quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O REGIME


Como tem sido dito e repetido, encontra-se Portugal (e a Europa) face a uma crise não só económica e financeira, mas social, moral, cultural. Numa palavra: uma crise de regime.

Os anos atribulados da Primeira República, agora comemorados sem entusiasmo nem participação popular, tiveram o seu epílogo na iminência  de uma bancarrota total que, através de medidas drásticas, Salazar conseguiu evitar. Apertou-se o cinto (já não sou desse tempo), exigiram-se sacrifícios mas viram-se resultados. Depois, a Segunda Guerra Mundial obrigou a novas e desagradáveis medidas, que só não foram mais gravosas por termos sabido evitar a participação no conflito.  Restabelecida a paz entrámos, lentamente, no caminho de algum progresso, apesar da guerra colonial. Começaram os benefícios sociais, houve uma recuperação económica, mas o problema africano constituía um impasse. 

Houve então a revolução de Abril. E significativos (e desmesurados) benefícios para os que mais deles precisavam e para quem deles não necessitava. Afastaram-se também, indevidamente, pessoas de reconhecido mérito. É sempre assim nas revoluções. Acabada a confusão do PREC, instaurada a dita democracia representativa, vieram, com a entrada na Comunidade (depois União) Europeia, os dinheiros de Bruxelas. Foi um fartar vilanagem. E daí em diante sempre nos foram pedidos novos sacrifícios em nome de miríficos horizontes nunca alcançados. Sempre os mesmos são chamados a contribuir para a salvação da Pátria, ignora-se a título de quê. Quem usa de expedientes, safa-se, quem é honesto, lixa-se. Há cada vez mais ricos (não se sabe como) e mais pobres (sabe-se muito bem como). As assimetrias são insuportáveis e tornar-se-ão explosivas.

Parece que é a União Europeia quem nos impõe os presentes e novos sacrifícios que deveremos imolar no altar da Pátria (?). Em troca de quê? Quem nos garante o retorno??? Ninguém!!!

Foi a União Europeia na sua génese um projecto generoso mas ilusório porque não teve em conta a cupidez humana. O sonho europeu é agora um pesadelo, por razões de vária ordem, para a maior parte dos estados que a compõem. E não se pode exterminá-la? Parece que não, que seria ainda pior.

Voltando à cena doméstica, o que se torna necessário e urgente é a revisão do regime, certo que este regime, e quase ninguém tem a coragem de o dizer embora muitos o pensem, já não satisfaz as exigências nacionais. Nem parece que o pessoal político que nos pastoreia há 20, 30 ou mais anos, continue em condições de dirigir esta nave enlouquecida. 

Mantenha-se a forma republicana, mas transformem-se as instituições, remodelem-se visceralmente os partidos, reforme-se o parlamento, altere-se o sistema judicial, crie-se um novo tipo de governação. Tarefa difícil mas imprescindível, nem que para tal haja que suspender, como sugeriu Manuela Ferreira Leite (com quem não partilho a maior parte das ideias, que também é co-responsável da actual situação, mas com quem estou de acordo neste particular) por algum tempo a "democracia".

Não é este Orçamento, nem qualquer outro que nos poderá salvar, mas só um novo regime.


1 comentário:

Anónimo disse...

Suspenda-se a democracia. Já. E ponha-se a casa em ordem.