quinta-feira, 31 de março de 2011

MICHEL GILIBERTI


Não conhecia Michel Giliberti. Mas por um acaso, se é que os acasos existem, fui parar ao seu blogue. E, depois, inquiri sobre o autor. Do que reza a Wikipédia, e é pouco (ou talvez muito), Giliberti é um pintor, fotógrafo e escritor francês, que nasceu em 1960 em Ferryville, na Tunísia. Nos anos 70 foi cantor, tendo gravado alguns discos.

Pelo que se depreende do blogue, Giliberti tem uma fervente paixão pela Tunísia e pelos seus habitantes, e de uma maneira geral por todos os magrebinos.

Entre os seus ícones, conta-se o actor francês de origem marroquina Salim Kechiouche, a quem já nos referimos neste blogue, e a que Giliberti dedica um post que revela a sua sensibilidade de artista, como se pode comprovar em http://www.michelgiliberti.com/article-salim-kechiouche-69069885.html.

A sua bibliografia conta uma dúzia de obras, especialmente romances mas também dois livros de arte (fotografia e pintura) e uma peça de teatro, Le Centième Nom, sobre o problema palestiniano, que, recordo-me agora, tenho na minha biblioteca e muito apreciei quando a li, e da qual um dos intérpretes foi Salim Kechiouche, o seu actor fetiche.

É a altura de visitar os outros livros de Giliberti.

quarta-feira, 30 de março de 2011

ASSAD FALOU AOS SÍRIOS



O presidente sírio Bachar Al-Assad dirigiu-se hoje aos seus compatriotas, a partir do Parlamento, na primeira alocução ao país depois das manifestações iniciadas há uma semana, e que provocaram violentos confrontos, especialmente na cidade de Dara'a.

Ao contrário do que se esperava, Assad não anunciou o levantamento do estado de emergência, que vigora no país desde 1963, nem anunciou reformas políticas concretas, preferindo denunciar que a contestação que se verifica é produto de uma conspiração vinda do estrangeiro

A única novidade foi Assad ter aceite a demissão do governo que será substituído por outro a nomear possivelmente amanhã.

Em Damasco, realizou-se uma grande manifestação pró-Assad onde foi entoado o slogan "Deus, Síria, Bachar", ao que o presidente contrapôs "Deus, Síria, Povo". Uma evocação dos contestatários que têm gritado "Deus, Síria, Liberdade".

Aguarda-se a reacção da população na próxima sexta-feira, depois das oração nas mesquitas. No entanto, a Síria (que Bush, na sua estupidez infinita e ignorância absoluta, classificou como um dos países incluídos no "Eixo do Mal") é um caso particular no mundo árabe, dado o número de confissões religiosas (cerca de 20) professadas no país, e logo de interesses políticos e sociais existentes. Uma revolução na Síria desequilibraria definitivamente a situação não só no mundo árabe mas em todo o Mediterrâneo. 

ATÉ GANDHI


Segundo uma nova biografia, colocada ontem à venda nos Estados Unidos, o grande líder Mahatma Gandhi, artífice da independência da Índia, seria racista, pedófilo e bissexual. Afirma o autor, Joseph Lelyveld, antigo editor-executivo do jornal "The New York Times", no seu livro Great Soul: Mahatma Gandhi and His Struggle With India, que Gandhi se entregava a "carícias nocturnas" com várias adolescentes, entre as quais uma sobrinha, e que manteve uma relação homossexual com o arquitecto e desportista alemão Hermann Kallenbach, que por sua causa deixou a mulher em 1908.

Hermann Kallenbach

Mais afirma o autor sobre Gandhi. Este, quando trabalhou como advogado na África do Sul, e tendo sido colocado numa prisão juntamente com negros, protestou, declarando compreender não o tratarem como branco, mas não aceitando igualmente ser colocado ao nível dos nativos, que considerava não civilizados.

Aguarda-se a polémica em torno desta recém-publicada obra.

terça-feira, 29 de março de 2011

A QUEDA (II)


Acabei de reler A Queda, de Albert Camus.Tinha lido o livro há, talvez, 40 anos. Manuseara-o uma ou outra vez ao longo deste período. Voltei agora a ele, para a releitura integral. Trata-se de uma das grandes obras de Camus e de toda a literatura do século XX. Uma profunda reflexão sobre a condição humana. Escrito com particular lucidez, A Queda, especialmente no último capítulo, condensa uma imensa sabedoria sobre o comportamento dos homens e a sua relação com a justiça, a humana e porventura a divina.

Um texto tão actual como quando foi escrito em 1956.

segunda-feira, 28 de março de 2011

UM PROCESSO TORTUOSO


 Daniel Oliveira, no blogue Arrastão, escreve sobre mais um desmentido dos autores de declarações de abusos sexuais no processo Casa Pia. Porque se trata de uma peça da maior importância, publicada no Expresso Online, aqui registamos o endereço electrónico.

MERCADOS E AGÊNCIAS DE NOTAÇÃO



As agências de notação financeira que decidem o rating dos bancos e dos países são geralmente indicadas pelos respectivos nomes. Sucedeu isso hoje com a Standard & Poor's, como tem acontecido com outras organizações similares em datas anteriores.

