carlo direi que a encenação (e obviamente cenários e figurinos) são inenarráveis. Langridge, com presumíveis veleidades de avant-garde, destruiu por completo o efeito que esta obra tem sobre o espectador. Certas óperas são susceptíveis de aguentar uma encenação localizada no tempo presente, desde que o espectáculo tenha um propósito e uma coerência e não seja um amontoado de soluções gratuitas, destinadas a evidenciar a suposta capacidade do encenador para um aggiornamento do tema. Assim aconteceu em 1976, com Patrice Chéreau, quando montou em Bayreuth (com algum escândalo, na altura) a "Tetralogia" de Wagner. Actualizou mas, como homem de cultura e de teatro, sabia o que estava a fazer.

A encenação concebida por Langridge para este Don Carlo (se é que concebeu alguma encenação) é simplesmente miserável. Está ao nível de um espectáculo de circo, de mau circo. Ignorando a dimensão histórica do poema dramático de Schiller (ainda que este não respeite integralmente a verdade dos factos) e a correspondente tradução musical que Verdi dele fez, esta abominável encenação esquece que a acção decorre na corte de Filipe II de Espanha e que toda a obra está impregnada do ambiente insubstituível da Casa de Áustria e da sua etiqueta, do peso tremendo da Igreja Católica (e da Santa Inquisição) e dos sinistros compromissos entre o Trono e o Altar. Para além das relações pessoais não explicitadas no texto mas que nele figuram implícitas (e na música também) e que Langridge certamente nem percebeu.

Assisti durante 40 anos, à excepção de umas três ou quatro, a todas as óperas cantadas no Teatro de São Carlos, só nos últimos anos me tendo afastado de espectador habitual. Tenho assistido igualmente a muitos espectáculos de ópera no estrangeiro, até em países de fracos recursos e com poucas tradições.

Pior, em termos de encenação, nunca vi.

Se Verdi, por milagre, tivesse ressuscitado e assistisse a este espectáculo, morreria novamente antes do pano cair sobre o último acto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O SOLDADO SHALIT

Aguardando a chegada dos prisioneiros palestinianos

Após mais de cinco anos de cativeiro, o Hamas libertou o soldado israelita Gilad Shalit, capturado numa missão militar. Em contrapartida, o governo israelita devolveu à liberdade 477 presos palestinianos, devendo entregar mais 550 prisioneiros dentro de dois meses. A mediação foi efectuada pelo governo egípcio e acontece num momento de graves dificuldades internas e externas para Benjamin Netanyahu. O Hamas também tem a lucrar com a desejada (por ambas as partes) troca nesta data, numa altura em que se tem revelado o protagonismo do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, que  submeteu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas o pedido de ingresso da Palestina, como membro de pleno direito daquela organização.

Mais de 5.000 palestinianos encontram-se detidos em prisões israelitas.

Gilad Shalit foi recebido numa base aérea israelita pela família e pelo primeiro-ministro do governo judaico. Os presos palestinianos foram saudados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia por dezenas de milhar de compatriotas, que os acolheram entusiasticamente. Alguns dos palestinianos agora libertados seguirão depois para um outro país: Síria, Qatar ou Turquia.

Após a sua libertação, Shalit declarou esperar que este acordo possa contribuir para a obtenção da paz entre israelitas e palestinianos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A ESTRATÉGIA DA ARANHA


O cineasta italiano Bernardo Bertolucci realizou em 1970 um dos mais importantes filmes da sua carreira, ainda que hoje um pouco esquecido face às numerosas e inolvidáveis obras com que nos tem brindado desde 1962: Strategia del ragno. Retirou Bertolucci a inspiração para o argumento recorrendo a um conto de Jorge Luis Borges, esse outro incontornável vulto da literatura argentina e mundial: "Tema del traidor e del héroe", incluído no livro Ficciones (1944), publicado em português por Livros do Brasil, com o título Ficções, em 1969.

Vem isto a propósito da actual situação política, económica, financeira, social em Portugal, e, por extensão, na Europa e mesmo no mundo. A teia de aranha em que somos envolvidos, como os protagonistas de Borges e de Bertolucci, torna-se cada vez mais cerrada e atrofiante e as perspectivas de libertação afiguram-se diminutas, se não inexistentes.

A apresentação, hoje, do Orçamento de Estado para 2012, e a irreversível trajectória para os anos futuros, constitui um corte epistemológico no percurso mental dos portugueses. Ao longo de mais de duas décadas fomos sistematicamente iludidos sobre a situação do país, em que, com dinheiros alheios, foram realizadas obras supérfluas, para não falar do desbaratamento desses dinheiros ou, o que é muito mais grave, do seu roubo. Investiu-se desbragadamente em betão, criaram-se sinecuras  indecorosas, realizaram-se negócios que não ouso classificar.

O Estado português acabou por se tornar um "monstro", para usar uma expressão cara a Cavaco Silva, não devendo esquecer-se que foi, aliás, nos seus governos que começaram a criar-se as "gorduras" que hoje tanto afligem os governantes. Cavaco retirou-se a tempo da governação e Fernando Nogueira perdeu as eleições para Guterres, que prosseguiu no desperdício (os estádios do Euro e a Expo são dois exemplos de como se gastaram desnecessariamente milhões). Guterres saiu pelo seu pé, para não deixar o país no "pântano" (a expressão é dele), e Durão Barroso, que lhe sucedeu, começou a sua governação por não cumprir as promessas eleitorais, visto Portugal estar de "tanga". Saiu Barroso também pelo seu pé (para um lugar bem remunerado, com menos preocupações e eventualmente com mais prestígio) deixando a herança a Santana Lopes, que pela efemeridade da sua governação não é para aqui especialmente chamado. Sócrates, que se seguiu, prometeu mundos e fundos, mas logo após a sua eleição traiu a promessa anteriormente  efectuada de não aumentar os impostos, devido ao buraco que encontrou nas contas públicas, buraco devidamente avalizado pelo então governador do Banco de Portugal, o inefável Constâncio, que hoje acompanha sistematicamente, frente às televisões (como cão de guarda ?), o governador do Banco Central Europeu, na sua qualidade de "vice", talvez em pagamento dos relevantes serviços prestados à nação. Com a demissão de Sócrates, Passos Coelho eleito e nomeado primeiro-ministro, logo esqueceu as reiteradas promessas pré-eleitorais e, tendo encontrado, também ele, um desvio colossal, propõe agora, para a salvação da Pátria, as medidas mais draconianas algumas vez aplicadas em Portugal, em termos que nem mesmo Salazar, com o poder de que dispunha, ousou preconizar.

