sexta-feira, 23 de abril de 2010

TRÊS PRESIDENTES



  
A propósito do 36º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974, a RTP1 entrevistou os três primeiros presidentes da República eleitos segundo a Constituição de 1976.

O primeiro a ser ouvido foi Jorge Sampaio. Tratou-se de uma entrevista redonda, aliás como os seus discursos, embora tenha apreciado a sua opinião quanto às chamadas agências de rating, que classificou de tenebrosas. Já escrevi neste blogue o que penso dessas instituições, que se movem por obscuríssimos interesses, prosseguindo sinistros objectivos. Disse também Sampaio que não está satisfeito com a qualidade da nossa democracia.

Ramalho Eanes, que mantém o seu perfil de militar, retratou a situação do país. Para quem diga que virou "à direita", registo que manifestou a sua oposição a uma possível privatização da RTP, que considerou de imprescindível serviço público, ainda que regida por outras regras, e defendeu que esta deveria abdicar da publicidade e que as televisões privadas, que assumiriam a função, lhe deveriam pagar por essa privação de receitas. E que as promessas do 25 de Abril ficaram muito aquém de serem cumpridas

Mário Soares manifestou-se conta a privatização do que resta de empresas públicas, e criticou os partidos socialistas por não tererem reagido devidamente à onda de neo-liberalismo oriunda dos Estados Unidos no tempo de Bush.  (Eu recuaria a Tatcher e Reagan). Mas confirmou a sua confiança no futuro da União Europeia, a qual considera uma garantia para a manutenção das instituições democráticas nos países membros.

Todos manifestaram a sua preocupação pelo fosso abissal que separa as classes ricas das classes pobres, e que é dos maiores da Europa. A classe média, que sempre foi um sustentáculo da democracia, e dos regimes, está, em Portugal, em vias de extinção. É uma verdade indesmentível que os ricos estão cada vez mais ricos, os remediados quase pobres, e os pobres continuam pobres como dantes, à excepção dos que souberam utilizar os mecanismos que o novo regime lhes ofereceu.

Muito mais disseram os ex-presidentes, que não cabe neste comentário. E também não disseram muito do que poderia, e interessaria, ser dito, como, por exemplo, as suas responsabilidades relativamente à situação a que chegámos.  Responsabilidades deles, e dos governos que nomearam e que se moveram por interesses particulares e partidários e não pelo interesse nacional.

Claro que todos os governantes foram constrangidos por condicionalismos internacionais, o que, só por si, não justifica o estado em que nos encontramos. Haveria outras vias que não foram exploradas e outras pressões que não foram exercidas. Mas, de tudo isto se falará mais tarde. Este post não passa de um breve apontamento para registar a efeméride.

2 comentários:

Anónimo disse...

Talvez por lapso,indica que Eanes se oporia à "nacionalização" da RTP. Julgo que pretenderia dizer o oposto,tal como aliás Eanes afirmou.Apreciei a evocação da sua passagem pela RTP,que teve momentos muito dificeis dado o poder instalado de um conhecido partido que se julgava dono e controlador definitivo da estação. Eanes foi então muito ajudado e apoiado por alguém que teve a simpatia de mencionar,e que foi uma notável personalidade de cristão e humanista,o Eng. Sidónio Paes.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Tem toda a razão o Anónimo das 01:09. Queria dizer "privatização" e não "nacionalização". Já rectifiquei.