Quando se trata da colocação da dívida soberana nos mercados, sabemos as taxas de juro mas nunca vi, talvez distracção minha, o nome dos privados que nos emprestam dinheiro. Só temos conhecimento do Banco Central Europeu.

Ora era interessante, neste segundo caso, que as entidades fossem designadas pelos seus próprios nomes, e depois, para ambos os casos, que fossem também mencionadas as pessoas individuais que são responsáveis por definir os critérios e atribuir as respectivas classificações.

É que nunca conhecemos o nome de qualquer indivíduo interveniente nestas operações. Sabemos que o mundo (mesmo o aparentemente democrático) é dirigido por um governo-sombra de homens sem rosto, mas importava conhecer-se, pelo menos, os nomes de quem actua mais concretamente no terreno e a quem pudessem ser pedidas explicações das suas decisões. Mas talvez os sem-rosto tenham descido já ao escalão dos mercados e das agências e não se encontrará então qualquer interlocutor. Navegamos em território idêntico ao que Franz Kafka descreveu em O Processo.  Até quando?

OS ESCRAVOS


Tenho estado a reler A Queda, de Albert Camus.

A certa altura, o escritor põe na boca do seu interlocutor imaginário algumas frases de oportunidade inquestionável:

«A escravatura, ah, isso não, nós somos contra! Que se seja constrangido a instalá-la em sua casa, ou nas fábricas, bom, está na ordem das coisas, mas gabar-se disso é o cúmulo. Sei bem que não se pode passar sem dominar ou ser-se servido. Todo o homem tem necessidade de escravos como de ar puro. Mandar é respirar, não é desta opinião? E até os mais deserdados chegam a respirar. O último na escala social tem ainda o cônjuge ou o filho. Se é celibatário, um cão. O essencial, em resumo, é uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o direito de responder.»

(A páginas 74/75 da tradução portuguesa de José Terra, editada (s/d) por Livros do Brasil)

domingo, 27 de março de 2011

UMA HORA A MAIS


Lá teremos, uma vez mais, de adiantar os relógios uma hora.

Considero esta prática, da existência de dois "tipos" de hora, Hora de Verão e Hora de Inverno, adoptado em muitos países, mas não em todos, sob o pretexto de uma poupança de energia, uma prática totalitária que produz graves distúrbios na saúde dos indivíduos.

A hora é uma e só uma. Sempre os relógios de Sol, desde a mais alta Antiguidade, registaram um único "tipo" de hora ao longo do ano. Esta lamentável mudança acabará um dia, estou certo. Mas até lá teremos de sofrer anualmente dois choques "temporais" desnecessários.

sábado, 26 de março de 2011

INCIDENTES EM LONDRES


Enquanto prosseguem as violentas manifestações no Mundo Árabe contra os regimes vigentes, a onda de inquietação começa a atingir, como se esperava, a Europa.


Hoje, em Londres, 500.000 pessoas protestaram contra os cortes previstos no Orçamento de 2011, integrando a "Marcha pela Alternativa" contra o governo conservador/liberal democrata, na maior manifestação de protesto realizada na capital britânica na última década. Estudantes, trabalhadores da função pública, pensionistas, e muitos outros cidadãos exprimiram a sua raiva contra a política de cortes levada a cabo pelo governo. Prevista como uma iniciativa grandiosa mas pacífica, não foi possível evitar, contudo, confrontos com a polícia, nomeadamente em Oxford Street, onde foram vandalizadas várias lojas, ignorando-se ao momento o número de feridos e detidos. Não há, por ora, notícia de vítimas mortais.
 .

O lider do Partido Trabalhista, Ed Miliband, discursando em Hyde Park, apelou ao primeiro-ministro David Cameron para que tivesse em consideração a indignação dos britânicos, recordando que a situação actual fazia lembrar os sinistros anos 80 da infame Margaret Thatcher.


Os europeus encontram-se muito revoltados contra a especulação do capitalismo financeiro internacional, que está a provocar a maior crise mundial desde o fim da Segunda Grande Guerra, e que retirou aos países a sua soberania (e aos governos a sua capacidade de governar), alienada esta a favor de entidades ocultas não sujeitas a sufrágio que pretendem dirigir secretamente os destinos do mundo.

TENNESSEE WILLIAMS



Completam-se hoje 100 anos sobre o nascimento do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams, que morreu em Nova Iorque a 25 de Fevereiro de 1983.

Representado em todo o mundo, contam-se entre as suas peças mais importantes (algumas das quais adaptadas ao cinema), The Glass Menagerie (1944), A Streetcar Named Desire (1947), Cat on a Hot Tin Roof (1955), Suddenly Last Summer (1958), Sweet Bird of Youth (1959), The Night of the Iguana (1961), The Milk Train Doesn't Stop Here Anymore (1963) - actualmente em cena no Teatro Experimental de Cascais, com o título O Comboio da Madrugada e Eunice Muñoz na protagonista , Vieux Carré (1977). Escreveu também contos e novelas, das quais, The Roman Spring of Mrs. Stone (1950), uma obra notável, foi passada ao cinema em 1961.