Que fazer? Não há uma resposta fácil! Acredito que o Estado se encontra em situação de pré-falência, que existem compromissos internacionais, que são urgentes reformas estruturais no país, mas assiste-se quase exclusivamente à adopção de medidas que levam ao aumento do custo de vida e ao progressivo desmantelamento do Estado Social, a pretexto da salvação do mesmo. São sempre os mesmos que pagam a crise. Assiste-se à extinção acelerada da classe média, sustentáculo dos regimes ditos democráticos. Sem ser tão pessimista como Medina Carreira hoje na TVI, ao preconizar uma vaga de tumultos, suicídios e quantas outras desgraças tecidas pelas Parcas, acredito que o que agora é retirado aos portugueses  não será apenas por dois ou três anos mas jamais será reposto. Poderia ser de outra forma? Talvez, ainda que não disponha da informação necessária para o afirmar.

A teia em que estamos envolvidos obedecerá possivelmente a uma estratégia mais ou menos oculta de redução dos cidadãos à condição, a termo, de escravos numa sociedade nova concebida por espíritos inomináveis. Mas hoje não quero trilhar essa via, que logo seria apelidada de teoria da conspiração. Ficará para mais tarde.

Como este texto já vai longo, acrescentarei tão só duas notas:
1) A partir de agora nunca mais os portugueses, espero, acreditarão em promessas eleitorais;
2) A crise portuguesa, e a crise da Grécia e da Irlanda, da Espanha e da Itália, do Euro, da União Europeia e até do Mundo, porque parece que tudo está em crise, não se resolverá com as medidas que vão sendo parcimoniosamente tomadas pelos governantes, nossos e alheios. O que está em crise é o sistema de governação, a própria democracia representativa nos moldes em que actualmente funciona, a ausência de Justiça que penalize os infractores da lei, num mundo em que alguém é preso por roubar um pão e ninguém é preso por roubar um milhão ou mesmo 100 milhões.

Este sistema já deu o que tinha a dar. Ou a aranha morre ou morremos nós.

domingo, 16 de outubro de 2011

HOLLANDE CANDIDATO


Mais uma vez aqui se faz referência às eleições primárias, a duas voltas, do Partido Socialista Francês. François Hollande ganhou (56% dos votos) por pequena margem a Martine Aubry, actual secretário(a)-geral. Será ele que no próximo ano defrontará Sarkozy (caso este se recandidate) nas eleições presidenciais. Tem todas as probabilidades de ganhar. Muitos lamentam que não tenha sido Aubry (filha de Jacques Delors) a obter a vitória. Para eles, Aubry está situada mais à esquerda do que Hollande, mas no actual contexto político as diferenças não seriam grandes.

É todo o sistema que carece de urgente reforma.

sábado, 15 de outubro de 2011

A INDIGNAÇÃO



No início deste ano Stéphane Hessel publicou em França um pequeno manifesto intitulado Indignez-vous!. O opúsculo foi traduzido até hoje em dezenas de línguas, incluindo a portuguesa, e dele foram vendidos milhões de exemplares em todo o mundo. Referi-me aqui a esse grito de indignação de Hessel, que termina com uma citação de Albert Camus: "Os governos, por definição, não têm consciência".

Madrid

Contra a ditadura dos mercados, a especulação financeira, a corrupção da classe política, as medidas de austeridade que se abatem sempre sobre os mais fracos e desprotegidos, a incompetência da governação, realizaram-se hoje em todo o mundo manifestações de protesto que contaram com a participação de milhões de pessoas. Em Nova Iorque, Washington, Boston, Los Angeles, Londres, Madrid, Barcelona, Roma, Lisboa, Zurique, Seul, Hong-Kong, Manila, Marselha, Estocolmo, Atenas, Frankfurt, Paris, Berlim, Bruxelas, São Paulo, Santiago e em mais cerca de 100 cidades, a população saiu à rua para exprimir a sua indignação.

Roma

Começa a constatar-se hoje a falência do actual modelo capitalista, que o ultra-liberalismo prostituiu. Economia de mercado é uma coisa, o roubo institucionalizado é outra. Igualmente, o sistema político da democracia representativa também faliu, não porque não seja teoricamente uma forma admissível de governação, mas porque os candidatos aos cargos passaram a ser eleitos de acordo com programas cujo conteúdo invertem em absoluto mal ocupam os lugares. A perda de confiança dos cidadãos eleitores é total.

Londres - Julian Assange fala à multidão

Esta indignação a nível global, consequência quiçá inesperada da globalização económica, promete traduzir-se em acções mais concretas e permanentes que impliquem a revisão do sistema vigente. Proclamou-se durante anos que o poder político estava na dependência do poder económico; em Portugal era um dos cavalos de batalha no tempo de Salazar. Pois nunca, em todo o mundo o poder político dependeu tão intimamente do poder económico como hoje. Chegamos a interrogar-nos se vale a pena eleger dirigentes políticos que não são mais do que instrumentos nas mãos dos grupos económicos e financeiros que controlam cada vez mais estreitamente a vida dos povos.

