domingo, 31 de julho de 2011

OS TRIBUNAIS, AS BRUXAS E DEUS


 Arthur Miller escreveu The Crucible no princípio dos anos cinquenta. A peça foi estreada na Broadway em 22 de Janeiro de 1953, tinha então o dramaturgo 37 anos. Foi a sua segunda grande peça, depois de Death of a Salesman (1949). Tendo por tema um trágico evento registado em Salem (Massachussetts, E.U.A.) em 1692, um suposto caso de bruxaria que levou à prisão de dezenas de pessoas e à condenação à morte de 20 homens e mulheres por um tribunal que invocou em vão o nome de Deus, a peça, conhecida entre nós como As Bruxas de Salem, pretende mais do que evocar um lamentável episódio, tão ao gosto do puritanismo anglo-saxónico do Novo Mundo, denunciar a perseguição feroz desencadeada contra membros do Partido Comunista ou afins, pela Comissão de Actividades Anti-Americanas,  conduzida pelo senador Joseph McCarthy, e que provocou enormes danos pessoais e intelectuais na sociedade americana.

Esta peça notável encontra-se agora em cena no Teatro Experimental de Cascais (TEC), com encenação de Carlos Avilez, constituindo um espectáculo de grande intensidade dramática, em que a companhia do TEC e os alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais emprestam ao texto de Arthur Miller a interpretação requerida por tão emocionante e lúcida obra. Registe-se que foi n'As Bruxas de Salem que, em 1957, Carlos Avilez se estreou como actor, na estreia da peça em Portugal, no Teatro Nacional D. Maria II, num memorável espectáculo da Companhia Amélia Rey-Colaço/Robles Monteiro, a que tive o privilégio de assistir.

Num mundo recheado de superstições e de preconceitos como aquele em que vivemos, em que a Justiça não passa muitas vezes de uma palavra vã, em que se condenam inocentes e se absolvem criminosos, em que se corrompem consciências, se promove a delação, se exaltam  pretensas virtudes e se idolatram falsos profetas, em que se promove a guerra preventiva com o pretexto de salvaguardar a paz, esta peça revela-se de uma actualidade absoluta. Por isso deve ser vista não só pelos amantes do teatro como por todas as pessoas que ainda têm da virtude e da honra uma noção não prostituída.

1 comentário:

Anónimo disse...

De facto,mais actual não podia ser. Muito bem.