Sem prejuízo das suas aventuras sexuais nos Estados Unidos e pelo mundo, especialmente no norte de África, Williams manteve uma relação estável (a única) com o marinheiro americano de origem siciliana Frank Merlo (n. 1922), de 1947 até 1963, quando Merlo morreu.

Tennessee Williams escreveu mais de 100 obras e é um dos dramaturgos de quem mais peças foram adaptadas ao cinema. Foram seus intérpretes Marlon Brando, Vivien Leigh,  Anna Magnani, Burt Lancaster, Elizabeth Taylor, Paul Newman, Katharine Hepburn, Montgomery Clift, Richard Burton, Ava Gardner, Robert Redford, etc., etc., com realizadores como Elia Kazan, Richard Brooks, Joseph L. Mankiewicz, John Huston, Sidney Pollack, Joseph Losey, etc.

Sofrendo de problemas vários ao longo da vida, devido ao consumo de drogas e de álcool, Tennessee Williams morreu engasgado com uma tampa de garrafa num quarto do Hotel Elysée, em Nova Iorque. Tinha 71 anos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

PROTESTOS NA SÍRIA (II)



Os protestos anti-regime que se estão a verificar em todo o Mundo Árabe atingiram também a Síria. Conforme dissemos, a contestação iniciada a semana passada estendeu-se a todo o país, tendo-se registado os mais violentos incidentes em Dar'aa, curiosamente a cidade em que o coronel Lawrence da Arábia, conforme o mesmo registou no seu livro Seven Pillars of Wisdom, foi violado por um oficial turco em Novembro de 1917.

Ontem, mais de 20.000 sírios desfilaram na cidade durante os funerais de nove manifestantes mortos no dia anterior, entre as pelos menos 25 vítimas mortais dos incidentes desse dia, apesar do aparatoso dispositivo policial.

Estima-se que mais de 100 pessoas tenham sido mortas desde o início das manifestações, além de inúmeros feridos e detidos.

O conselheiro presidencial Buthaina Shaaban anunciou que o partido Baath, no poder, segundo orientação do presidente Bachar Al-Assad, estava a estudar o levantamento do estado de emergência, que vigora no país desde 1963, e a autorização da formação de partidos políticos. Correspondendo aos motivos dos protestos, o governo encara também o aumento dos ordenados dos trabalhadores da função pública, a garantia de serviços de segurança social e a publicação de uma lei que regule, com transparência, a comunicação social.

O conselheiro presidencial invocou ainda que a contestação que se verifica na Síria é também provocada por este país ser um dos pilares de resistência contra o sionismo expansionista de Israel. Acrescentou ainda que todas as manifestações pacíficas serão admitidas e que os incidentes que provocaram vítimas se deveram ao facto das forças policiais terem sido atacadas.

As manifestações dos últimos dias registaram-se especialmente em Damasco, Alepo, Baniyas, Dar'aa, Hama e Homs e foram objecto de enérgica repressão, já condenada por numerosos países.

CLANDESTINOS NO MEDITERRÂNEO



O escritor, universitário e jornalista tunisino Fawzi Mellah escreveu em 2000 o livro Clandestin en Mediterranée, onde relata a sua experiência como passageiro incógnito de uma pequena embarcação em que vários homens atravessaram o Mediterrâneo, da Tunísia para a costa italiana, à procura de uma vida melhor. Não são apenas os tunisinos que partem do seu país (especialmente de Mahdia, o ponto norte-africano mais próximo da Europa, excluindo naturalmente e por óbvias razões, o estreito de Gibraltar) mas igualmente líbios, marroquinos, argelinos, egípcios e africanos sub-saharianos.

Este êxodo, que é antigo, reavivou-se nas últimas semanas com as profundas convulsões que sacodem o Norte de África. A ilha de Lampedusa já não comporta mais imigrantes clandestinos ou mesmo refugiados, os que fogem por causa das modificações políticas nos seus países ou porque, no caso dos líbios, querem escapar às balas, quer do coronel Qaddafi, quer da coligação internacional que procura destruir o potencial bélico do Guia da Revolução Líbia de 1969, que se encontra há mais de 40 anos no poder.

Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, que visitou há dias a ilha de Lampedusa, afirmou que a Europa não pode receber mais clandestinos e propôs que fossem os mesmos devolvidos à procedência. Como?

É certo que a Europa atravessa uma crise política, económica, social e cultural profunda. A União Europeia está pouco menos do que moribunda. O clima que se respira no Velho Continente, de ansiedade e angústia, faz lembrar, em muitos aspectos, entre entusiasmo e depressão, o mesmo que se vivia por volta de 1930. Sabemos todos o que aconteceu depois. 

Poderá ter a Europa, seguindo os actuais pressupostos, dificuldade em integrar os africanos que chegam. Mas eles revelaram-se de grande utilidade para os europeus, durante as últimas décadas, até por se terem sujeitado ao desempenho de tarefas "menores", mal pagos, sem garantias, vivendo em permanência o drama dos "sem-papéis". Tudo isto, sem que a Europa tivesse verdadeiramente procurado integrá-los na sua sociedade, preferindo encerrá-los em ghettos, donde depois surgiram problemas que ainda perduram.