Lisboa

Será preciso mudar realmente alguma coisa para que tudo não continue na mesma.

BALIBAR E A "IGUALIBERDADE"

A propósito da publicação do seu livro Citoyen sujet et autres essais d'anthropologie philosophique, Balibar explica-se a Eric Aeschimann no Nouvel Observateur.

  Balibar, le philosophe de l'égaliberté


 Comme Alain Badiou, Etienne Balibar fut un proche d'Althusser. Mais, alors que la pensée radicale retrouve de l'audience, il récuse l'opposition entre démocratie et révolution, deux faces de notre «cause commune». Il s'en explique avec Eric Aeschimann

Etienne Balibar, né en 1942, a enseigné la philosophie morale et politique à Nanterre jusqu'en 2002. En 1965, il est l'un des auteurs de l'ouvrage collectif dirigé par Louis Althusser "Lire le Capital". Depuis, il a publié "Race, nation, Classe" (1998, avec Immanuel Wallerstein), "la Crainte des masses" (1997) et "l'Europe, l'Amérique, la Guerre". (2003) Photo: Jean-Luc Bertini - Pasco  

Etienne Balibar, né en 1942, a enseigné la philosophie morale et politique à Nanterre jusqu'en 2002. En 1965, il est l'un des auteurs de l'ouvrage collectif dirigé par Louis Althusser "Lire le Capital". Depuis, il a publié "Race, nation, Classe" (1998, avec Immanuel Wallerstein), "la Crainte des masses" (1997) et "l'Europe, l'Amérique, la Guerre". (2003).


Le 9 mars 1981, un philosophe prend la plume dans «le Nouvel Observateur». Nous sommes à deux
mois de la victoire de François Mitterrand et le communisme français va bientôt commencer sa descente aux enfers. Etienne Balibar est membre du PCF, disciple d'Althusser, coauteur de «Lire le Capital», son nom est connu.

Quelques semaines plutôt, le Parti communiste s'est engagé dans une consternante campagne contre l'immigration. Minutieusement Balibar énumère les erreurs des directions successives: atermoiements pendant la guerre d'Algérie, aveuglement en 68, poussée nationaliste, tentation d'exploiter les peurs, «peyrefttisme du pauvre». Sans oublier le «culte stupéfiant de la personnalité de «Georges» (Marchais). C'est une lettre de rupture, un adieu méthodique. Le lundi suivant, «l'Humanité» annonce en une son exclusion.

Y a-t-il une vie après le communisme pour un penseur marxiste? Après son coup d'éclat, Balibar a continué d'intervenir dans le débat public. Pour les sans-papiers et pour l'Europe. Contre Sarkozy et pour Royal, en 2007. Contre la politique israélienne en Palestine. Il a réfléchi sur l'«égaliberté», les droits de l'homme, l'Amérique, la violence. On continuait à l'écouter, mais distraitement: en ce temps-là, la haine du marxisme bouchait les oreilles et c'est sa fille, la comédienne Jeanne Balibar, qui était désormais célèbre.
Tout a changé lorsque Negri, Badiou, Zizek, Rancière, Agamben et autres penseurs «néocommunistes» ont rouvert la possibilité de discuter des notions aussi nécessaires que «le sujet», «le commun», «l'universel», «l'émancipation»... Avec un même mot d'ordre: changer la société, refaire de la philosophie.

En général, on met Balibar dans le lot. Il ne contredit pas. Pour la plupart, il les connaît depuis longtemps, ils se parlent, s'écrivent. Mais les deux fois où Alain Badiou l'a invité à ses colloques sur l'«idée communiste», à Londres en 2009 puis à Berlin l'année suivante, il a décliné. Cela lui a valu un mail un peu sec: «Décidément, tu n'es jamais là où les choses se passent vraiment.» Et il est vrai que Balibar est difficile à situer. Chaleureux, volubile, il explore les contradictions mais rechigne à conclure et n'a pas l'art des formules frappantes. D'où le risque de malentendu.

Mais il suffit de le lire pour sentir une question insistante, entêtante, obsessionnelle, qui a trait à la pratique politique et à tout ce qui s'y joue. «S'il existe une éthique politique, explique-t-il, c'est celle qui consiste à se révolter avec la conscience absolue et tragique que l'insurrection comporte toujours le risque de l'esclavage. Et en se rappelant que ne rien faire, c'est l'assurance de la servitude, de l'abjection, de la décadence et de la violence institutionnelle - avec ça, on a notre société.»

Etienne Balibar reçoit dans son bureau perché sous les toits d'un immeuble haussmannien, à Paris, non loin de la Cité universitaire. La pièce est tapissée de rayonnages avec doubles rangées de livres. Cet homme-là lit tout et, dans ses textes, n'hésite pas à citer des penseurs aussi éloignés de lui que Régis Debray Jean-Claude Milner ou Marcel Gauchet. Il ne souhaite surtout pas être mis en rivalité avec Badiou et les autres.

Pourtant, c'est bien à ses vieux compagnons qu'il répond lorsqu'il insiste sur la dimension tragique de l'insurrection. Pour eux, note-t-il, «dès que l'insurrection se transforme en institution, c'est la trahison absolue ». Et d'énumérer: Rancière, pour qui la «politique» finit toujours en «police»; Badiou, dont «l'événement» se dégrade en «simulacre»; ou encore Negri, chez qui le pouvoir politique «constitué» écrase la masse «constituante». Or, pour lui, cette opposition est une erreur, car «dans toute institution, il y a la possibilité d'une insurrection».

