sábado, 12 de junho de 2010

A GRANDE HUNGRIA


O Parlamento de Budapeste acaba de adoptar uma uma lei controversa que dá a possibilidade aos cidadãos de origem húngara a viver nos países vizinhos de obter a nacionalidade húngara. Esta disposição legal, que foi aprovada por esmagadora maioria, é um significativo sinal de que o Tratado de Trianon, assinado em Versailles em 1920, que pôs termo à Primeira Guerra Mundial e que privou a Hungria de uma parte dos seus territórios à época, continua a assombrar a Europa Central.

A medida agora adoptada abrange cerca de três milhões e meio de pessoas, que vivem principalmente na Roménia e na Eslováquia, mas também na Sérvia, na Croácia, na Ucrânia e na Áustria, e que poderão assim adquirir a nacionalidade húngara mediante a apresentação de um dossier embora não lhes seja concedido automaticamente o direito de voto.

Na Eslováquia, onde os cidadãos de origem húngara representam cerca de 10% da população de 5,4 milhões de habitantes, houve uma reacção imediata à aparição do espectro da "Grande Hungria". Nesse mesmo dia, os deputados eslovacos adoptaram também por esmagadora maioria uma lei sobre a dupla nacionalidade, privando da nacionalidade eslovaca os húngaros de origem que decidam adoptar a nacionalidade húngara. que ficarão igualmente proibidos de ocupar certos lugares na Eslováquia.  A lei adoptada em Budapeste foi mesmo considerada em Bratislava como uma ameaça à segurança nacional e um atentado á sua soberania. E a Eslováquia vai apresentar o caso à Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).

Depois dos fantasmas da Grande Sérvia e da Grande Albânia, os Balcãs e arredores continuam a discutir fronteiras, o que prova a leviandade com que foi redesenhado o mapa da Europa Central após a Primeira Guerra Mundial. E também após a Segunda. A procissão ainda vai no adro. A questão das fronteiras da Polónia e da Alemanha não se pode considerar encerrada. Tal como as da Roménia e da Bulgária. E não haverá União Europeia que nos valha!

1 comentário:

Anónimo disse...

O cocktail de populações,ancestralidades nacionais,talvez etnias,na Europa central,como nos Balkans,é tal,que não vejo que outros mapas e outros desenhos fronteiriços dessem melhores resultados. Pouco a pouco vai~se percebendo mais que um dos maiores desastres da I Guerra Mundial foi o fim do Império austro-húngaro que,tant bien que mal,ia aguentando o conglomerado de multiplicidades étnicas e religiosas dessas regiões,e até evoluia para melhores resultados (aproximando a situação dos eslavos dos privilégios húngaros) em 1914,com a aproximação da sucessão do venerável Imperador. Mas a "Furia Teutonica",como está escrito em pedra na Univerdidade de Lovaina,incendiada e destruída pelas tropas germânicas em 14,veio abolir todo esse equilíbrio,precário,mas talvez sustentável, como pretendia ainda o jovem Carlos III,exilado na Madeira,pràticamente deixado morrer à fome pelos seus compatriotas e pelos nossos republicanos,e cujo túmulo visitei na Igreja de N.Senhora do Monte. Continuo a recomendar ao autor do blog,como o fiz em comentário anterior,a leitura do livro do François Fejtö, "Requiem pour un Empire Defunt". Está lá o essencial.