Tenha a Europa imaginação e capacidade política, e não haverá especiais dificuldades em absorver esta vaga que agora lhe bate à porta, um pouco inopinadamente é certo, mas fruto, igualmente, da política mediterrânica europeia dos últimos anos. A Europa, um continente envelhecido, precisa de mão-de-obra jovem para revitalizar a sua economia e mesmo introduzir novos hábitos, porventura mais salutares, numa sociedade decadente.

Os líderes que nos tempos mais recentes têm governado este continente, e em especial os países da União Europeia, são pessoas de vistas curtas, contabilistas de fracos recursos e falhos de perspectivas humanísticas, em suma uns não-líderes mas tão só gestores de um quotidiano que se deteriora dia após dia.

Haja, portanto, a coragem e a clarividência de providenciar à situação vigente. Distribuam-se os recém-chegados, e que, segundo recentes estimativas poderão alcançar brevemente os dois milhões, pelos diversos países da Europa. Merkel e Sarkozy, por questões eleitoralistas, já disseram que não os queriam receber. Mas o que contam estes dois governantes, prestes a serem apeados do poder, face às grandes alterações do PODER 

Exorto os leitores a que leiam este livro, já com 11 anos mas mais actual do que nunca, dedicado a Jean-Claude Guillebaud, escritor, político e um dos maiores jornalistas franceses, por curiosidade nascido em Argel.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A QUEDA



Não me refiro à queda do governo mas a A Queda, de Albert Camus, que estou a reler. Trata-se de um livro notável, como aliás toda a obra de Camus, um dos grandes escritores universais do século XX. Este livro, juntamente com O Estrangeiro e A Peste, constituem uma trilogia do que melhor e mais bem pensado se escreveu em França em meados do século passado.

Quanto à queda do governo propriamente dito, de que soube há pouco, não tendo ouvido até o momento qualquer debate em rádio ou televisão, penso que se tratou de uma excelente encenação de José Sócrates, que é um político hábil e não brinca em serviço. Só é pena que seja um mau governante e que a forma como interpreta os interesses nacionais se confunda com a forma como interpreta os seus próprios interesses.

Todavia, não ficaria espantado se, presumindo que o presidente da República dissolve o Parlamento e convoca eleições legislativas antecipadas, o Partido Socialista (sob a batuta de Sócrates) voltasse a obter uma maioria relativa. Os políticos portugueses actuais são, salvo as costumadas e honrosas excepções, confessadamente maus; mas é o povo que os elege, umas vezes à falta de melhor (já que a possibilidade de escolha é escassa), outras porque se deixa iludir, outras por espírito clubístico (partidário), outras ainda porque não sabe o que quer, ou até não sabe o que não quer. Acaba, assim, por não saber para onde vai.

quarta-feira, 23 de março de 2011

ELIZABETH TAYLOR


Morreu hoje, com 79 anos, devido a insuficiência cardíaca, Elizabeth Taylor, uma das mais famosas estrelas de Hollywood. Interpretou alguns dos filmes que marcaram a história do cinema, contracenou com os mais notáveis actores da sua época e foi dirigida por realizadores célebres. Ganhou dois Óscares pelos filmes Butterfield 8 (1960) e Who's Afraid of Virginia Woolf? (1966).

Casou 8 vezes com 7 maridos, dado que se consorciou 2 vezes com Richard Burton.

Foi uma incansável apoiante dos doentes com sida, ajudando a criar a American Foundation for AIDS Research, após a morte, por HIV, do seu colega e amigo Rock Hudson, e ela mesma promoveu uma fundação pessoal, a Elizabeth Taylor Aids Foundation.

Distinguiu-se pela sua oposição à guerra no Iraque, condenando publicamente o presidente George W. Bush e declarando que receava que o conflito provocasse uma Terceira Guerra Mundial.

CONTRA A LITERATICE E AFINS


É lançado amanhã, dia 24, às 18.30 h, na Livraria FNAC (Chiado), o livro Contra a Literatice e Afins, de João Gonçalves, autor do blogue "Portugal dos Pequeninos". A apresentação será feita por Pedro Mexia.

O blogue "Do Médio Oriente e Afins" aguarda com o maior interesse a divulgação desta obra.

terça-feira, 22 de março de 2011

ARTUR AGOSTINHO


Morreu hoje Artur Agostinho (nascido a 25 de Dezembro de 1920), durante décadas um dos mais conhecidos e apreciados locutores portugueses. Também jornalista, publicitário, actor e autor, foi afastado do convívio público após a Revolução de Abril (por suspeição de ligações com o regime deposto), emigrou depois para o Brasil, mas regressou à pátria em 1981, onde se manteve activo quase até à data da morte.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O MEDITERRÂNEO DO DESASSOSSEGO




A vaga de contestação ao poder vigente iniciada na Tunísia no passado mês de Dezembro, e que progressivamente  alastrou a todo o mundo árabe, está a registar o seu episódio mais sangrento na Líbia de Muammar Qaddafi.

Tripoli - Hotel Al-Waddan

Ao contrário de Ben Ali e de Mubarak, que foram forçados a renunciar ao poder pelos exércitos respectivos, o coronel insistiu em manter-se à frente dos destinos do país, onde permanece desde há 42 anos. A sua teimosia está a provocar uma catástrofe para o povo líbio e um problema acrescido para a chamada comunidade internacional.