Simple désaccord politique sur le thème classique «réformisme ou révolution»? Non. Car l'affaire est au coeur du projet philosophique de Balibar et vient de prendre la forme de trois ouvrages publiés en quelques mois, dont chacun aborde un champ philosophique. «La Proposition de l'égaliberté» reprend ses grandes thèses de philosophie politique. «Violence et Civilité» est une réflexion sur l'éthique. Tous deux sont sortis l'année dernière, respectivement aux PUF et chez Galilée. «Citoyen sujet», qui paraît ces jours-ci, se présente comme un essai d'«anthropologie philosophique», c'est-à-dire une compréhension globale de l'homme tel qu'il vit. Des trois, c'est l'ouvrage le plus novateur, celui qui marque l'inflexion la plus nette.
L'enjeu, c'est tout simplement le dépassement de ce qu'on appelait dans les années 1960 l'anti-humanisme. On disait que l'homme n'existe pas, que le sujet absolu, autosuffisant, promesse d'une humanité idéale, était une invention qui passerait, que tout n'est que «procès historiques» (Althusser) ou «systèmes de savoirs» (Foucault).

Bref: qu'il n'y a pas de nature humaine, pas d'essence humaine, et vouloir bâtir une«anthropologie», c'était retomber forcément dans l'humanisme. Soit, au choix: le moralisme de Kant, le savoir absolu de Hegel, la volonté de Sartre... «Je reconnais qu'il faut une certaine inconscience pour dire qu'on va faire le mouvement contre lequel Foucault mettait en garde et se proposer de traiter l'homme comme une essence.»

Balibar ne retourne pas sa veste. Ne méconnaît pas que nos perceptions, nos façons de classer le monde sont des constructions historiques en constante évolution. Mais ce qui ne change pas, c'est le besoin que nous avons de ces constructions. Il y a là un invariant, qui certes varie toujours, mais ne disparaît jamais. Pour le nommer, il a recours à un terme trouvé chez Foucault et Derrida: le quasi-transcendantal. «Le projet auquel je travaille, c'est une enquête sur le quasi-transcendantal.»

Ainsi se livre-t-il dans le final de «Citoyen sujet» à un exercice vertigineux où il montre comment les différences de race, de genre ou de «normalité» psychologique, loin de justifier les habituels discours sur l'altérité, constituent au contraire le fondement même de l'universel. Non pas un universel figé et dominateur, mais, pour reprendre une expression qu'il emploie dans un autre chapitre, une «chose commune», une «cause commune», produite à chaque instant, par tous et par chacun, dans une perpétuelle reconfiguration.
Et c'est là que se justifie le long détour par l'abstraction philosophique. Car quel meilleur exemple de cet universel enchevêtré de différences que l'institution politique? Du moins si l'on perçoit l'Etat non comme un Léviathan immobile et vertical, mais comme une organisation jamais achevée, que les hommes se donnent à eux-mêmes et qui ne trouve la stabilité que dans son bouleversement permanent.

On comprend alors pourquoi Balibar récuse les dilemmes artificieux: réformisme ou révolution, particularisme ou universalisme, droits formels ou droits réels, liberté ou égalité... Pour lui, aucun de ces termes ne va sans son contraire, tous s'agglomèrent en une «cause commune». Voilà pourquoi aussi Balibar ne récuse nullement les droits de l'homme, bien au contraire. Simplement, il s'attache à montrer qu'ils ne sont jamais octroyés «de haut»: ce sont des droits que les membres d'une société s'accordent mutuellement, dans un processus infini.

Dès lors, le premier de ces droits, c'est celui de faire de la politique, le droit d'être citoyen, d'être «libres et égaux». «Déclaration des droits de l'homme et du citoyen», disait le texte de 1789. Le projet de Balibar est depuis longtemps «une société des égaux» et s'il trouve intéressant le nouveau livre de Pierre Rosanvallon, il sourit à voir l'ancien responsable de la Fondation Saint-Simon se rallier au drapeau de l'égalité: «Bienvenue au club !»

Tout comme il a souri récemment lorsque, invité au siège du PCF, place du Colonel-Fabien, après avoir erré dans un dédale de couloirs vides, il est tombé sur le secrétaire de section qui avait fait voter son exclusion. «On a rigolé.» Il a été touché d'apprendre que son interlocuteur avait soutenu les militants d'Action directe placés en quartier de haute sécurité: «Pour le Parti, les gauchistes, c'était le diable.»
Trente ans plus tard, l'apparatchik et l'exclu étaient d'accord pour dénoncer « la vengeance de l'Etat sur des pauvres gars qu'on veut faire mourir en prison ». Preuve que les droits de l'homme n'ont rien de «formel». Preuve que faire de la politique, c'est agir aussi bien dans le cadre existant (droits de l'homme, élections) qu'en dehors (résistance, désobéissance civile : par exemple, héberger des sans-papiers). Car c'est ainsi que le cadre pourra bouger.

Etienne Balibar sait qu'on lui reproche parfois d'être «juste-milieu». Il n'en a cure. S'il a pu avancer dans sa réflexion, c'est moins en s'extrayant non du marxisme ou de la pensée d'Althusser que d'un certain «provincialisme français». En 1983, il découvre les Etats-Unis : «J'étais recensé comme communiste, il m'a fallu cinq semaines pour avoir mon visa.» Depuis 1999, il a repris la chaire de Lyotard à l'université d'Irvine, où il enseigne un trimestre par an. «Je me suis américanisé, comme Derrida. Si j'étais resté en France à ne discuter qu'avec des Français, j'aurais étouffé.»

