sexta-feira, 25 de março de 2011

CLANDESTINOS NO MEDITERRÂNEO



O escritor, universitário e jornalista tunisino Fawzi Mellah escreveu em 2000 o livro Clandestin en Mediterranée, onde relata a sua experiência como passageiro incógnito de uma pequena embarcação em que vários homens atravessaram o Mediterrâneo, da Tunísia para a costa italiana, à procura de uma vida melhor. Não são apenas os tunisinos que partem do seu país (especialmente de Mahdia, o ponto norte-africano mais próximo da Europa, excluindo naturalmente e por óbvias razões, o estreito de Gibraltar) mas igualmente líbios, marroquinos, argelinos, egípcios e africanos sub-saharianos.

Este êxodo, que é antigo, reavivou-se nas últimas semanas com as profundas convulsões que sacodem o Norte de África. A ilha de Lampedusa já não comporta mais imigrantes clandestinos ou mesmo refugiados, os que fogem por causa das modificações políticas nos seus países ou porque, no caso dos líbios, querem escapar às balas, quer do coronel Qaddafi, quer da coligação internacional que procura destruir o potencial bélico do Guia da Revolução Líbia de 1969, que se encontra há mais de 40 anos no poder.

Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, que visitou há dias a ilha de Lampedusa, afirmou que a Europa não pode receber mais clandestinos e propôs que fossem os mesmos devolvidos à procedência. Como?

É certo que a Europa atravessa uma crise política, económica, social e cultural profunda. A União Europeia está pouco menos do que moribunda. O clima que se respira no Velho Continente, de ansiedade e angústia, faz lembrar, em muitos aspectos, entre entusiasmo e depressão, o mesmo que se vivia por volta de 1930. Sabemos todos o que aconteceu depois. 

Poderá ter a Europa, seguindo os actuais pressupostos, dificuldade em integrar os africanos que chegam. Mas eles revelaram-se de grande utilidade para os europeus, durante as últimas décadas, até por se terem sujeitado ao desempenho de tarefas "menores", mal pagos, sem garantias, vivendo em permanência o drama dos "sem-papéis". Tudo isto, sem que a Europa tivesse verdadeiramente procurado integrá-los na sua sociedade, preferindo encerrá-los em ghettos, donde depois surgiram problemas que ainda perduram.

Tenha a Europa imaginação e capacidade política, e não haverá especiais dificuldades em absorver esta vaga que agora lhe bate à porta, um pouco inopinadamente é certo, mas fruto, igualmente, da política mediterrânica europeia dos últimos anos. A Europa, um continente envelhecido, precisa de mão-de-obra jovem para revitalizar a sua economia e mesmo introduzir novos hábitos, porventura mais salutares, numa sociedade decadente.

Os líderes que nos tempos mais recentes têm governado este continente, e em especial os países da União Europeia, são pessoas de vistas curtas, contabilistas de fracos recursos e falhos de perspectivas humanísticas, em suma uns não-líderes mas tão só gestores de um quotidiano que se deteriora dia após dia.

Haja, portanto, a coragem e a clarividência de providenciar à situação vigente. Distribuam-se os recém-chegados, e que, segundo recentes estimativas poderão alcançar brevemente os dois milhões, pelos diversos países da Europa. Merkel e Sarkozy, por questões eleitoralistas, já disseram que não os queriam receber. Mas o que contam estes dois governantes, prestes a serem apeados do poder, face às grandes alterações do PODER 

Exorto os leitores a que leiam este livro, já com 11 anos mas mais actual do que nunca, dedicado a Jean-Claude Guillebaud, escritor, político e um dos maiores jornalistas franceses, por curiosidade nascido em Argel.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que venham muitos árabes, com a sua conhecida disponibilidade, e que se integrem nas nossas sociedades, sem prejuízo de conservarem as suas tradições.

Viva a Europa das cores morenas e dos trajos exóticos (que já escasseiam, pois os/as jovens árabes vestem todos/as o vestuário casual ocidental).