Tripoli - Praça Verde (As-Sadah al-Kadrah)

É certo que após o entusiasmo provocado pelas sublevações tunisina e egípcia contra os respectivos regimes ditatoriais, o mundo dito livre não poderia ficar indiferente à forma escolhida para Qaddafi para responder aos seus opositores, isto é, eliminando-os. Os outros regimes com problemas semelhantes têm tentado, vamos ver até quando, através de mudanças constitucionais, de governo, de melhoria do nível de vida, sobreviver à contestação generalizada do povo árabe que julga ser o momento, após séculos de dominação colonial (otomanos, franceses, ingleses, italianos, americanos, russos, etc.), de readquirir o brilho dos tempos passados. Isso explica as manifestações no Marrocos, na Argélia, na Arábia Saudita, no Iémen, na Síria, no Bahrein, no Omã, na Palestina (um problema ainda mais complexo), no Sudão ( desmembrado), no Líbano (sempre em equilíbrio instável), ou em menor grau nos Emirados Árabes Unidos, no Kuwait e no Qatar.

Tripoli - Castelo (Assai al-Hamra)

A criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia surgiu como a forma mais expedita para impedir Qaddafi de exterminar os seus compatriotas e de proporcionar aos opositores líbios o acesso a instituições minimamente democráticas, já que a Jamahiriya é um regime de "democracia popular" inteiramente subordinado ao poder do Chefe. Para evitar os antecedentes ilegais aquando da invasão do Iraque, foi obtido consenso no Conselho de Segurança das Nações Unidas e entregue a uma coligação ad hoc o encargo de fazer cumprir as determinações daquela organização internacional.

Tripoli - Castelo (Assai al-Hamra)

Não se tratou, por enquanto, de um ataque da NATO, mas de um grupo de países que assumiu a penosa tarefa. Os Estados Unidos, a quem coube o comando das (primeiras) operações, a França, o Reino Unido, a Bélgica, a Dinamarca, a Noruega, a Itália, a Grécia e alguns países árabes.

Tripoli - Mesquita central em obras (Antiga Catedral)

Esta intervenção militar, se parece ser imprescindível, é todavia discutível na forma, tendo em conta, especialmente, os antecedentes das relações do regime do coronel com o "Ocidente" nos últimos anos, depois da conversão forçada que Qaddafi fizera através dos bons ofícios de Tony Blair (sempre esta personagem em todos os acontecimentos trágicos das últimas décadas). 

Tripoli - Loja no suq

Também o anúncio solene e descabido de Nicolas Sarkozy, ao assumir-se como porta-voz da "coligação" constitui um erro político de incalculáveis consequências. Sarkozy é uma personagem menor que desonra a França, depois de chefes de Estado com grandeza e dignidade como De Gaulle, Pompidou, Giscard, Mitterrand ou Chirac, independentemente das respectivas convicções políticas.

Tripoli - Museu da Jamahiriya

É hoje um facto que a soberania dos estados é um mito e que depois de ter surgido no direito internacional a figura do "direito de ingerência" apareceu outra, ainda mais sofisticada, creio que devida a Bernard Kouchner: o "dever de ingerência". A partir daqui, qualquer estado, ou coligação, pode invadir outro sob que pretexto for. Foi assim com os Balcãs, o Afeganistão, o Iraque, etc.

Tripoli - Museu

Tenho por adquirido que, sem intervenção externa, Qaddafi, que ainda dispõe de alguns apoiantes e especialmente de razoável armamento, esmagaria em poucos dias a insurreição contra o seu regime, latente desde há décadas. Mas parece que o figurino para a actual intervenção não é o mais adequado. Desde a citada comunicação de Sarkozy "ao mundo" ao processo utilizado, que não deixará de provocar centenas de mortos e milhares de feridos, ainda que se tenha excluído ab initio uma intervenção terrestre (pelo menos pública). A China, a Rússia e o Brasil, todavia abstencionistas no Conselho de Segurança, já criticaram esta acção militar. Haveria alternativas?

Tripoli - Museu

Claro que o que principalmente conta para as grandes potências não são as vidas humanas mas o petróleo líbio. Sempre os interesses materiais a sobreporem-se às questões morais. Se a Líbia não tivesse petróleo desconfio que tivesse sido desencadeada  semelhante operação. Sem prejuízo de Muammar Qaddafi não ser uma pessoa frequentável.

Tripoli - Museu

O coronel ameaçou tornar o Mediterrâneo num inferno. Para garantir a sua sobrevivência e a sua imagem não duvido que o fará se puder.

Tripoli - Museu

Espero que, ao contrário do incomensurável desastre cultural em que se traduziu a intervenção no Iraque, sejam preservados os sítios arqueológicos da Líbia, de inestimável valor (as ruínas de Leptis Magna e Sabratha são os mais importantes vestígios romanos em África), bem como as preciosidades do Museu Nacional.

Tripoli - Museu (Carro de Muammar Qaddafi aquando da Revolução de 1969)
Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos.