Au reste, il n'est pas le seul à s'être frotté aux Etats-Unis et c'est à New York qu'aura lieu le prochain colloque sur l'«idée communiste». Ce sera à la mi-octobre et, cette fois, il y sera. «Marx voyait la révolution comme une rencontre historique entre ceux d'en haut et ceux d'en bas : la philosophie et le prolétariat.» Le programme demeure valable, dit Balibar, à condition que ce soit une véritable alliance entre les deux parties, et non une vérité qui tomberait du ciel des Idées.

Quelques mois avant l'article dans «le Nouvel Observateur», Louis Althusser, pris de folie, étranglait sa femme. Balibar n'a pas ouvert les «Lettres à Hélène» publiées au printemps. «Je n'ai pas envie de lire des lettres personnelles entre deux individus que j'ai connus de près.» Mais la pensée de son maître n'a pas cessé de le travailler.

Au moment de raccompagner le visiteur, il revient sur le fameux passage où Althusser décrit la nature de l'Etat sous les traits d'un policier interpellant un passant dans la rue d'un simple : «Hep, vous, là-bas !» «En nous interpellant, l'Etat nous assujettit: il nous fait sujet. Mais l'interpellation produit le conformisme, elle fait naître l'hérésie et la rébellion. L'hérétique peut payer très cher son hérésie, au prix de la folie. Ou pis, du risque de se tromper. Mais sans cette folie, sans ce risque, il n'y a pas de politique.»

Eric Aeschimann

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O NOVO ESTADO DE QADDAFI


Muammar Qaddafi anda desaparecido.Parece que não se encontra em Syrte, sendo provável que esteja em Ghadamès, no sul da Líbia, próximo da fronteira, fora do alcance das forças da NATO.

Segundo algumas fontes, o coronel, muito popular nesta região tuaregue, pretenderia constituir um novo Estado, agrupando a parte desértica do sul da Líbia e da Argélia, o norte do Mali e do Níger e parte da Mauritânia. Seria um novo Estado, tuaregue, com bandeira e exército.

Isto poderá não passar de uma fantasia, mas a verdade é que Qaddafi colocou uma fortuna no Níger, onde possui um pequeno exército e onde as populações estão prontas a acolhê-lo.

O futuro nos dirá se Qaddafi ainda nos reserva algumas surpresas.

MEMÓRIA VACILANTE

Pelo seu interesse, transcreve-se o artigo de Jean-Claude Guillebaud publicado no Nouvel Observateur:



La mémoire qui flanche

Par Jean-Claude Guillebaud

Dans leur souci de ridiculiser la gauche, les camelots du président et leurs relais médiatiques ont trouvé une ritournelle. Les socialistes, disent-ils en chœur, voudraient nous « faire revenir aux années soixante ». On imagine que, jetant cet opprobre, ils visent ce qu’ils appellent le « jacobinisme » français, l’État interventionniste et tutti quanti. Soit. Pour les aider à mesurer leur étourderie, choisissons, au hasard, l’année 1965.

C’était celle d’une élection présidentielle au cours de laquelle François Mitterrand parvint – sans l’aide des communistes - à mettre Charles de Gaulle en ballottage. C’était aussi le moment incandescent des Trente Glorieuses. Quelques chiffres simples : la croissance de l’économie française, avec 5 % par an, était supérieure à celle des États-Unis. Le chômage ne dépassait pas 1,4 % de la population active française, soit moins de 300 000 demandeurs d’emploi. Quant au partage du PNB entre capital et travail, il était favorable à ce dernier.

L’interventionnisme supposé de l’État se concrétisait par une politique industrielle, la « planification souple ». La Datar (Délégation à l’Aménagement du Territoire) créée deux ans plus tôt, avait permis de mettre en œuvre la politique des métropoles d’équilibre, puis celle des villes moyennes. Certes, l’arme atomique venait d’être expérimentée au Sahara mais, en matière d’énergies renouvelables (déjà !), une réalisation audacieuse était sur le point d’être achevée sous l’impulsion de l’État : l’usine marémotrice de la Rance. Elle sera raccordée au réseau EDF en 1967. Quant au prétendu « souverainisme » de l’époque, il n’avait empêché ni la mise en chantier avec la Grande-Bretagne su supersonique Concorde (premier vol au-dessus de Toulouse en mars 1969) ni le traité franco-allemand, geste fondateur signé dès 1963 avec Conrad Adenauer.
À l’époque, les grands serviteurs de l’État s’appelaient François Bloch-Lainé, patron de la Caisse des Dépôts, Paul Delouvrier, responsable du « Grand Paris », Philippe Lamour, chargé de l’aménagement du territoire, ou Simon Nora, ancien du cabinet de Pierre Mendès France. Ces gens-là se fichaient de porter une Rolex ou de « faire de l’argent », comme on dit maintenant. Certes, la France d’alors connaissait l’affairisme, du fait notamment du fameux « gaullisme immobilier ». Une différence, toutefois : loin d’inviter ces aigrefins au Fouquet’s pour festoyer avec eux, de Gaulle leur réservait quelques saillies sans indulgence, dont celle-ci : « Je n’aime pas les miens parce qu’ils aiment trop l’argent ».
En matière de protectionnisme, la France d’alors était simplement fidèle au Traité de Rome de 1957 en appliquant la « préférence communautaire », c’est-à-dire un protectionnisme raisonné aux frontières de l’Union. Arnaud Montebourg dit-il autre chose aujourd’hui ? Bref, sur tous ces points, ironiser grassement sur un « retour aux années soixante » témoigne d’un sérieux manque de jugeote. Et d’une imprudence polémique, tant il serait facile de démontrer que le « projet » du sarkosysme correspond, lui, à un retour aux « années soixante », mais celles qui commencent en 1860. Ce fut l’époque du darwinisme social, du mépris des pauvres et du capitalisme à la Dickens.

