quarta-feira, 9 de março de 2011

VÍTIMAS COLATERAIS

Michèle Alliot-Marie


As recentes convulsões no mundo árabe estão a provocar vítimas colaterais na Europa. Em França, Michèle Alliot-Marie (MAM), ministra dos Negócios Estrangeiros, foi obrigada a demitir-se devido às suas relações muito próximas com o regime de Ben Ali, tendo inclusive passado vários dias na Tunísia, pelo Natal, quando os protestos contra o governo faziam prever o seu colapso. Aliás, dias antes, na Assembleia Nacional, em Paris, MAM declarara que a polícia tunisina deveria conter os manifestantes aprendendo com a polícia francesa.

O primeiro-ministro francês, François Fillon, passou igualmente a quadra natalícia no Egipto, a convite do presidente Mubarak, embora antes do início da contestação, o que lhe permitiu sair desta estada apenas chamuscado.

Em Londres, foi o director da prestigiada London School of Economics, Howard Davies, que teve de se demitir devido às relações daquela instituição com o regime de Qaddafi, do qual recebeu 350 mil euros, parte de uma doação que poderia elevar-se aos dois milhões de euros. Pelo meio, o filho de Qaddafi, Seif Al-Islam, obteve um doutoramento, que agora se julga ter sido plagiado. O próprio sociólogo Anthony Giddens, conselheiro de Blair, teórico da "Terceira Via" para o socialismo e que foi presidente daquela instituição quando o filho de Qaddafi  começou o doutoramento, parece estar igualmente envolvido em actividades menos claras com o regime líbio.

De resto, não é novidade que os príncipes herdeiros e outras gradas figuras dos regimes autocráticos do Médio Oriente têm passado pelas melhores escolas e academias militares europeias e americanas, às quais efectuaram generosas dádivas.

É por isso que as proclamações de apoio aos movimentos revolucionários em curso feitas pelos dirigentes ocidentais não conseguem disfarçar um elevado grau de hipocrisia, pois estes dirigentes sempre mantiveram as melhores relações com os líderes agora caídos (ou para cair) em desgraça. A fatal promiscuidade das convivências e a supremacia dos interesses sobre os valores.

É a vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

Exactamente. É a vida,a vida real. Os países,na cena internacional,movem-se e sempre se moveram por interesses e não por valores.E quando,muito raramente,aparecem semi-idealistas como o presidente Wilson,os resultados são deploráveis.