Tripoli - Arco de Marco Aurélio

domingo, 20 de março de 2011

"L'ANNONCE FAITE" A QADDAFI



Após a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o coronel Qaddafi comprometeu-se a um cessar-fogo, mas não cumpriu. As suas tropas continuaram o avanço sobre Benghazi, chegando a penetrar nos subúrbios da cidade.



A reunião de emergência em Paris, concluída com o anúncio solene de Sarkozy, determinou a intervenção militar.


sábado, 19 de março de 2011

A BATALHA DE MISURATAH




(CONTÉM IMAGENS EVENTUALMENTE CHOCANTES)

PROTESTOS NA SÍRIA



A contestação no mundo árabe atingiu a Síria. Protestos realizados ontem em Damasco, Deera, Homs e Baniyas foram violentamente reprimidos, provocando três mortos e centenas de feridos nas maiores manifestações contra o regime de Bachar Al-Assad.

O secretário-geral das Nações Unidas considerou a repressão inaceitável e pressionou o governo de Damasco a estabelecer um diálogo com a oposição.

sexta-feira, 18 de março de 2011

AS MARATONAS



Uma parte da cidade vai ficar intransitável desde amanhã de manhã até às 14 h de segunda-feira.

Realiza-se a meia-maratona de Lisboa.

Não sei verdadeiramente quem organiza o espectáculo mas parece que é a Câmara Municipal de Lisboa que patrocina com o apoio de grandes empresas que deveriam antes investir na melhoria e embaratecimento dos serviços que prestam (ou não) à população.

TUDO ISTO, ESPECIALMENTE NO MOMENTO DE CRISE QUE O PAÍS ATRAVESSA, É UMA VERGONHA.

Panem et Circences.

Impede-me a decência de classificar devidamente esta iniciativa, que se vem repetindo ano após ano, com os transtornos que acarreta para a circulação de peões e transportes públicos e privados.

Com propriedade, poderíamos perguntar: E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LOS?

O GOLPE DE ESTADO



Independentemente da opinião que se possa ter sobre Curzio Malaparte, acho que este é um livro que importa reler.

quinta-feira, 17 de março de 2011

MEDIDAS CONTRA QADDAFI

Benghazi


O Conselho de Segurança das Nações Unidas acabou de aprovar por 10 votos a favor, com 5 abstenções (Rússia, Alemanha, Índia, Brasil  e China) e nenhum voto contra, o uso das medidas necessárias para impedir o ataque das forças de Qaddafi contra a população civil, agora que as tropas e os aviões do coronel se aproximam de Benghazi. Ficou excluída uma ocupação militar.

As medidas agora adoptadas serão asseguradas para já pela França, Reino Unido, Estados Unidos e alguns países árabes.

O coronel deu uma entrevista à Radiotelevisão Portuguesa em que afirma que Portugal é um país amigo que foi enganado pelas potências ocidentais. Declarou também que uma operação militar contra a Líbia poria em perigo a aviação e a navegação no Mediterrâneo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

INDIGNAI-VOS !



Stéphane Hessel, alemão, judeu, resistente na Segunda Guerra Mundial, deportado em Buchenwald, apoiante do general De Gaulle, naturalizado francês, embaixador de Paris nas Nações Unidas (no mandato de Giscard d'Estaing), defensor da causa palestiniana, hoje com 93 anos, lançou há semanas um veemente apelo à INDIGNAÇÃO. Ao publicar o seu "manifesto"  Indignez-vous!, já na 13ª edição em França, em Janeiro de 2011, traduzido em várias línguas (creio que já em português) e com uma tiragem de vários MILHÕES de exemplares, pretende Hessel provocar um verdadeiro sobressalto cívico, num momento em que o planeta, acometido de uma crise de ganância material única na história da Humanidade, parece sucumbir (haverá certamente quem nisso esteja interessado) ao poder do dinheiro, de todo o dinheiro, mas só do dinheiro (para parafrasear uma expressão do antigo Patriarca de Lisboa, o cardeal Cerejeira).

Num opúsculo de 14 páginas, com um texto medianamente estruturado e quiçá sofrivelmente redigido, Hessel lança um GRITO de alma sobre os destinos da sociedade contemporânea. Não é preciso boa literatura para exprimir a indignação que o possui. Este livrinho é um apelo à resistência, à luta contra a indiferença e à insurreição pacífica. Considera Hessel que as razões para a indignação no mundo de hoje são mais complexas que as do tempo do nazismo. Mas que se encontrarão se forem procuradas: o crescente fosso entre os mais ricos e os mais pobres, o estado do planeta, o tratamento dado aos sem-papéis, aos imigrantes, a corrida ao "sempre mais", a competição desenfreada, a ditadura dos mercados financeiros, o desmantelamento dos direitos adquiridos (as reformas, a segurança social).

No final do livro, uma citação de Albert Camus:

«Os governos, por definição, não têm consciência.»  (Témoins nº5, Primavera de 1954)

terça-feira, 15 de março de 2011

O GOVERNO SECRETO



No Fórum de hoje da RDP1, José Adelino Maltez, comentando a actual situação política, disse (e vou citar de memória)  mais ou menos o seguinte: «Não é Cavaco, nem Sócrates, nem Passos Coelho que podem resolver a crise. Nem tão pouco a senhora Merkel, o senhor Bruni (presidente da França) ou a Comissão Europeia, chefiada por Barroso. Os verdadeiros governantes do mundo são pessoas desconhecidas, indivíduos sem rosto, os homens dos mercados, dos fundos de pensões, do armamento, apenas conhecidos dos políticos mais importantes que, realmente, já pouco ou nada mandam. A soberania dos países desapareceu.»