 Sur le plan judiciaire, les théories funestes qui triomphaient alors étaient celles – barbares – de Cesare Lombroso. Ce criminologue italien, fasciné par les déterminants biologiques, recommandait la mise à l’écart des « criminels nés » et, plus généralement, des « classes dangereuses ». Avec la politique pénal de l’UMP, nous revenons à grands pas aux années 1860.  

Qui est archaïque ?

Jean-Claude Guillebaud
Le Nouvel Observateur N° 2448 du 6 octobre 2011

ROBESPIERRE, COM OU SEM RUA?


Um pequeno incêndio numa casa em Reims, chamou a atenção de todos os franceses para um facto que eles ignoravam. O fogo teve lugar no nº 100 do Boulevard Robespierre, demonstrando assim a existência, na cidade onde eram coroados os reis, de uma rua com o nome daquele que de alguma forma encarnou o "Terror" em França.

Maximilien de Robespierre (mais tarde retirou o de) não tem o seu nome em qualquer artéria de Paris (onde foi tomada a Bastilha) e uma proposta no sentido de atribuição efectuada há meses ao Conselho de Paris por um eleito comunista foi rejeitada por o "assunto permanecer não consensual".

Diga-se ainda que em Marselha, onde os voluntários do Exército do Reno popularizaram o seu canto de marcha que viria a tornar-se "A Marselhesa", o Conselho Municipal tentou, mas sem sucesso,  em 1999, desbaptizar a praça Robespierre, no bairro de Mazargues.

Robespierre continua a ser em França o grande maldito da República de que foi fundador e profeta.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A QUEM PERTENCE DJALÓ?


Andam os meios do futebol alvoroçados com a decisão de uma "coisa" chamada Tribunal Arbitral do Desporto que confirmou a decisão de uma outra "coisa" chamada FIFA, a propósito da transferência para o clube de Nice do jogador português de origem guineense Yannick Djaló.

O jogador, a quem nos referimos aqui, foi transferido para o clube francês, mas parece que os papéis entraram numa outra "coisa", a  FFF (Federação Francesa de Futebol), uns minutos depois da hora de fecho do serviço. Assim Djaló não poderá ingressar no Nice, o qual pretende devolvê-lo ao Sporting, mas também não poderá  regressar ao Sporting, pois este recusa-se a aceitá-lo, evocando que Yannick já não está ligado ao clube. Ele é assim uma espécie de cidadão sem pátria existindo em terra de ninguém.

Ignoro, naturalmente, qual será o desfecho deste curioso caso marcado por um "contra-relógio", mas não posso deixar de observar, em época de recessão europeia e mundial, que os organismos nacionais e transnacionais de futebol custam ao erário global, convertendo para euros as moedas de todos os países do mundo, certamente vários biliões ao ano. Em compensação, informam-me os meus amigos que alguma coisa sabem de futebol, que são muito magros os resultados para tão avultado dispêndio que, no fundo, é pago por todos os contribuintes mundiais.

Não se poderiam exterminar alguns destes organismos?

SÍRIOS APOIAM ASSAD


Uma colossal manifestação (muitas dezenas de milhar de pessoas) de apoio ao presidente Bachar Al-Assad, teve lugar ontem em Damasco, na praça Sab'a Al-Bahrat (dos Sete Lagos) e nas avenidas que desembocam na praça, tendo como pano de fundo uma gigantesca fotografia do presidente colocada na fachada do Banco Central da Síria.

Por estranho que possa parecer, o regime sírio, entre todos os países árabes, é o que conta com maior base popular de apoio. Não obstante as manifestações anti-Assad que se têm verificado desde há meses nas principais cidades do país, e cujo trágico balanço é de cerca de 3.000 mortos, confrontos que têm poupado relativamente Damasco e Alepo, a maioria dos sírios receia que a queda do regime desencadeie uma interminável guerra civil, a exemplo do que se verificou e continua a verificar-se no Iraque.

O regime de Assad tem o apoio dos alauítas, dos cristãos, dos drusos e da pequena, média e alta burguesia sunita de Damasco e Alepo e ainda de parte da população rural, isto é, de cerca de 15 milhões de habitantes num total de 20 milhões.

Durante a manifestação de ontem, que decorreu pacificamente, foram entoados slogans contra os Estados Unidos e a União Europeia e contra qualquer intervenção estrangeira. O jornalista e escritor americano Nir Rosen confidenciou à Al-Jazira que "podemos não gostar de pensar nisso, mas os regimes autoritários têm muitas vezes apoio popular".

O presidente Assad tem oscilado entre a promessa de reformas e a repressão das manifestações, as quais atribui à acção de elementos subversivos estrangeiros. Um dos principais problemas com que o regime se defronta é a defecção de muitos militares, que se recusam a disparar sobre os insurrectos, que por sua vez estão igualmente armados.

Entretanto, o emir do Qatar, o sheikh Al-Thani, que apoiou a intervenção na Líbia, pediu ao presidente Assad para estabelecer um diálogo com o recém-formado Conselho Nacional das forças da oposição, o que certamente não se verificará.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

PRIMÁRIAS COM A PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS



O Partido Socialista Francês realizou eleições primárias (com duas voltas) para a escolha do seu candidato à Presidência da República. Os mais votados da primeira volta foram François Hollande e Martine Aubry, estando o candidato favorito dos socialistas franceses, Dominique Strauss-Kahn, afastado desta corrida devido aos factos que são do conhecimento geral.

