segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O JULGAMENTO DE HOSNI MUBARAK (II)


Prosseguiu hoje no Cairo o julgamento do ex-presidente Hosni Mubarak. Conforme referimos aqui, a primeira sessão realizou-se no passado dia 3, tendo o juiz-presidente Ahmed Rifaat decidido agora juntar ao seu processo o do ex-ministro do Interior Habib Al-Adly, visto serem ambos supostamente cúmplices na violenta repressão que levou à queda do regime e provocou centenas de mortos.

A próxima audiência terá lugar no dia 5 de Setembro, mas a partir de hoje será proibida a transmissão televisiva das sessões. Estão também a ser julgados os dois filhos do raïs, Alaa e Gamal.

A defesa requereu a presença de centenas de testemunhas, entre as quais o actual presidente da Junta Militar que preside aos destinos do país, o marechal Mohamed Hussein Tantawi, que foi ministro da Defesa de Mubarak durante duas décadas, até à queda do regime.

Mais de 5.000 polícias tentaram manter a ordem no exterior do edifício onde funciona o tribunal, a fim de impedir os confrontos entre os partidários de Mubarak e os seus opositores. Mas não conseguiram evitar algumas cenas de violência. Também no interior do tribunal se manifestaram pessoas pró e contra Mubarak, o que provocou um ambiente caótico e determinou o adiamento do julgamento.

O facto do ex-presidente, de 83 anos e, ao que consta, gravemente enfermo, comparecer numa maca e permanecer nas sessões dentro de uma jaula de grades, como é hábito nos tribunais egípcios, tem causado algum incómodo mesmo para os opositores de Mubarak.  Excluindo os que perderam familiares nas manifestações, uma parte da população começa a mostrar-se indiferente ao resultado do julgamento, até porque calcula que não resta muito tempo de vida ao governante deposto.

Por outro lado, a eventual convocação como testemunha do marechal Tantawi suscita as maiores apreensões e preocupa tanto o tribunal como os militares e os próprios egípcios. Que poderá dizer o marechal? Qual o papel das Forças Armadas? Quem as poderá acusar? E, caso sejam acusadas, qual a sua reacção?

Aguardam-se os próximos capítulos.O Egipto, que durante décadas foi o grande produtor de novelas televisivas para o mundo árabe, tem entre mãos uma realização com um péssimo argumento. Hosni Mubarak poderia, à vontade, ter deixado o país, em melhores condições do que Ben Ali fugiu da Tunísia. Porque quis permanecer, criou um problema sério para o "novo regime". As revoltas no mundo árabe ainda reservam muitas surpresas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este julgamento, como está a desenrolar-se, é uma vergonha