Sabemos de há muito que o mundo (quer o soi-disant democrático, quer o autoritário ou ditatorial) não é governado pelas pessoas que exercem os cargos de soberania mas por um conjunto de indivíduos, de que pouco ou nada se sabe, por um grupo de SÁBIOS que transmite as suas ordens  aos pretensos governantes e que gere, segundo os seus interesses, a "coisa" mundial. Há quem classifique esta opinião de "teoria da conspiração", mas ela é tão evidente que de opinião se converteu para muito gente, em inquestionável certeza.

A propósito das afirmações de Adelino Maltez, deverá ler-se o seu post de hoje no blogue Albergue Espanhol, que constitui lúcida análise, ainda que não concordemos integralmente com o texto. Mas vale a pena ler.

IMIGRANTES ILEGAIS


Visitando ontem Lampedusa, a líder da Frente Nacional francesa afirmou que os imigrantes ilegais que se encontram naquela ilha deveriam regressar aos seus países. Marine Le Pen, que sucedeu a seu pai à frente daquele partido da extrema-direita, declarou que a sua visita não constituía uma provocação mas que a Europa era "impotente" para o desafio da imigração e era necessário encontrar uma solução. Apelou ainda aos europeus a um patrulhamento mais estrito das costas do norte de África para obrigar a voltar para trás os barcos que de lá partam.

A senhora Le Pen, que foi acolhida na ilha aos gritos de xenófoba, racista e neo-fascista, reiterou que apenas pretendia informar-se da situação que, segundo o presidente da câmara municipal da ilha, se encontra "fora de controlo". Cerca de 10.000 tunisinos chegaram a Lampedusa desde o começo da revolução e há na Líbia cerca de dois milhões e meio de imigrantes ilegais, segundo o ministro do Interior italiano.Também muitos líbios e egípcios demandaram as costas europeias. A Itália aguarda a chegada de muitos milhares nas próximas semanas e já pediu ajuda à União Europeia, que parece não se mostrar especialmente interessada na resolução so problema.

Como já escrevi neste blogue, a vinda dos clandestinos árabes até poderá ser vantajosa para a Europa, um continente envelhecido (os imigrantes são todos, ou quase, jovens, entre os 15 e os 30 anos) , desde que se adoptem medidas de bom-senso quanto à respectiva integração, não os condicionando aos ghettos das últimas décadas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A GRANDEZA DO HOMEM



Jacqueline de Romilly, helenista insigne, falecida em Dezembro do ano passado, publicou pouco antes de morrer, quase centenária, um notável livro, La Grandeur de l'Homme au Siècle de Périclès.

Conhecedora profunda da civilização grega, a que dedicou a vida, Jacqueline de Romilly (JdeR) aborda neste pequeno livro dois aspectos fundamentais: as realizações humanas e o herói trágico.

Baseando-se, quanto ao primeiro aspecto, especialmente em Tucídides, JdeR evoca as conquistas da civilização através da relação que estabelece entre Sófocles e o autor d'A Guerra do Peloponeso, das palavras que Tucídides coloca na boca de Péricles, do desenrolar da guerra civil no século V AC, da rivalidade entre Esparta e Atenas, do poder da inteligência e da razão, da moral e da honestidade para conduzir as escolhas políticas e do que acontece quando essas qualidades faltam: «les conseils des hommes politiques (disons: des démagogues) perdent toute valeur, toute intelligence, toute prudence, puisqu'ils sont au service des caprices du peuple. De là toutes les fautes qui suivent l'arrivée des démagogues au pouvoir.»




O segundo aspecto abordado por JdeR refere-se aos heróis trágicos. Quase todas as tragédias gregas reportam-se aos heróis que haviam sido celebrados pelas epopeias de Homero e pelas outras epopeias do ciclo épico. «Esses heróis ocupavam um lugar intermediário entre os deuses e os homens. Muitos eram filhos de deuses ou descendentes de deuses, eram mais fortes, mais valentes e distinguiam-se por serviços eminentes prestados à colectividade; muitas vezes recebiam culto depois da sua morte. Representavam pois humanos superiores aos outros humanos, pelo seu estatuto e pelas suas acções. Poderia esperar-se vê-los incarnar essa grandeza do homem que foi a questão até aqui. Ora, uma considerável surpresa espera-nos: todos esses heróis da tragédia foram atingidos por desastres, morreram muitas vezes em sofrimentos atrozes, desonrados, e renunciando a qualquer respeito.»  Mas JdeR esclarece: «Seria um erro grave acreditar que porque o herói foi derrubado, desonrado, humilhado, perdeu por isso a sua grandeza aos nossos olhos.»