Sugere-se aqui, e bem, que idêntico processo deveria ser seguido pelos partidos em Portugal. De facto, a expressão da votação dos franceses (dois milhões) manifesta um interesse pela respublica e é um inequívoco acto de cidadania. O afastamento dos cidadãos relativamente à vida política deve-se em grande parte ao facto da chamada classe política resolver, em circuito fechado, os problemas da Nação (candidaturas incluídas) deixando-se aos eleitores apenas a tarefa de plebiscitar as escolhas previamente efectuadas. Daí a cada vez mais elevada taxa de abstenções.

Este método das primárias francesas é um processo que comporta alguns riscos. Mas vale a pena tentar.

Dentro de dias saberemos se o candidato socialista à sucessão de Sarkozy é Aubry ou Hollande. Em nossa opinião, qualquer deles será melhor que o actual inquilino do Eliseu.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

CONFRONTOS RELGIOSOS NO EGIPTO


A ocorrência, anteontem, de graves confrontos religiosos no Egipto, na sequência da demolição de uma igreja em Aswan, cuja construção havia sido autorizada pelo governador da província, constituiu o mais grave incidente no país desde as manifestações que culminaram com o derrube do regime do presidente Hosni Mubarak

Os incidentes provocaram até à data 26 mortos e mais de 300 feridos. Os cristãos coptas protestaram contra as perseguições de que vêm sendo alvo, desde o célebre ataque a uma igreja de Alexandria na última passagem de ano. As forças armadas ripostaram e a televisão oficial egípcia divulgou notícias tendenciosas sobre a morte de vários soldados. A tensão estendeu-se a outras cidades do país e o Conselho Supremo das Forças Armadas ordenou ao governo do primeiro-ministro Essam Sharaf uma investigação rigorosa sobre os incidentes.

Desde há muito tempo que se verificam periodicamente incidentes entre cristãos e muçulmanos, num país que conta com 10 a 15% de coptas num total de 80 milhões de habitantes. Deve dizer-se que a liberdade religiosa foi mais ou menos salvaguardada no tempo de Mubarak, com algumas excepções nos últimos anos, como o fora no Iraque de Saddam Hussein e até na Líbia de Qaddafi e como o é na Síria de Bachar Al-Assad.

Durante os funerais de algumas das vítimas, realizados ontem e que reuniram milhares de pessoas, voltaram a verificar-se incidentes, bem como o apedrejamento da polícia junto ao hospital, no Cairo, onde se encontram muitos dos feridos.



A Igreja Copta Egípcia decretou três dias de luto nacional, pedindo aos egípcios para jejuarem e orarem pela paz no país.

Segundo informações colhidas pela Al-Jazira, os cristãos foram atacados no Cairo, pela primeira vez, não por muçulmanos extremistas ou pela polícia mas pelo próprio exército, o que suscita as maiores interrogações.

Entretanto é visível a deterioração da situação económica e social do país, sendo cada vez mais generalizada a convicção de que as manifestações (urbanas) que levaram à queda de Mubarak mergulharam o Egipto no caos. Foram também presas dezenas de pessoas, acusadas pelas fontes oficiais de serem os instigadores das confrontações, a soldo de interesses não identificados.

Estão marcadas eleições no Egipto para 28 de Novembro mas ignora-se qual será o resultado do escrutínio. Entretanto, em Washington, Obama manifestou a sua preocupação, tal como os ministros dos Negócios Estrangeiros da Itália e do Reino Unido, em Bruxelas, à margem de uma reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia. As condenações, preocupações e indignações dos líderes ocidentais, profundamente envolvidos na "Primavera Árabe", denotam simultaneamente hipocrisia e patetice. Quanto à primeira, regista a história que sempre assim foi; quanto à segunda, serve para revelar à opinião pública, que porventura ainda o ignorasse, a mediocridade dos actuais dirigentes do Mundo Ocidental.

 Há evidentemente quem esteja interessado em explorar divisões religiosas ou políticas ou outras nos países árabes. É assim desde há muitos anos. Pelos frutos os conhecereis.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ANGELA MERKEL UND "DAS RHEINGOLD"


É suposto que Angela Merkel, uma conhecida melómana, admire e aprecie Richard Wagner; e que conheça não só a música mas o texto das suas óperas. Não poderá por isso ignorar a edificante passagem de Das Rheingold, na Segunda Cena do Prólogo de Der Ring des Nibelungen, quando Wotan explica a Fricka, sua esposa, o contrato efectuado com os Gigantes (a cedência de sua cunhada Freia)  para a construção do Walhalla, a mansão dos deuses que mandou edificar:

"Wohl dünkt mich's, was sie bedangen,
die dort die Burg mir gebaut;
durch Vertrag zähmt ich
ihr trotzig Gezücht,
daß sie die hehre
Halle mir schüfen;
die steht nun – Dank den Starken! –
um den Sold sorge dich nicht."

Numa tradução muito livre, é mais ou menos isto: "Parece-me que eles exigem o estipulado para a construção do castelo; subjuguei por contrato a sua raça orgulhosa para me edificarem a nobre mansão; ela está hoje erguida graças aos Gigantes; não se preocupe com o pagamento". Ou seja, alguém haverá de pagar!

Também a Grécia (e a Madeira, entre nós) ergueram obra sem se preocuparem como e quando a deveriam pagar. Ontem, em Berlim, Merkel deveria ter recordado a Sarkozy (admitindo que este conhece alguma coisa de ópera, o que duvido) esta interessante passagem. Os gregos construíram, ou pelo menos gastaram, sem preocupações de pagamento. Não pensando, certamente, em Wagner.

Só que Wotan conseguiu apoderar-se do ouro do Reno e graças a ele desembaraçar-se dos Gigantes, resgatando a cedência de Freia. Papandreou, o Wotan do momento, não tem ouro nem Reno que lhe valha, e a entrega das ilhas e dos monumentos do país, sugerida por alguns próceres germânicos, é um "comércio" ainda mais vergonhoso do que aquele que Scarpia propôs a Tosca. 

