sexta-feira, 15 de maio de 2009

SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO


Luís Campos e Cunha, com quem muitas vezes não estou de acordo, escreve hoje no "Público", a propósito dos recentes incidentes no Bairro da Bela Vista, que há culpados (as quadrilhas de malfeitores) e responsáveis (os irresponsáveis que propiciaram o surgimento deste tipo de delinquência e que «são muitos e vêm de longa data: autarcas, educadores, urbanistas, ministros vários, desde os da educação, da justiça, da administração interna, até aos da defesa...».

Escreve o ex-ministro das Finanças: «A justiça, cada vez mais injusta, deixou de actuar em tempo e afastou o castigo do crime. Ou seja, não desincentivou actos ilegais e confirmou a (falta de) educação que receberam. Mas há mais responsáveis: ministros da defesa. Há uns anos, sem se medirem as consequências, acabou-se com o serviço militar obrigatório (SMO). Primeiro, esta medida foi vista como uma medida de esquerda e foi uma grande conquista das "jotas" dos partidos; no entanto, o SMO foi, historicamente, uma conquista da esquerda para evitar as guardas pretorianas. Quem não conhece a história faz destas coisas. Segundo, o SMO obrigava os recrutas a viverem um ano com regras estritas, com responsabilização e com punições imediatas correspondentes para os prevaricadores. Terceiro, as Forças Armadas eram a melhor escola de formação profissional. Ninguém saía sem um ofício e aprendia a viver com regras. O SMO poderia ser dispendioso mas uma análise social custo-benefício deveria amplamente justificar esses custos.».

Palavras sábias, as de Campos e Cunha. Só a inanidade dos políticos e a insanidade dos "jotas", contra quem Pacheco Pereira de há muito se vem batendo, permitiu a extinção total do SMO. Com o fim da guerra colonial, o SMO tinha sido, e bem, progressivamente reduzido, mas haveria que conservar um período mínimo que permitisse aos mancebos, para além do conhecimento mínimo da actividade militar, uma integração futura na vida civil. É claro que a abertura das Forças Armadas (FA) às mulheres veio colocar alguns, porventura muitos, problemas. Contudo, julgo, nada de irresolúvel, até porque suponho não virá longe o dia em que as FA, pelo menos na sua estrutura básica, voltem a ser um assunto de homens.

Dizia-se, ainda não há muitos anos, que o Exército (e por extensão a Armada e a Força Aérea) era uma escola de virtudes e, ainda que a expressão possa conter algum exagero, havia na tropa um sentimento de camaradagem, de solidariedade, de bons costumes que permaneciam para o resto da vida. Havia garbo em envergar uma farda e os militares, pelo seu aprumo, eram olhados com admiração

Ao mercenarizar as Forças Armadas os governos (os nossos e os de outros países) deram um passo atrás na educação cívica dos cidadãos, serviram interesses acaso obscuros, permitiram-se enviar os jovens para longínquos teatros de guerra que só teoricamente nos dizem respeito. Tudo isto com uma mítica Europa em pano de fundo.

Por isso, este artigo de Campos e Cunha constitui um contributo inestimável para a recolocação de várias questões. Uma das quais a do serviço militar obrigatório. E, quanto a esta, parece que a única resposta plausível é a seguinte: restabeleça-se o SMO. Já!

2 comentários:

Anónimo disse...

Eis um post sibilino talvez destinado aos "happy few" (e não "happy fews",como alguns blogueiros supostamente cultos citaram e se entre-citaram há dias)...

Anónimo disse...

As Forças Armadas, através da Marinha prestam hoje homenagem á Virgem de Fátima com a distinção habitual. Viva a tropa e o serviço militar