E JdeR faz desfilar perante nós os heróis exaltados por Ésquilo, Sófocles, Eurípides, dos quais Édipo se encontra no centro do maior número de tragédias. E escreve: «Portanto os heróis da tragédia grega, conhecidos desde os começos da literatura, impostos pelas artes, pelos discursos, pelas alusões e por todas as obras que hoje estão perdidas, esses heróis gregos tinham um tal peso de notoriedade e de grandeza, um tal número de serviços e de façanhas no seu activo, que se impunham, e a infelicidade ao atingi-los não podia prejudicar a ideia do que eles eram, nem do esplendor da sua pessoa.»

Dissertando sobre a grandeza do homem, do homem grego, Jacqueline de Romilly deu-nos também a medida da grandeza da mulher que ela foi.

domingo, 13 de março de 2011

AS CONFRONTAÇÕES PROSSEGUEM

A agitação que se verifica no mundo árabo-islâmico (e não só) conhece diariamente novos episódios e evolui a uma velocidade vertiginosa.

Vejamos:


Na quinta-feira, dia 10, muitas centenas de pessoas desfilaram na Arábia Saudita, especialmente na cidade de Qatif, pedindo a libertação de presos políticos. A polícia abriu fogo sobre os manifestantes, registando-se alguns feridos. Na sexta-feira, dia 11, um protesto (Dia de Raiva) convocado pelo facebook, reuniu mais de 30.000 apoiantes em Riyadh. O governo saudita mobilizou à volta de 10.000 soldados para controlar as manifestações.


Hoje, no Bahrein, a polícia atacou, pela primeira vez, os manifestantes que se encontram acampados na Praça das Pérolas, em Manama, e que contestam o governo e a monarquia reinante, resultando dos confrontos várias dezenas de feridos


Também hoje em Casablanca, no Marrocos, ficaram feridas, algumas com gravidade, dezenas de pessoas, após a polícia ter tentado entrar na sede de um partido político de esquerda onde alguns  manifestantes se haviam refugiado, depois de terem sido impedidos de aceder a Praça Mohammed V.


Na Tunísia, sexta e sábado, dias 11 e 12, violentos confrontos em Metlaoui, provocaram dois mortos e dezenas de feridos, tendo sido imposto o recolher obrigatório.


Ontem, no Iémen, a polícia lançou um ataque contra os manifestantes acampados na Praça da Universidade,  em Sanaa, de que resultaram cinco mortos (entre os quais um estudante de 12 anos) e 300 feridos: Além da capital houve confrontos em Aden e Moukalla.


Na Líbia, as tropas a soldo de Qaddafi conseguiram desalojar os insurrectos de algumas posições conquistadas, tentando agora avançar para Benghazi, por entre um cortejo de vítimas e de desolação.


Em Istambul, milhares de pessoas saíram hoje à rua em protesto contra a prisão de quatro jornalistas acusados de conspirar contra o governo turco.


Em Beirute, dezenas de milhar de libaneses manifestaram-se hoje, na Praça dos Mártires, por ocasião do 6º aniversário da revolução do Cedro, contra o arsenal militar do Hizbullah.


Prossegue, entretanto, a agitação na Argélia e verificam-se incidentes pontuais no Kuwait, no Qatar e nos Emirados Árabes Unidos.


O INIMIGO DO POVO



Não me estou a referir à peça de Henrik Ibsen O Inimigo do Povo (En Folkenfiende). Refiro-me a Muammar Qaddafi. O coronel persiste em manter-se no poder, apoiado pela sua tribo, por uma escassa fatia da população  e pelos mercenários que contratou. A sua hora de abandonar o poder chegou, tarde mas chegou. A insistência em continuar à frente dos destinos de um país que já não governa revela-nos que grau atingiu o estado de demência de uma criatura conhecida pelas suas excentricidades. Não é porém excentricidade estar a dizimar o seu povo, como desde há semanas se verifica. Não é apenas o "Ocidente" que apoia os revoltosos líbios na luta contra Qaddafi, é a própria Liga Árabe, por unanimidade, é a Conferência Islâmica, é a China e a Rússia.

De "celebrado" autor do Livro Verde, Muammar Qaddafi transformou-se no inimigo do povo.

A LIGA ÁRABE E A LÍBIA


Na reunião de ontem da Liga Árabe, no Cairo, que reuniu os ministros dos Negócios Estrangeiros e embaixadores de 21 países dos 22 que a compõem (a Líbia foi suspensa em 2 de Março quando Qaddafi começou a utilizar a força para impedir a população de se manifestar) decidiu por unanimidade pedir às Nações Unidas a imposição de uma zona de exclusão aérea na Líbia, para evitar que o coronel continue a bombardear o seu próprio povo. Foi também decidido na reunião considerar o Conselho Nacional Líbio como único representante do povo líbio.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, afirmou, contudo, ter sido rejeitada qualquer intervenção militar estrangeira na Líbia. Segundo se lê aqui, o filho de Qaddafi, Seif al-Islam, prometeu uma "guerra até ao fim", dizendo-se confiante da vitória das tropas governamentais, que reconquistaram algumas posições dos insurrectos, sem no entanto terem progredido na recuperação do leste do país. Desde 15 de Fevereiro, mais de 250.000 pessoas abandonaram a Líbia, e há largas centenas de mortos e milhares de feridos.