terça-feira, 6 de julho de 2010

A GUERRA CIVIL EUROPEIA



 No Fórum desta manhã da RDP 1, a esmagadora maioria dos intervenientes pronunciou-se a favor da golden share utilizada pelo Governo a propósito do negócio da PT. E naturalmente contra as declarações do presidente do BES, Ricardo Salgado, que pretendia a venda da participação na Vivo à Telefónica.

Não sabem os portugueses, na generalidade, que os países "europeus" já alienaram grande parte da sua soberania a favor da União Europeia. Sem serem consultados. Tratou-se de negócios entre governos, à revelia dos cidadãos, como se a União fosse a solução para todos os males do Velho Continente. Mas não é. Claro que, como todos sabem, o dinheiro não tem cheiro, o capital não tem pátria e os capitalistas não pertencem, realmente, a nenhum país, apenas aos seus interesses. mas acontece que o chamado povo ainda tem uns resquícios de patriotismo. A ideia de Estado-Nação surge apenas em finais do século XVIII, mas tal não impede sentimentos nacionalistas muito anteriores (a Europa tem 2.000 anos de história), como aliás se tem constatado nos últimos anos. Quando há uma década os sérvios reclamaram a soberania sobre o Kosovo, foi em nome de uma ancestralidade de seis séculos. E em 1640, os portugueses ao derrubarem o rei espanhol, fizeram-no convictos do seu nacionalismo, ainda que, segundo o direito da época, Filipe II fosse, em 1580, quem mais direitos tinha ao trono de Portugal, por morte ou desaparecimento de D. Sebastião.

As comunidades europeias surgiram como ideia para se evitar uma nova guerra na Europa, sendo no início tratados que se limitavam ao carvão, ao aço, à energia atómica, etc. Avançou-se depois, muito rapidamente, para uma união económica e monetária e para o esboço de uma união política, que nunca virá a concretizar-se. A agitação que, nos últimos dias, se tem verificado na Grécia é um prelúdio a confrontos mais graves que irão assolar o território europeu. Têm os Estados da União políticas externas distintas, interesses económicos diversos, populações etnicamente diferenciadas. Tudo o que pretender, como o pretende a globalização em curso, homogeneizar comportamentos e consumos, está condenado, a prazo, ao fracasso total.

Não há, infelizmente, na Europa, homens de génio que consigam prever e travar o desastre. Por isso, ou muito me engano, ou se caminha a passos largos para uma guerra civil europeia de contornos e consequências imprevisíveis.

3 comentários:

Anónimo disse...

O catastrofismo que tanto apraz ao autor do blogue condu-lo por vezes a previsões dificilmente sustentáveis. Julgo que a parcial alienação de soberania,presente aliás desde os primeiros tratados,é um dos elementos mais positivos para um continente "viciado" em guerras internas que só o enfraqueceram e facilitaram a eclosão das super-potências actuais e futuras. Ao contrário do século XX e anteriores,não se vislumbram agora germes de conflitos territoriais,religiosos,mesmo económicos a nível nacionalisttico.Graças a Deus,e aos pais fundadores da Europa presente. Claro que há crises,resultantes dos diferentes graus de desenvolvimento dos países,do cumprimento ou não das regras comuns,etc.,mas nada,parece-me que tenha a ver com "guerras civis". Isso já lá vai,graças aos Monnets,Schumans,Adenauers,De Gaulles,Delors e outros,que prepararam o terreno que agora podemos trilhar,com incidentes de percurso,certamente,mas sem guerras à vista Deixemos o catastrofismo para a ficção cinematogáfica e literária,onde é sempre benvindo...

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DAS 00:17:

Não estou tão certo do seu optimismo, caso contrário não teria escrito o que escrevi. É claro que uma discussão destas não cabe nas caixas dos blogues, mas as tensões larvares em toda a Europa, como já tive ocasião de escrever em posts anteriores, não prenunciam a atmosfera de paz e concórdia desejada pelo comentador. A ver vamos.

Anónimo disse...

Se ainda puder dispor de algum espaço neste variegado blogue,gostaria de esclarecer que não me considero émulo do dr. Pangloss,vendo e prevendo "paz e concórdia" em todo o lado,ou pelo menos no nosso continente. Claro que,como referi,existem e existirão dificuldades,controvérsias,crises várias. Mas não creio simplesmente que venham a assumir carácter de confronto militar ou "guerra civil",como prenunciam sinistramente as gotas de sangue com que ornamentou a bandeira azul. E repito a minha estimada citação do sábio Talleyrand:" Tout ce qui est excessif est sans portée".