sexta-feira, 8 de abril de 2011

TUDO INOCENTES ?



Discordo muitas vezes de Vasco Pulido Valente. E acontece que, algumas vezes, também concordo com ele. É o caso do texto que escreveu hoje para o PÚBLICO, e que transcrevo do blogue "Portugal dos Pequeninos".  

TUDO INOCENTES ?

«Sócrates começou por jurar que não governaria Portugal com o FMI: porque “a agenda” do FMI implicaria uma “factura” pesada durante anos. Depois perguntou histericamente aos portugueses se queriam um governo com FMI ou sem FMI. E, uma vez posto em minoria na Assembleia, declarou que não tinha os poderes para negociar com o FMI, para anteontem com um prelúdio muito comovedor sobre “patriotismo”, a cargo de Francisco Assis, pedir ajuda ao sobredito FMI. Mas não nos deu a confiança de esclarecer que espécie de “ajuda”: se uma ajuda “intercalar” (que aparentemente não existe), se uma ajuda “mínima” (como quer Passos Coelho), ou se um “resgate” por inteiro, com as consequências do costume. O retrato do primeiro-ministro está todo neste deprimente espectáculo. Só que o mais deprimente destes meses de Março e Abril não foi, como devia ser, o eng. Sócrates – foi a irrupção de génios pela televisão e pela imprensa que já sabiam a história inteira e se preparam agora para explicar por que razão o FMI era preciso (e, para a maior parte, ele era preciso há muito tempo) e o que pouco a pouco nos trouxera a este trágico sarilho. Com o seu arzinho presunçoso e professoral, economistas, financeiros, banqueiros, filósofos e arraia-miúda vieram revelar ao indígena atónito que nada, ou quase nada, se fizera de lógico e sensato de 1990-95 para cá. Não vale a pena repetir a ladainha. Ninguém duvida que o nosso enormíssimo buraco não se cavou num dia. Infelizmente, esta constatação pede uma pergunta óbvia: em que se ocupavam os sábios que hoje com tanto gosto nos predicam, enquanto os partidos (o PS e o PSD) arruinavam o país? A ortodoxia em moda apela a que não se procurem “culpados”. Mas, se, de facto, não se procurarem “culpados”, para quem fica a culpa do tristíssimo fracasso do Portugal democrático? Para a má vontade de um Deus perverso? Para o destino? Ou para a insuficiência atávica do indígena? Era bom apurar isto, porque, se alguma destas três possibilidades (principalmente a última) ofende a delicadeza nacional, a única saída que nos resta é aceitar a ecuménica loucura dos portugueses. Quem se deixa chegar onde chegámos, levado por três dúzias de políticos, sempre reeleitos e até, às vezes, respeitados, não merece outro nome. E, pior ainda, quem desiste da verdade acaba inevitavelmente por desistir de si próprio.»


Com certeza que a a situação a que chegámos tem responsáveis. Nem poderia ser de outra forma. Os biliões de euros que em três décadas entraram em Portugal tiveram necessariamente algum destino. E há, por isso, responsáveis por esse destino. Não se concebe que tanto dinheiro se tenha pura e simplesmente evaporado no etéreo. Diz VPV que está na moda não se procurarem "culpados". Digo eu que é imperioso pôr de parte essa moda e ir ao fundo da questão. Porque haverá maiores e menores culpados, porventura toda uma cadeia onde a culpa se tenta diluir. Os próprios portugueses são culpados de terem votado anos a fio em partidos e criaturas que não mereciam qualquer credibilidade. Assim, não sendo possível julgar a totalidade (ou quase) do povo português, investigue-se e apure-se, pelo menos, quem foram os principais responsáveis. E na ausência de uma Justiça portuguesa digna desse nome, que esses indivíduos sejam presentes ao Tribunal Penal Internacional (caso este mereça ainda um módico de confiança, o que não se dá por adquirido), julgados e condenados às penas convenientes que devem ser aplicadas a quem, por acção ou (raramente) por omissão, contribuiu para a falência de Portugal.

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