Ignoro a que acordo chegaram (se algum realmente existiu) Merkel e Sarkozy, ambos em presumível fim de carreira política. Também não percebo porque sendo a União composta por 27 países e a Zona Euro por 17, assuntos que a todos interessam são primordialmente tratados apenas pela Alemanha e a França. Compreendo a necessidade de uma disciplina orçamental europeia mas reconheço igualmente a inevitabilidade de uma real solidariedade europeia. Penso que existem duas Europas, mas já que se constituiu uma só União Europeia, então terão de se respeitar ambos os aspectos. Sob pena de a União implodir, caso se verifique a falência da Grécia, com o consequente desmoronar não só do sistema monetário europeu mas da própria União. Que ninguém se iluda a este respeito, já que as previsíveis consequências políticas, financeiras, económicas, sociais e psicológicas não deixam margem para dúvidas.

Merkel, por miopia política e também por pressões do seu partido, que aspira à construção não já do Walhalla mas do IV Reich, tem tergiversado e as medidas que ultimamente foram anunciadas pecam por insuficientes e tardias. Aguardemos as próximas semanas e ouçamos e vejamos, entretanto, à falta da citada parte da Segunda Cena, o final  de Das Rheingold, numa produção da Metropolitan Opera House de Nova Iorque, com direcção de James Levine e encenação de Otto Schenk. Nos principais papéis James Morris (Wotan), Siegfried Jerusalem (Loge) e Christa Ludwig (Fricka), em 1989.



domingo, 9 de outubro de 2011

GEORGE ENESCU (II)

Museu Nacional George Enescu

O compositor George Enescu, referido no post anterior, é hoje evocado em Bucareste num Museu Nacional com o seu nome, situado no Palácio Cantacuzino.

O Palácio, um edifício magnífico na Calea Victoriei, foi mandado construir (1901/1903) por Gheorghe Grigore Cantacuzino, conhecido por Nababul, que foi presidente do município de Bucareste e mais tarde primeiro-ministro e chefe do Partido Conservador. O arquitecto foi Ioan D. Berindei e a decoração dos interiores esteve a cargo de artistas famosos como Gheorghe Demetrescu Mirea,  Nicolae Vermont e Costin Petrescu para as pinturas murais, Emil Wilhelm Becker para as esculturas e ornamentos esculturais, e a Casa Krieger de Paris para tapeçarias, candeeiros, espelhos, etc.

Por morte de Nababul (que tinha na Roménia uma dignidade principesca), em 1913, herdou o palácio o seu filho Mihail Cantacuzino e a mulher, Maria Rosetti-Tescanu (conhecida por Maruca). Tendo enviuvado, voltou esta a casar, em 1937 (ou 1939, consoante as fontes), agora com Enescu, que habitava uma pequena mas interessante moradia, nas traseiras do Palácio, hoje Casa Memorial George Enescu. O compositor  viveu  poucos anos no Palácio, pois transferiu a sua residência para Paris após a Segunda Guerra Mundial e a instalação do regime comunista na Roménia, encontrando-se sepultado no Cemitério do Père Lachaise.

Casa Memorial George Enescu

Em 1940, o Palácio serviu como sede da Presidência do Conselho de Ministros, e a partir de 1947 como sede do Instituto de Estudos Romano-Soviéticos. Por morte de Enescu, em 1955, Maruca manifestou a vontade de que o Palácio e edifícios anexos fossem dedicados à memória do marido. Em 19 de Junho de 1956, foi criado e aí instalado o Museu Nacional George Enescu que, desde 2007, é considerado património europeu.

Apenas três salas do Palácio estão abertas ao público, expondo fotografias, manuscritos, vários documentos, diplomas, condecorações, bustos, instrumentos musicais, o uniforme de Enescu como membro da Academia Romena e a sua máscara mortuária e mãos. As restantes dependências estão reservadas a fins musicais e administrativos.

Na Casa Memorial, estão expostos o mobiliário e os objectos pessoais de Enescu, relativos aos anos em que ali viveu.

Refira-se, por curiosidade, que Enescu foi autor, entre várias obras mencionadas no post anterior,  de duas Rapsódias Romenas, nome que Dominique Fernandez escolheu para título do livro sobre a Roménia que aqui  citámos.

GEORGE ENESCU




Decorreu o mês passado em Bucareste o XX Festival Internacional George Enescu, evocando o grande compositor, maestro, pianista, violinista e professor romeno (1881-1955), a mais notável figura da música do país, autor de numerosas obras, ente as quais três sinfonias e a famosa ópera Oedip, de que ainda não existe, infelizmente, gravação em dvd. Ignoro se a produção deste ano foi filmada.

Ateneul Român

Além da Orquestra Filarmónica George Enescu, que tem a sua sede no magnífico edifício do Ateneul Român, apresentaram-se várias orquestras estrangeiras, como a Staatskapelle de Berlim (com Barenboim), a Accademia di Santa Cecilia (com Pappano), a Orquestra Sinfónica do Teatro Mariinsky (com Gergiev), a Orquestra Gulbenkian (com Foster), a Filarmónica de Viena (com Möst). Foram apresentadas, na Ópera de Bucareste, as óperas Evgheni Oneghin, de Tchaikovski e, precisamente Oedip, de Enescu. Os espectáculos decorreram nas salas do Ateneu e do Teatro de Ópera e na grande Sala Palatului, onde se realizam os maiores concertos de música erudita ou popular em Bucareste. As manifestações musicais não se limitaram a Bucareste, tendo-se alargado às principais cidades da Roménia.

Sala Palatului

Não se dispondo de gravação de cena, regista-se um clip do 2º acto de Oedip: