domingo, 27 de fevereiro de 2011

A VEZ DO OMAN

Sultão Qabus

A contestação no mundo árabe atinge agora o Oman, onde ontem foram mortas duas pessoas durante manifestações contra a corrupção e o aumento do custo de vida. O tumulto geral que abala o norte de África e o Médio Oriente está longe de ter terminado e ameaça outras regiões do globo. Para já, verifica-se um aumento do custo do petróleo, que continuará a subir nas próximas semanas. Por outro lado, a vaga de migrantes que chegam ao Velho Continente, e ainda vamos no princípio, põe os cabelos em pé aos dirigentes europeus. Não será possível conter este êxodo, quer por questões humanitárias, quer por questões operacionais. Os norte-africanos vão mesmo entrar, o que até poderá ser um benefício para um continente envelhecido e demograficamente decadente. Não o compreendem Merkel e Sarkozy, mas também não admira; as suas preocupações  imediatas vão para os seus eleitores do momento, e são incapazes de ver o futuro a prazo. Desgraçada Europa. Haveria que gizar uma política de integração sem prejuízo do respeito de alguns valores das comunidades imigrantes. Harmonizar sem discriminar: não é fácil mas teria sido possível não fosse o obscurantismo, o calculismo e a idiotia dos dirigentes europeus. Talvez não seja ainda tarde, face a uma nova e "inesperada" vaga que poderá aceitar melhor certas regras fundamentais dos países europeus.

No caso do Oman, onde reina o sultão Qabus bin Saïd Al Saïd, homem de vasta cultura e refinados gostos,  que depôs o pai em 1970 e iniciou uma modernização do país, a contestação será diferente, tal como o será no caso do Qatar. O sultão remodelou o governo a semana passada e prossegue uma política de reformas.

Recordemos que o Oman nunca foi colonizado pelos ingleses e pertenceu a Portugal entre 1508 e 1648, restando ainda vestígios da ocupação portuguesa em Mascate, a capital.

* * *

Entretanto na Líbia prosseguem os violentos confrontos entre os contestatários do regime de Qaddafi e os derradeiros apoiantes do coronel-guia, que já provocaram mais de mil mortos e milhares de feridos. Também centenas de líbios e estrangeiros atravessam diariamente as fronteiras da Líbia com a Tunísia e com o Egipto e tentam sair por mar.


Na Tunísia, onde ontem se verificaram novamente graves incidentes, com três mortos e dezenas de feridos, o primeiro-ministro interino, Mohammed Ghannouchi, acaba de anunciar a sua demissão. Os confrontos de ontem teriam sido provocados por partidários do ex-presidente Ben Ali, mas é um facto que a Tunísia, tal como o Egipto, com o turismo paralisado e ainda por cima a receber as centenas de refugiados provenientes da Líbia, encontra-se numa situação muito delicada.

As próximas semanas serão decisivas para se avaliar da forma como os novos poderes conseguirão enfrentar a contestação popular. É que, verdade seja dita, os tunisinos não tinham liberdades políticas mas iam vivendo razoavelmente, apesar de um desemprego crescente. Agora, praticamente, está paralisada a actividade económica do país.

Esperam-se dias difíceis. No norte de África mas também na Europa.


Adenda: Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, chefiado por António Guterres, mais de 100.000 pessoas abandonaram a Líbia na última semana, na sua maioria trabalhadores migrantes.

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